Registros fósseis indicam que, no passado, as preguiças existiram em diversas partes do planeta, e em uma grande variedade de tamanhos – indo desde os pequenos exemplares trepadeiros até os gigantes terrestres, com quase 6 metros de altura. Dos mais de 100 gêneros já identificados, hoje só restaram dois, que se dividem em seis espécies.
Agora, um estudo inédito, conduzido por uma equipe internacional, que conta com dois brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), sugere que o declínio abrupto desse grupo pode ter sido um resultado direto do aumento da caça humana. Os resultados encontrados foram descritos em um artigo publicado na revista Science na última quinta-feira (22).
De acordo com os especialistas, a pressão humana sobre o território é responsável por desencadear uma série de extinções dos animais terrestres de grande porte. As pequenas preguiças arbóreas modernas teriam sobrevivido a esse período justamente por seu hábitat nas copas das florestas, além de seu comportamento de isolamento.
“As espécies de preguiças atuais são um pequeno remanescente de um grupo diverso da Era Cenozoica, composto principalmente por animais de grande porte”, escrevem os autores em um comunicado à imprensa. “Ao final do Pleistoceno, a maioria desses exemplares já estava extinta”.
Diversidade de preguiças
Para investigar a diversidade das preguiças e, assim, identificar quando, porque e onde ela entrou em colapso, os cientistas examinaram medições fósseis, sequências de DNA e proteínas, além de modelagem evolutiva avançada. Ao fazer isso, eles reconstruíram a sua história evolutiva nos últimos 35 milhões de anos.
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Ao todo, a equipe conseguiu traçar em detalhes 67 gêneros dos mamíferos. Com essa definição, eles verificaram as mudanças evolutivas no tamanho estavam relacionadas a certos fatores externos, como era o caso de habitat, dieta, clima, predação ou outras pressões ecológicas.
Dessa forma, os estudos demonstram que o habitat parece ter sido o fator de maior importância na formação da evolução do tamanho corporal. As primeiras preguiças eram grandes e pastavam no solo, enquanto algumas espécies mais tarde se adaptaram a viver em árvores e desenvolveram tamanhos corporais menores.
No entanto, as mudanças tanto no tamanho quanto na forma de viver das preguiças não ocorreram em linha reta. O tamanho da espécie aumentou ou diminuiu conforme o clima esquentava ou esfriava e conforme os ecossistemas mudavam de pastagens para florestas.
Estima-se que o bicho prosperou por dezenas de milhões de anos, exibindo a maior variedade de tamanhos corporais no Pleistoceno (que começou há cerca de 2,6 milhões de anos). Então, há cerca de 15 mil anos, a criatura passou por um declínio repentino e dramático.
Declínio dramático das espécies
Os pesquisadores relatam que o declínio não se correlaciona com nenhum evento climático importante conhecido. “A disparidade de tamanho aumentou durante o resfriamento climático do final do Cenozoico, mas as mudanças paleoclimáticas não explicam a rápida extinção das preguiças-gigantes”, observam os autores no estudo.
No entanto, esse processo coincide com a expansão dos humanos pelo território do continente americano. Isso reforça as hipóteses de que é bastante provável que a caça humana levou à extinção das preguiças maiores, de hábitos terrestres, enquanto as menores, relacionadas às criaturas atuais, escaparam subindo nas árvores.
(Por Arthur Almeida)