No início de janeiro, a ONG britânica Worldwide Vets publicou em suas redes sociais imagens chocantes de uma girafa (Giraffa camelopardalis) coberta por enormes caroços em seu rosto, pescoço e tronco. De acordo com os especialistas, o animal, residente do Parque Nacional Kruger, na África do Sul, provavelmente sofre com um quadro de infecção pelo papilomavírus bovino (BPV) – o qual pertence à mesma família do HPV, que atinge os seres humanos.
“Observar girafas afetadas por esses tipos de vírus ainda é uma ocorrência bastante nova e rara”, explica Gemma Campling, veterinária-chefe da Worldwide Vets, ao site Live Science. “Temos poucos casos para analisar. Então, é difícil dizer se a girafa vai se recuperar eventualmente”.
Em 2007, no mesmo Parque, pesquisadores já haviam relatado a existência de duas girafas com “lesões extensas” semelhantes às vistas em cavalos infectados com BPV. Coletas de DNA confirmaram a doença e, de forma a evitar que a infecção se espalhasse entre o resto da população local, ambas foram sacrificadas.
Para além da suspeita de BPV, a ONG ainda sugere uma infecção pelo papilomavírus Giraffa camelopardalis 1 (GcPV1). Mais rara, esta variante foi originalmente descoberta em 2017, e ainda se sabe muito pouco sobre ela. Nenhuma das duas hipóteses foi confirmada ainda.
Como se deu a infecção?
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/A/9/WZ9BYzTceznBLc2osaBQ/472461134-18438489454073641-1949354774210283449-n.jpg)
Os pesquisadores ainda não têm certeza sobre como a girafa foi infectada pelo vírus. “Geralmente, exemplares desta espécie não têm muito contato físico direto uns com os outros, então é mais provável que fômites [agentes que carregam e ajudam a espalhar a infecção para um novo hospedeiro] sejam responsáveis pela disseminação”, afirma Campling.
Pássaros pica-boi e carrapatos podem ter desempenhado esse papel, por exemplo. As aves removem parasitas enterrados profundamente na pele de bovinos e, por vezes, comem tecido cru de animais com cascos, como as girafas. Indo de bicho em bicho, com sangue contaminado em seus bicos, eles potencialmente podem espalhar os vírus pelo ecossistema.
Sintomas e tratamento
Nas girafas, os papilomavírus causam lesões escamosas na pele que se espalham ao longo do tempo, às vezes se fundindo em massas maiores. “Os caroços crescem e se rompem, deixando uma área ulcerada que forma crostas. Isso torna mais fácil para a doença se espalhar, pois a pele já está rompida”, conta Campling.
Em alguns casos, o quadro pode interferir no movimento e na alimentação do animal. Naqueles mais agravados, o espécime pode ainda sofrer com infecções secundárias, possivelmente fatais.
Ainda não se conhece um tratamento específico para lidar com a infecção nesses grandes mamíferos. No entanto, os registros indicam que, às vezes, as lesões podem regredir espontaneamente, levando à recuperação.
Sobre o avistamento mais recente, a girafa em questão não parece ter suas capacidades de alimentação ou visão debilitadas. Isso sugere que ela provavelmente viverá uma vida normal, apesar de sua condição. A administração do Parque optou por não a sacrificar, uma vez que o patógeno é conhecido e não está se espalhando rápido.
(Por Arthur Almeida)