Muito se sabe sobre o fim da era dos dinossauros, processo desencadeado pela queda de um enorme asteroide na Terra. No entanto, o mesmo não pode ser dito a respeito da ascensão desses grandes répteis, que ainda apresenta uma série de lacunas.
Foi pensando nisso que uma equipe de pesquisadores desenvolveu o que o parece ser o maior estudo já feito sobre fezes e vômitos fossilizados (também conhecidos como “coprólitos”). Segundo os responsáveis, suas descobertas lançam nova luz à dieta dos dinossauros, fator essencial para que eles dominassem o planeta.
Ao todo, mais de 500 amostras de material digestivo de aproximadamente 230 milhões de anos foram analisadas. As amostras vêm, sobretudo, da região centro-sul da Polônia. Os resultados dos experimentos foram detalhados em um artigo para a revista científica Nature publicado na quarta-feira (27).
“Todas as amostras continham resíduos de alimentos não digeridos”, explica Entra Qvarnström, autor do projeto, à NPR. “Uma escama de peixe aqui, um inseto ali — cada excremento era uma pequena janela para o que estava no menu. Assim, tornou-se possível reconstruir toda a teia alimentar do período em que os dinossauros chegaram ao poder”.
Estudo dos coprólitos
As amostras de cocô e vômito foram exaustivamente analisadas por uma equipe de pesquisa de mais de uma dúzia de cientistas. Tal processo empregou diversas técnicas avançadas, que incluíram desde tomografias computadorizadas para criar modelos 3D do material, até exposições a um acelerador de partículas síncrotron para sondar cada pedaço de excremento a nível molecular.
Os testes indicaram que, diferentemente de outros animais do período, os quais tinham sua alimentação focada em uma única fonte de energia, os dinossauros comiam de tudo. Dentro dos fósseis percebeu-se a presença de resíduos não digeridos completamente de insetos, como besouros, e ossos de animais vertebrados, como peixes.
Vale salientar que a ascensão dos dinossauros ocorreu no final do Triássico, marcado pela separação do supercontinente Pangeia, surgimento dos oceanos e forte atividade vulcânica. Assim, para dizer o mínimo, os ecossistemas existentes estavam sofrendo com intensos processos de desequilíbrio.
Neste contexto, uma variedade de dieta aparece como uma grande vantagem evolutiva, pois facilita a adaptação das espécies a um ambiente em constante mudança. Isso explicaria como os grandes répteis conseguiram assumir uma posição de dominância em tão pouco tempo – apenas 30 milhões de anos.
“Com nossos resultados, espero que possamos convencer nossos colegas de que as fezes não são apenas materiais para boas piadas, mas também altamente interessantes para reconstruir antigas teias alimentares”, afirma Qvarnström, ao blog Science Focus, da BBC. “Todos caçam esqueletos fossilizados, mas são os coprólitos que mais contam sobre os dramas de milhões de anos atrás”.
(Por Arthur Almeida)
Pesquisadores usaram fezes fossilizadas, conhecidas cientificamente como coprólitos, para aprender mais sobre como os dinossauros dominaram a Terra — Foto: Grzegorz Niedźwiedzki