Até o momento, 11 corpos já foram localizados em cemitério clandestino, na Vila Goulart, em Rondonópolis (218 quilômetros ao sul de Cuiabá), durante a última semana. Após a retirada das ossadas, é realizado um trabalhoso processo da perícia para constatar as identidades dessas vítimas. Todavia, por enquanto, apenas duas ossadas têm identificação: Carla Bruna da Silva Lima,35, e Luiz Otávio de Souza, 25.

Como o Instituto Médico Legal (IML) de Rondonópolis não possui as tecnologias necessárias para identificar essas vítimas, os corpos são encaminhados até Cuiabá, onde passam pelo procedimento adequado.

Para a  reportagem, a papiloscopista Simone Delgado explicou como é realizado esse processo de identificação dentro do IML.

“Um dos métodos utilizados é o Sistema Automatizado de Busca de Impressões Digitais(ABIS), avanços de técnicas de coleta através de tratamentos químicos, quando o cadáver chega em fenômenos cadavéricos que ocorrem após a morte, cadáveres decompostos, carbonizados, a gente utiliza técnicas avançadas hoje em dia para tentar recuperar aquela impressão digital pela degradação do tecido”, relatou.

Para que os corpos sejam liberados pelas famílias é necessário que sejam identificados por meios técnicos. “A necropapiloscopia, o exame de DNA e a arcada dentária, são os únicos métodos oficiais, que identifica a pessoa oficialmente. Esses métodos são preconizados internacionalmente e recomendados pela Interpol”, explicou.

Ainda que esses corpos cheguem ao IML apresentando apenas o esqueleto, é possível a identificação através das impressões digitais.

“O exemplo que nos tivemos no cemitério clandestino de Lucas do Rio Verde mostra isso, 4 corpos foram identificados pela impressão digital, mesmo chegando em avançado estado de decomposição. Porque é o papiloscopista que vai fazer uma análise minuciosa para perceber se tem pele ali”, pontuou.

Por vezes, mesmo que haja somente a ossada, a identificação por arcada dentária é mais complicada, devido à necessidade de que a vítima tenha realizado algum exame odontológico anteriormente.

“Nesses casos é necessário que família venha até o IML com o exame odontológico da pessoa, para fazer a comparação e constatar se é ela mesma. Nesses casos, tem que ter um nome provável para que o exame seja solicitado para um familiar”, explicou a técnica de necropsia, Lowrrayny Franchesca.

Simone destacou a importância de identificar essas vítimas, pois é somente depois de saber quem é aquela vítima se torna possível o andamento das investigações.

“A gente faz a identificação para provar a materialidade daquele crime. A identificação dá um norte para investigação criminal. Porque quando possui um inquérito aberto com um cadáver sem identificação, a investigação fica sem rumo, fica arquivado. Com a identificação, é possível reabrir aquele inquérito que, por vezes, é antigo”, finalizou.

Somente este ano, 23 corpos foram encontrados em cemitérios clandestinos usados por facções criminosas no estado. Um deles em Rondonópolis, onde 11 corpos foram achados, e o outro em Lucas do Rio Verde. Até o momento, apenas parte das vítimas foram identificadas.

A delegada Karla Peixoto, titular da Delegacia de Homicídios (DHPP) e responsável pela investigação, pediu que a população faça denúncia, mesmo que seja anônima, para o telefone 197. Tão logo receba a sugestão, a Polícia Civil designa equipe para investigar a pista apresentada.

Karla Peixoto assegurou que foi realizada uma “varredura” na região da Vila Goulart e que não há mais corpos, nas imediações. Contudo, a titular da DHPP não descartou a possível existência de outros cemitérios clandestinos, em Rondonópolis.

(Fonte: Gazeta Digital)

Delegada Karla Peixoto, da DHPP de Rondonpólis, é a responsável pelo comando da investigação. (Fotos: Reprodução TVCA)