O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou Donald Trum pela vitória na eleição americana e disse que o mundo precisa de “dialogo e trabalho conjunto”.

Lula sempre demonstrou predileção por Kamala Harris. Na última sexta-feira, o presidente chegou a dizer que estava “torcendo” para a democrata ganhar. Há dúvidas se essa declaração, dada em entrevista ao canal francês TF1, poderá afetar o humor de Trump nas relações com o Brasil.

— Como eu sou amante da democracia, acho que é a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir para bem governar nosso planeta, eu obviamente fico torcendo para Kamala Harris ganhar as eleições — afirmou.

Perguntado sobre o resultado da eleição nos EUA, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as declarações de Trump, durante a campanha, causaram apreensão nos mercados. Mas Haddad afirmou acreditar em moderação no discurso do presidente eleito.

— O dia amanheceu mais tenso no mundo, em função do que foi dito na campanha. Mas entre o que foi dito e o que vai ser feto, a gente já viu no passado, as coisas não se traduzem como foram anunciadas. O discurso pós vitória foi mais moderado, então temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa — ressaltou o ministro.

Haddad disse que é preciso ver os desdobramentos do governo Trump a partir do ano que vem, pois “muito do que foi dito na campanha pode ser moderado depois”. Acrescentou que é difícil dizer se a vitória do republicano vai ter impacto político no Brasil, pelo fato de as eleições presidenciais nos dois países não acontecerem ao mesmo tempo.

—A vida trata de corrigir algumas propostas mais exacerbadas. Existe um fenômeno crescente da extrema direita no mundo, mas isso não é de agora, vem acontecendo desde 2016 — afirmou.

Nas palavras de um interlocutor da área econômica, a volta de Trump à Casa Branca “vai ser um desastre”. Conforme O GLOBO mostrou no último sábado, entre as preocupações do governo Lula, uma delas é a proximidade de Trump com o bolsonarismo. Projetos de interesse do Brasil poderiam ser afetados por influência de membros da oposição brasileira com acesso ao republicano. Um deles seria Eduardo, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro e deputado federal pelo PL de São Paulo.

Um integrante do governo brasileiro disse que o Brasil buscará manter boas relações com os EUA. Os dois países têm uma agenda “histórica e densa”, e não seria a troca de mandatário que acabaria com o pragmatismo que sempre houve. Além disso, a expectativa é que a América Latina se torne ainda menos prioritária para a Casa Branca, que se voltará ainda mais para outras regiões, como Oriente Médio e Ásia.

No entanto, a avaliação de técnicos da área econômica é que a economia brasileira poderá ser afetada negativamente. Trump prometeu aumentar as tarifas de importação a níveis elevados para proteger os produtores nacionais e reduzir impostos domésticos, alimentando a inflação, os juros e o protecionismo americano, com consequências para o Brasil e outros países em desenvolvimento.

Como fez em seu primeiro mandato, Trump deve trabalhar para conter o avanço da China no comércio internacional. E a imposição de tarifas pesadas sobre os produtos chineses, em um momento em que a economia do país asiático enfrenta dificuldades, também teria impacto sobre o real, com a redução da demanda por bens brasileiros. A China é o maior parceiro comercial do Brasil.

Sob o ponto de vista multilateral, existe o temor de retrocesso dos EUA em questões como medidas para combater o aquecimento global, a taxação dos super ricos e o combate à fome e à pobreza. O atual presidente americano, Joe Biden, poderá até dar aval a essas propostas na reunião de líderes do G20, este mês, no Rio de Janeiro. Mas suas posições tendem a cair no vazio, com uma possível reviravolta a partir do ano que vem.

(Eliane Oliveira)