DOM MÁRIO ANTÔNIO
Nosso amado Papa Francisco, neste Ano Jubilar da Encarnação, retornou à Casa do Pai, deixando-nos um legado profundo de fé, e de amor, sobretudo, misericórdia. A Igreja chora sua partida, mas exulta pela vida de um homem que, com humildade e coragem, traduziu o Evangelho em gestos concretos de proximidade e compaixão.
Desde aquela noite de 13 de março de 2013, quando apareceu pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro e pediu ao povo que rezasse por ele antes de dar sua bênção, sabíamos que estávamos diante de um pontificado singular. Francisco foi o primeiro em muitos aspectos: primeiro jesuíta, o primeiro latino-americano, o primeiro não europeu em mais de doze séculos. Sua eleição não foi apenas um marco histórico, mas também um sinal da ação viva do Espírito Santo na condução de uma Igreja em saída, verdadeiramente missionária.
Francisco ” primeireou “! E nenhum desses títulos podem definir o primeiro papa a visitar o Iraque, a abrir uma Porta Santa em uma penitenciária, a rezar sozinho na Praça São Pedro vazia em meio à pandemia, a proclamar um ano dedicado a São José, a convocar um Jubileu centrado na misericórdia e outro voltado a peregrinação e esperança. Mas do que feitos, o que marcou seu pontificado foi o espírito com que os realizou, caminhando com todos, sem ignorar os pobres e atento as periferias existenciais.
Sua primeira encíclica, Lumen Fidei, elaborada a partir do trabalho iniciado por Bento XVI, já indicava a direção que tomaria: a fé como luz capaz de vencer as sombras da morte e abrir-nos à vida plena em Deus. Essa mesma fé foi vivida por Francisco até o fim, com esperança e ternura, nas suas exortações apostólicas e encíclicas: Laudate Deum , um apelo as pessoas sobre a crise climática, a Laudato Si , sobre os cuidados com a casa comum e a Evangeli Gaudium , um convite para testemunhar o evangelho com alegria.
Essa fé do Pontífice me alcançou de modo pessoal. Encontrei o Papa Francisco em mais de três oportunidades: num dos encontros com o Papa Francisco, confiando o ministério que hoje exerço com zelo, amor e gratidão. A confiança do Papa permanece como um apelo diário à fidelidade e ao serviço, pois até me disse: Bispo, Metà Metà , (bispo, metade metade), disse-me ele ao me encontrar semanas antes de assumir a missão de governar a Igreja em Cuiabá. Na oportunidade, entendi. Metade em Roraima, metade em Cuiabá, já que ele sabia de meu sim para essa missão que completará 3 anos no próximo mês de maio.
Papa Francisco nos ensinou a ver o mundo com os olhos de Cristo: olhos que não condenam, mas acolhem; que não impõem, mas propõem; que não se fecham à dor do outro, mas se movem à compaixão. E agora que ele fez sua Páscoa?
Agora, seguimos confiantes, silenciosos, agradecidos e na esperança que ele sempre anunciou e testemunhou. A esperança que transforma a dor da despedida na certeza da ressurreição. A esperança que nos lembra: a última palavra é sempre de Deus, e essa palavra é amor que gera vida.
Seguimos firmes, em oração, certos de que o Espírito guiará a Igreja na escolha de um novo sucessor de Pedro, em sinodalidade, caminhando juntos, e agradecendo a Deus pela vida, vocação e missão de Francisco, pedindo que o acolha em Sua luz eterna e no Reino do Cristo Bom Pastor. Continuemos a rezar pelo Papa Francisco, que muito nos amou, e o amaremos sempre.
(*) DOM MÁRIO ANTONIO é Arcebispo Metropolitano de Cuiabá.
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