CRISTHIANE BRANDÃO

Não há mais como qualquer um de nós se isentar das responsabilidades com o futuro do planeta. Estamos em meio às eleições municipais que vão definir o destino de mais de 5 mil municípios brasileiros no mês de outubro, mas será que está na nossa agenda debater questões essenciais como segurança alimentar, energética e climática?

Ou será que vamos seguir o caminho mais fácil e novamente jogar tal responsabilidade nas costas dos outros: do agronegócio, dos políticos ou de qualquer outra empresa/pessoa que não seja nós mesmos?

Acompanhei estarrecida, nesta semana, o episódio de violência física e verbal entre dois candidatos à maior prefeitura do Brasil, São Paulo, que deixaram de focar no essencial, que é um debate de ideias e propostas para melhorar as condições de vida da população e, deste modo, definir os caminhos da grande metrópole que é exemplo para todo país, para travar uma guerra de egos.

Ainda não acredito que aquela cena da cadeira aconteceu. Lamentável. Na segunda-feira, mais uma decepção. Uma nova batalha, agora ‘instagramável’ de memes, frases de efeito, piadinhas irônicas, manchetes sensacionalistas e a viralização do vídeo. Quem ganhou com isso? Ninguém ganhou. Aliás, se pararmos para pensar, todos nós perdemos.

Trouxe essa questão para dizer o quanto é fundamental que cada um se coloque como parte do problema e da solução para as questões que afligem o Brasil e o mundo. Precisamos abandonar essa visão de bem versus mal, porque, afinal, se a natureza tivesse voz, provavelmente nos diria que estamos coletivamente destruindo suas reservas, e que ela muito em breve irá colapsar!

A lógica teria que ser. Vamos ter bons líderes, afinal, repensar o modelo de produção e de vida que vivemos hoje (e que nos expõe à extinção) exige pessoas adultas, preparadas e éticas em espaços de poder. Gente que consiga se sentar em mesas e cadeiras sem atirá-las em ninguém, seja nos candidatos da oposição, seja nos demais setores com quem terá de negociar em busca de soluções.

Em vez de tentar eliminar quem pensa diferente, necessitamos de uma oposição forte, inteligente, igualmente ética, que possa colaborar com novas soluções, fiscalizando e cobrando transparência, como propõe a estrutura das Governanças Corporativa e Familiar. Ou seja, a profissionalização da gestão pública e privada se faz cada vez mais urgente para que possamos vislumbrar um futuro!

Vamos alcançar a marca de 10 bilhões habitantes nos próximos 25 anos, o que significa um incremento de 25% e uma demanda de 60% a mais na produção de proteína animal. Como produzir mais mantendo as fronteiras agrícolas e adotando crédito associado a práticas sustentáveis? De que maneira incluir os 4,8 milhões pequenos produtores – que representam 5,1 milhões de unidades rurais – e, ainda promover a inclusão produtiva (jovens e mulheres)?

Além disso, temos que incluir o risco climático nas análises de riscos de todas as cadeias e segmentos. Um exemplo é Botswana, país africano produtor de um dos melhores sorgo do mundo, que em 2024 conseguiu plantar 60% do potencial de seus campos, mas irá colher somente 10% em função dessas questões climáticas extremas. Outro alerta: completamos, este ano, 12 meses consecutivos de recorde de temperatura global (Climatempo).

“Alimento é paz e poder”, destacou Renata Miranda, secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária, durante o evento Global Agribusiness Fórum (GAF), a maior e mais renomada conferência do agronegócio mundial, que desde 2012 reúne autoridades de mais de 60 países, e da qual fiquei extremamente impactada de participar neste ano pelo alto nível de discussões.

Voltei da conferência imbuída de replicar e trabalhar tudo que vi e ouvi, de alertar pessoas, amigos, familiares, clientes, conhecidos e a sociedade em geral (como estou fazendo por meio deste artigo). Como dizem, ‘se correr o bicho pega, se ficar o bicho come’. Não tem como fugir dos desafios desse momento planetário que traz uma crescente vulnerabilidade no processo de produção.

Não importa onde estamos, o sistema vai nos afetar de alguma maneira, seja como consumidores e/ou empresários. Compreender que precisamos de uma mesa equilibrada com os três pilares (ambiental, social e econômico) é essencial. Fica o convite, participe com afinco das decisões coletivas e individuais adotando prioridades que se alinhem a um modo de vida mais ético e a um consumo consciente. A mudança que esperamos começa conosco!

(*) CRISTHIANE BRANDÃO é Conselheira de Administração, Consultora em Governança para Empresas Familiares e Coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.

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