Se um dia você for visitar o Museu Baleeiro de Bedford, em Massachusetts, nos Estados Unidos, recomendamos fortemente que você não use suas roupas favoritas, pois é possível que você saia de lá com suas peças respingadas de óleo. Não entendeu? Deixa que a gente explica.

Especialistas do Museu de Bedford anunciaram ao canal de televisão CBS que um dos esqueletos de seu acervo continua a escorrer o óleo, mesmo depois de duas décadas e meia desde a morte do animal. O exemplar pertence a uma baleia-azul (Balaenoptera musculus) macho de 4 a 6 anos, que recebeu o nome de KOBO (sigla em inglês para “Rei do Oceano Azul”).

Esse óleo existe naturalmente dentro da medula das baleias e serve tanto para manter a sua flutuabilidade na água quanto para reservar energia, explica a revista Popular Science. Durante muitos anos, esses animais foram caçados pelos seres humanos justamente para a exploração comercial do seu óleo, o qual era utilizado na produção de sabão, lubrificante, margarina e até mesmo explosivos.

Cura dos ossos

De acordo com a instituição, a baleia foi morta quando emergiu perto da Nova Escócia, em março de 1998, durante uma forte tempestade. O animal foi atingido na mandíbula pela hélice de um navio petroleiro e, em seguida, colidiu com outra embarcação, a qual, sem saber, a carregou até a Baía de Narragansett, em Rhode Island, onde foi identificada e rebocada para a costa.

Em terra, ficou a cargo do Museu fazer a limpeza do material para sua posterior exposição. O processo de cura da carcaça de 20 metros foi coordenado pelo biólogo Andrew Konnerth e contou com dezenas de voluntários, que ajudaram a separar a carne dos ossos.

Seções da carcaça foram colocadas em 22 gaiolas especialmente construídas e submersas por cinco meses no porto de New Bedford, onde a vida marinha continuou o processo de limpeza. Os ossos foram então entregues ao pátio do museu para higienização, secagem, branqueamento ao sol e avaliação de danos.

“Foi feito um bom trabalho na limpeza dos ossos”, disse Bob Rocha, curador do museu à CBS. “Mas nem todo o óleo foi retirado”. Por isso, os ossos continuam a vazar mesmo depois de tanto tempo.

Como lidar com o pinga-pinga?

Dado que o exemplar foi posicionado no teto do museu, onde os pingos poderiam cair no chão e na cabeça dos visitantes, a organização precisou encontrar formas de evitar acidentes. Segundo o site IFLScience, isso foi feito a partir da criação de um sistema de coleta que direciona o óleo dos ossos para um frasco.

Além de ser uma solução para o problema, o instrumento permite monitorar a quantidade de líquido despejado e dá nova perspectiva da peça aos visitantes. Com isso, os especialistas conseguiram calcular que KOBO continuará provavelmente a vazar óleo até 2060.

Frasco com o óleo vazado dos ossos de baleia em exposição no Museu — Foto: New Bedford Whaling Museum
Frasco com o óleo vazado dos ossos de baleia em exposição no Museu — Foto: New Bedford Whaling Museum

Outro desafio da oleosidade excessiva dos ossos está associado ao seu efeito de amarelamento e cheiro desagradável. No entanto, após vários experimentos, isso também foi resolvido mergulhando cada um dos ossos em uma solução biodegradável usada para curar couro.

Por mais inusitado que esse fenômeno possa parecer, KOBO não é o único exemplar de baleia a causar vazamentos de óleo depois de décadas morto. O IFLScience lembra que, no Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido, um esqueleto de baleia-da-Groenlândia (Balaena mysticetus) segue pingando há 160 anos.

(Arthur Almeida)