Durante as escavações no sítio arqueológico de Rašaška, na Croácia, pesquisadores encontraram um túmulo com características bem peculiares. O esqueleto apresentava ossos fora de lugar, e grandes pedras haviam sido posicionadas próximas ao crânio e aos pés. Esses indícios sugerem que o sepultamento pode ter seguido um ritual ligado ao “medo do vampirismo“.

Segundo os especialistas, essa descoberta é mais uma prova de como a crença em “vampiros” se manteve viva na Europa ao longo dos séculos.

O sítio arqueológico de Račeša foi descoberto em 2011, durante uma pesquisa no assentamento Bobare, uma área historicamente ocupada por ordens militares, cavaleiros e membros da nobreza.

Ao longo das escavações, foram identificados mais de 180 túmulos datados entre os séculos 13 e 16. No entanto, o novo sepultamento, rotulado como número 157 e descoberto em 2024, chamou atenção dos pesquisadores por apresentar um esqueleto com os ossos deslocados.

Foto superior da sepultura, que mostra a disposição dos ossos no túmulo — Foto: Milica Nikolić
Foto superior da sepultura, que mostra a disposição dos ossos no túmulo — Foto: Milica Nikolić

Ele foi descoberto abaixo do piso de uma igreja, sem nenhum objeto funerário — algo comum nos outros enterros do assentamento. A equipe se intrigou principalmente com a presença de grandes blocos de pedra e com o crânio, que estava posicionado a cerca de 30 centímetros de distância dos demais ossos.

Além disso, o esqueleto apresentava o tórax virado para baixo, um grande tijolo encontrado entre as pernas e uma enorme pedra posicionada sob a cabeça.

Os restos mortais tinham marcas de violência — Foto: Nataša Šarkić
Os restos mortais tinham marcas de violência — Foto: Nataša Šarkić

Os restos mortais foram identificados como pertencentes a um homem de 40 a 50 anos, com sinais evidentes de trabalho físico na coluna e membros inferiores. Análises revelaram também uma série de ferimentos, sendo alguns ocorridos meses antes da morte, outros durante a vida.

Havia ainda duas lesões na parte de trás cabeça que parecem ter sido a causa do óbito. “Embora tenha sido originalmente sepultado conforme a doutrina cristã, seus restos mortais foram posteriormente deslocados e reorganizados de forma incomum. Sua cabeça foi removida do corpo, e o tórax colocado em uma posição invertida”, descreve Nataša Šarkić, antropóloga responsável pelas investigações, ao portal sérvio Sve o Arheologiji (em português, “Tudo sobre Arqueologia”).

“Esse tipo de sepultamento era geralmente reservado para aqueles considerados indesejáveis pela sociedade. Ou seja, pode ser interpretado como uma forma de punição“, acrescenta Šarkić.

Vampirismo

O conjunto de evidências mostra que esse é um caso do fenômeno arqueológico chamado de “enterros de vampiros”. Segundo informações do Sve o Arheologiji, na crença eslava medieval, a alma não abandonava o corpo imediatamente após a morte: ela só se libertava quando o corpo estava completamente decomposto, o que acontecia cerca de 40 dias depois do falecimento.

Contudo, se a pessoa morreu de maneira violenta, era considerada pecadora ou não recebeu um sepultamento adequado, havia o risco de que ela se transformasse em “vampiro” durante esse período, podendo assim voltar para assombrar os vivos.

A aparência dos vampiros medievais, portanto, não se parecem nem um pouco com os vampiros que vemos em filmes e séries hoje em dia. “Ao contrário dos vampiros aristocráticos conhecidos por sua pele pálida e figuras esbeltas, os vampiros do folclore dos Bálcãs eram frequentemente descritos como inchados, com unhas longas e com uma pele avermelhada ou escura”, disse Sarkić, em entrevista ao portal Live Science. “Portanto, qualquer cadáver em estágio avançado de decomposição pode se assemelhar a um ‘vampiro'”, disse ela.

Além disso, o vampirismo carregava um peso social. Pessoas marginalizadas ou consideradas “impuras” eram tidas como possíveis vampiros. Até mesmo traços físicos que causassem preconceito podiam fazer com que alguém fosse visto como capaz de voltar como uma entidade sobrenatural.

Segundo os pesquisadores, esse medo do vampirismo pode justificar por que se interferia no enterro – algo que, normalmente, seria evitado por causa das grandes implicações sociais e espirituais de passagem.

(Por Redação Galileu)