Desde a sua fundação, em 10 de Junho de 1935, a irmandade dos Alcoólicos Anônimos (AA), assim designada pelos seus integrantes, tem sido uma força vital de esperança e transformação para milhares de pessoas em todo mundo. No Brasil ela chegou em 1947, ao passo que, em Mato Grosso, o primeiro foi aberto em 1973. A Igreja Católica sempre apoiou e colaborou com este movimento de solidariedade e recuperação de dependentes de álcool, através da pastoral da sobriedade. São centenas de Paróquias no Brasil que abrem suas portas para os grupos dos Alcoólicos Anônimos.

No bojo celebrativo dos 90 anos de existência dessa irmandade, venho expressar minha sincera admiração e gratidão por essa entidade de caráter humanitário e fraterno, a qual vem produzindo abundantes frutos no campo da saúde mental, emocional e psíquica de seus seguidores. Ao longo dos anos convivi, nas comunidades por onde passei, com muitas pessoas que foram curadas e libertadas da dependência alcoólica nos grupos de A.A. Ajudei inúmeras pessoas, homens e mulheres, através do aconselhamento e direção espiritual, a quebrarem as suas resistências internas e buscarem ajuda nos Alcoólicos anônimos.

Muitos desses irmãos e irmãs superaram a dependência, dando um salto qualitativo em suas vidas, tornando-se pessoas felizes e alegres. Considero essa terapia grupal um método de tratamento seguro e eficaz, pois é baseada na irmandade resultante da partilha do sofrimento comum, ou seja, os membros dos Alcoólicos Anônimos demonstram aos outros como foram restaurados. Essa irmandade tem sido instrumento importante na ressocialização das pessoas e remédio salutar para a ressignificação do sentido da vida para muitas pessoas, porquanto o álcool é causa de violência doméstica e no trânsito, isolamento social e depressão.

A base técnica de Alcoólicos Anônimos é o princípio cristão segundo o qual o homem não pode ajudar-se a si mesmo a não ser ajudando os outros. Tem como plano de ação aquilo que os membros dos Alcoólicos Anônimos chamam de “autosseguro”. Essa mística do autosseguro é decisiva no restabelecimento da saúde plena da pessoa, isto é, do seu bem-estar físico, mental, emocional, social e espiritual. Centenas de homens e mulheres tiveram suas dignidades restauradas através dessa terapia singular e eficiente, sem a qual estariam irremediavelmente perdidos.

A sobriedade proposta nos grupos de Alcoólicos Anônimos tem sua fundamentação na Bíblia. Na primeira carta de Pedro está escrito: “Sede sóbrios e vigiai” (! Pr 5,8.). Portanto, a sobriedade, ensinada nessa irmandade, é uma virtude cristã que deve ser adquirida e construída ao longo da vida. O catecismo da Igreja Católica afirma que as virtudes cardeais são as bases que fundamentam todas as virtudes humanas e cristãs. São elas: Justiça, fortaleza, temperança e prudência. Ora, o cultivo da virtude da temperança conduz a pessoa humana a ter equilíbrio no pensar, no falar e no agir. Este comportamento se expressa na comida, na bebida e na diversão.

A temperança é a virtude que ajuda a frear e calibrar as palavras, pois as palavras ofensivas e agressivas contra as pessoas são como flechas venenosas que ferem e destroem as pessoas, algumas delas pessoas amigas.

Finalizo conclamando a todos para entoarmos juntos, neste ano de 2005, o “Te Deum” de ação de graças pelos 90 anos de Alcoólicos Anônimos no mundo. Ao mesmo tempo, quero reafirmar nosso apoio e solidariedade a esta benemérita irmandade, com altíssima finalidade humana e social. Essa colaboração sinérgica entre Alcoólicos Anônimos e a Igreja Católica, não só amplia o alcance do programa, como cria uma rede de apoio afetivo, espiritual e social na realização do objetivo comum que é recuperar e salvar vidas. O AA tem, por sua natureza, uma função integradora do ser humano.

Parabéns pelo 90 de Alcoólicos Anônimos no mundo e 52 anos em Mato Grosso! Oramos pela saúde e perseverança de todos os membros dessa irmandade! Deus abençoe a todos!

(*) Pe. DEUSDÉDIT M. DE ALMEIDA é padre na Catedral de Cuiabá.

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