No sítio arqueológico de Motza, nas colinas de Jerusalém, pesquisadores descobriram uma tumba que remonta ao período Neolítico B Pré-Cerâmico (7.100 a 6.700 a.C.). Investigado entre 2018 e 2020, o local escondia os restos mortais de uma jovem do sexo feminino, que pode ter tido um papel espiritual significativo em sua comunidade, possivelmente atuando como uma xamã, ou líder espiritual.
A sua análise anatômica sugere que a mulher tinha mais de 15 anos na época de sua morte e seis dedos na mão esquerda. Em inúmeras culturas antigas, uma característica como essa era considerada uma marca de distinção e um sinal de ser escolhida pelos deuses para desempenhar um papel místico importante.
Objetos funerários encontrados ao lado da mulher, incluindo colares de pedra verde e joias de madrepérola, reforçam a hipótese de seu destaque dentro da sociedade neolítica. Os detalhes observados no espaço foram descritos em um artigo publicado no final de 2024 na revista Atiqot.
Bens funerários
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Diversos sepultamentos foram descobertos dentro de casas, sob os pisos e perto das paredes dos edifícios. A maioria dos indivíduos foi enterrada com decorações, como pulseiras de pedra, pingentes e contas feitas de materiais exóticos, como alabastro e pedras verdes.
Segundo os pesquisadores, que conversaram o portal grego Enikos, as pulseiras de pedra encontradas em algumas sepulturas estão associadas a rituais de transição entre a vida e a morte. Acredita-se que as crianças usavam esses trajes até a adolescência e que, ao atingirem uma certa idade, participavam de uma cerimônia de iniciação, semelhante aos ritos de passagem modernos, como o Bar e o Bat Mitzvah, na tradição judaica.
Como o próprio achado parece revelar, aqueles jovens que morriam antes da idade adulta eram enterrados com as pulseiras simbólicas que usavam desde a infância. Assim, elas podem ser encontradas intactas em suas mãos.
Por dentro dos rituais antigos
O Neolítico é considerado como um ponto de virada na história da humanidade. Durante essa era, as pessoas abandonaram o estilo de vida nômade e criaram grandes assentamentos, desenvolveram novas tecnologias e domesticaram plantas e animais.
Tais inovações, além de transformarem a economia, também definiram seus sistemas de crenças e rituais. Estudiosos sugerem, por exemplo, que os rituais desses povos eram realizados em grandes edifícios designados para esse propósito, e muitos deles tinham uma forte conexão com a água.
Em cada um dos edifícios escavados, foram encontradas instalações de coleta de água em gesso ou elas estavam localizadas perto de fontes naturais de água. Essas descobertas novamente reforçam a noção de que a água desempenhou um papel crucial nas cerimônias religiosas e na organização social dos humanos.
“A descoberta do antigo túmulo da xamã em Motza oferece novas evidências sobre o mundo espiritual das comunidades que viveram cerca de 10 mil anos atrás, e sobre quão complexas e ricas eram suas crenças culturais”, explica Eli Escusido, diretor da Autoridade de Antiguidades de Israel, ao Enikos. “Objetos pessoais, como joias e artefatos rituais, nos ajudam a descobrir os sistemas de percepção, classes sociais e papéis sociais da época”.
(Por Arthur Almeida)