Papagaios, ao contrário de outras aves que obtêm pigmentos coloridos pela alimentação, produzem suas próprias cores. Esse processo era pouco compreendido pelos cientistas, mas uma nova pesquisa publicada em 01 de novembro, na revista Scienceesclarece o funcionamento dessa característica única desses pássaros.

Conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, o estudo identificou que uma enzima específica, a ALDH3A2, é fundamental para a variedade de tons das penas dos papagaios. A produção dessa enzima, determinada geneticamente, resulta em diferentes cores nas plumagens desses animais.

“Os papagaios são as únicas aves que conhecemos que produzem cores brilhantes dessa forma”, diz Joseph Corbo, coautor do estudo e cientista da Escola de Medicina da Universidade de Washington, à Chemical & Engineering News.

Outras aves, como flamingos e atobás, adquirem cores específicas devido a dietas baseadas em crustáceos e peixes, respectivamente. No entanto, os papagaios produzem pigmentos próprios, denominados psitacofulvinas, que permitem a formação de tons sem depender da alimentação.

Os papagaios da espécie Agapornis roseicollis foram escolhidos para o estudo — Foto: Wikipedia
Os papagaios da espécie Agapornis roseicollis foram escolhidos para o estudo — Foto: Wikipedia

Para investigar o processo, os cientistas analisaram duas espécies: o lori-escuro (Pseudeos fuscata) e o agapornis-de-face-rosada (Agapornis roseicollis). Eles descobriram que as psitacofulvinas possuem cadeias de átomos de carbono com diferentes compostos químicos em suas extremidades. Ao analisarem as penas vermelhas, perceberam que as cadeias contêm aldeído, enquanto nas amarelas apresentam ácido carboxílico. A combinação dessas variações químicas gera a gama de cores.

As penas verdes surgem da interação entre a estrutura de nanocristais, que reflete a cor azul, e os pigmentos amarelos. Já os tons escuros, como preto e cinza, são produzidos pela melanina, um pigmento comum entre diversas espécies.

Diagrama que explica a enzima responsável por regular o equilíbrio entre os pigmentos aldeído e carboxílico nas cores dos papagaios — Foto: JOANA C. CARVALHO/ Science
Diagrama que explica a enzima responsável por regular o equilíbrio entre os pigmentos aldeído e carboxílico nas cores dos papagaios — Foto: JOANA C. CARVALHO/ Science

“É um caso excepcional de inovação evolutiva”, conta Roberto Arbore, biólogo evolucionista da Universidade do Porto e autor do novo estudo, em entrevista ao Science. Ele destaca que a capacidade de fazer e modificar sua plumagem deu aos papagaios mais controle sobre os sinais usados ​​para atrair parceiros e se comunicar com seus pares.

Essa descoberta amplia o entendimento sobre a evolução das cores nos papagaios e pode contribuir para a compreensão de como essas características influenciam a saúde e o comportamento desses animais. Em certas espécies, como o atobá, a intensidade da coloração está associada à condição física e ao processo de escolha de parceiros. Os pesquisadores esperam que esses achados permitam explorar mais a biologia dos papagaios e a função evolutiva das cores no reino animal.

(Redação Galileu)