Em 2010, um morador da região de Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, surpreendeu a comunidade médica local com um misterioso quadro clínico. Quando o homem, na época com 28 anos, foi atendido pela primeira vez, ele afirmou que suas mãos aumentaram de tamanho e que ele tinha desenvolvido uma marcha anormal e dor no quadril.
O curioso caso foi acompanhado de perto pelos pesquisadores, que conduziram exames e controlaram o tratamento do paciente até 2015, quando ele parou de ir às consultas. O material foi suficiente para produzir um artigo sobre o assunto, publicado em julho de 2016 no periódico especializado Journal of Bone and Mineral Research.
Diagnóstico
Segundo o site Live Science, que relembrou o caso nesta quarta-feira (22), logo que o paciente foi internado, os médicos notaram que as massas ósseas de seus membros haviam mudado e, com isso, seus dedos tinham, de fato, expandido. A constatação serviu para explicar a postura curvada do homem e a sua dificuldade em andar ou mover seus braços normalmente.
Além disso, por meio de coletas de sangue e urina, atestou-se que ele apresentava níveis de flúor muito elevados. Tais resultados ajudaram os especialistas a chegarem ao diagnóstico raro de uma condição conhecida como fluorose esquelética.
Considerada como uma doença crônica metabólica dos ossos e das articulações, ela é causada pela exposição prolongada a altos níveis de flúor, presente na água ou mesmo dentro de alimentos de áreas endêmicas. Se não tratada, a doença pode levar a uma imobilização do esqueleto axial e de suas extremidades.
De acordo com o National Institutes of Health (NIH), uma autoridade de saúde dos EUA, os efeitos colaterais da condição são uma combinação de osteosclerose (endurecimento do osso), osteomalacia (desmineralização) e osteoporose (perda de massa óssea) de vários graus. Alguns casos podem ser tão graves, que ainda evoluem para exostose (crescimentos ósseos anormais) e lesões.
Como o paciente adquiriu a doença?
A exposição a níveis seguros de flúor reduz o risco de cáries dentárias. É por isso, inclusive, que esse elemento é adicionado à água da torneira em muitos países ao redor do mundo, como no próprio Brasil.
No entanto, quando ingerido em quantidades muito grandes, esse mesmo flúor se torna uma toxina cumulativa, que lixivia o cálcio dos ossos, alterando sua estrutura. Enquanto a densidade óssea aumenta nos estágios iniciais desta doença, mais tarde, os ossos tendem a se tornar quebradiços e menos elásticos.
Durante investigações do caso do paciente, descobriu-se que os níveis de flúor no suprimento de água da sua cidade estavam “aceitáveis”. Com essa hipótese descartada, os médicos voltaram a visitar livros e periódicos até acharem um relato de sintomas muitos semelhantes, no qual o paciente havia desenvolvido o problema após inalar “spray de pó” enlatado usado para limpar computadores.
Com a nova suspeita, os médicos questionaram o homem, que confirmou cheirar regularmente um limpador de computador há mais de três anos para ficar chapado. O difluoroetano, o ingrediente ativo de vários produtos de limpeza de computador, é metabolizado pelo corpo em um composto fluorado.
Tratamento
Descoberta a causa da intoxicação por flúor, o homem parou de abusar dos aerossóis cerca de cinco meses após seu primeiro exame. Passados mais seis meses, sua função do quadril havia melhorado muito e ele já conseguia andar quase normalmente.
O paciente voltou para visitas periódicas aos médicos por cinco anos, entre 2010 e 2014. Nesse período, ele andava melhor e conseguia se exercitar regularmente.
Embora não haja mais registros do caso a partir de 2015, quando ele deixou de comparecer às consultas, a equipe concluiu que interromper a ingestão de flúor em excesso basta para aliviar gradualmente os sintomas da fluorose esquelética.
Para os autores do estudo, compreender que a doença poderia ser causada pela ingestão do material de latas de ar comprimido, utilizadas como droga recreativa por algumas pessoas, foi essencial. Muitos outros casos deste tipo podem ocorrer pelo mundo e, agora, mais profissionais serão capazes de reconhecer as suas características particulares.
(Por Arthur Almeida)