Desde 1954, quando o arqueólogo Kamal el-Mallakh conduziu escavações no sul da Grande Pirâmide de Gizé, no Egito, sabe-se dois navios foram escondidos em poços selados com blocos de calcário logo abaixo da imponente construção. Agora, mais de meio século depois, os pesquisadores parecem ter chegado a algumas hipóteses da composição desses veículos aquáticos.

Conhecidos como “Barcos de Quéops”, os veículos possuem cerca de 43 metros de comprimento e lembram as míticas “barcaças solares” do deus-Sol Rá, em suas viagens diárias pelo céu. A teoria principal para a sua existência é que elas faziam parte do ritual funerário do faraó Quéops, enterrado sob Gizé.

Assim como tantos outros governantes do Egito, Quéops era visto como uma figura que, depois de morta, “renasceria” como o avatar de uma divindade. Desta forma, as embarcações reservadas na pirâmide ajudariam o líder político e espiritual a passar pelo árduo processo de pesagem do seu coração e transformação em Rá.

Por dentro dos misteriosos barcos

De acordo com uma análise publicada na quinta-feira passada (3) na revista Applied Sciences, os barcos foram construídos a partir de madeira de cedro libanês importada. O material parece ter sido escolhido em razão de suas “boas propriedades mecânicas, durabilidade aprimorada e características hidrofóbicas”, como descrevem os autores no artigo.

Quando el-Mallakh descobriu os navios pela primeira vez, eles foram desmontados de propósito, com os vários componentes cuidadosamente empilhados dentro dos poços subterrâneos. Levou mais de um ano e meio para remover todas as 1.224 peças do primeiro barco.

A estrutura foi meticulosamente reconstruída e colocado em exposição no Museu do Barco Solar em Gizé, antes de ser realocado para o Grande Museu Egípcio em 2021. O segundo barco, por sua vez, foi mais desafiador de se recuperar, e permaneceu selado em seu poço original até 2009.

Hoje, com ambos os barcos solares remontados, os pesquisadores ganharam novos insights incríveis sobre a habilidade dos antigos construtores navais egípcios. Percebeu-se, por exemplo, que eles foram construídos sem usar um único prego.

Suas enormes tábuas de madeira foram precisamente trabalhadas para se encaixarem como as peças de um quebra-cabeça. Uma extensa rede de amarrações ajuda a unir os vários componentes, além de manter a vedação.

Impacto histórico

Tendo em mente que Quéops reinou de 2589 a 2566 a.C., a tecnologia por trás das embarcações parece ainda mais sofisticada, lembra o site IFLScience. Usando apenas ferramentas de cobre e sílex, os trabalhadores que construíram as barcaças foram capazes de alcançar resultados dos quais até mesmo os construtores navais modernos ficariam orgulhosos.

Com cerca de 4.500 anos de idade, os navios solares remontados são os barcos intactos mais antigos conhecidos no mundo, e embora ninguém esteja planejando testá-los, acredita-se que eles ainda seriam capazes de navegar hoje se lançados na água. Se eles foram ou não destinados a viajar em qualquer um dos cursos de água do Egito, no entanto, ainda é uma incógnita.

(Por Arthur Almeida)