Um manuscrito norueguês datado por volta do século 13 foi entregue à Biblioteca Nacional da Noruega para ser analisado em busca de suas origens. Antes pertencente à fazenda Hagenes, o livro medieval contém oito páginas preservadas e teria vindo de um mosteiro no oeste da Noruega.
Com páginas feitas com pele de bezerro e capa a partir de pele de foca, o manuscrito contém cânticos religiosos escritos num estilo rústico de latim. O caráter católico do conteúdo o coloca na posição de livro raro, já que a maioria desse tipo acabaram sendo destruídas ou reaproveitadas com a mudança da Noruega para o protestantismo sob o domínio dinamarquês no século 16.
Por dentro dos pergaminhos
No início deste ano, um pequeno livro deteriorado chegou à Biblioteca Nacional da Noruega. Desde as suas primeiras inspeções, conservadores da instituição perceberam que se tratava de um objeto especial.
“Fizemos uma avaliação de conservação. Procuramos por danos ou mofo e verificamos quão estável o manuscrito está”, diz Arthur Tennøe, chefe do Departamento de Mídia Visual e Conservação da Biblioteca Nacional, em entrevista ao portal Science Norway.
Agora descrito como o manuscrito de Hagenes, os fragmentos de texto antigo foram escritos em pele animal, algo comum na época medieval. Porém sua encadernação de pele de foca, coberta de pelos, é atípica. Chiara Palandri, conservadora da biblioteca, comenta que observações vindas de pesquisadores de outros países apontam para uma produção nórdica, possivelmente norueguesa.
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O conteúdo das escrituras colaboram ainda mais para essa teoria: composições homenageando santos e dias festivos documentadas em latim e numa caligrafia rústica indicam que provavelmente elas foram produzidas no próprio país.
“É obra de um escriba habilidoso, mas com um toque local. Ele não está escrevendo para criar um símbolo de status, e sim porque alguém precisava dessas canções”, afirma o pesquisador Espen Due-Karlsen, responsável por examinar o texto do manuscrito em seus detalhes.
A fala de Due-Karlsen se associa ao fato de que o livro parece ter sido feito para uso prático. Pouco luxuoso e sem ornamentos complexos, ele foi definido pelos pesquisadores como “incrivelmente autêntico”, um volume ideal para um padre ou cantor levar para usar na igreja.
Resquícios do passado medieval
Além da peculiaridade de sua confecção, o manuscrito é considerado uma peça rara por conta da própria história da Noruega. Documentos da Idade Média são escassos no país devido à transição religiosa do cristianismo para o protestantismo a partir de 1537. Os pergaminhos católicos perderam seu valor na sociedade e passaram a ser reutilizados para encadernar novas obras.
“Temos pouquíssimos escritos desse período, e nossas pesquisas muitas vezes dependem de fragmentos de manuscritos. Quando soubemos que várias páginas manuscritas haviam sido entregues, ainda em sua encadernação original, foi inacreditável. Isso ampliará enormemente nossa base de conhecimento”, diz Åslaug Ommundsen, professora de latim medieval na Universidade de Bergen, em entrevista ao Science Norway.
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Para se ter noção da raridade do achado manuscrito de Hagenes, existem apenas outros dois livros noruegueses da mesma época. Um é o Saltério de Kvikne, que ainda mantém sua encadernação original, enquanto o outro é o Antigo Livro de Homilia da Noruega.
O próximo passo na inspeção do livro recém-chegado é uma análise de DNA para a determinação da idade dos materiais e das espécies de foca e bezerro utilizadas na confecção do livro. Se as peles forem de animais que viveram no país nórdico, a origem norueguesa dos escritos poderá ser confirmada.
(Por Fernanda Zibordi)

