Cerca de 45 crianças e adolescentes indígenas da etnia venezuelana Warao estão sem escola, mesmo após mobilização dos pais para a matrícula em unidades escolares de Cuiabá. Este grupo de venezuelanos estava na expectativa de começar a frequentar a escola no final de julho, quando houve a volta às aulas das escola públicas, mas já somam três semanas e não houve chamamento para o ingresso escolar.

De acordo com o cacique Rabel Aquiles, que vive com o grupo de indígenas na Casa Warao, no bairro Alvorada, é importante que as 33 crianças passem a frequentar uma escola, todas estão na expectativa. “As crianças estão perdendo tempo fora da escola. Estamos esperando a confirmação para todas irem”.

Os venezuelanos Warao que vivem em Cuiabá, atualmente, estão abrigados em espaço diferentes, um na Casa Warao (Abrigo Manoel Miraglia, bairro Alvorada), outro grupo permanece no bairro Jardim Passaredo, e outro está em uma chácara alugada no bairro Nova Esperança. Há um quarto grupo que vive no Primeiro de Março, mas as crianças já frequentam a escola. Há também uma família com três crianças que permaneceu no bairro São José.

O cacique Warao da comunidade do Jardim Passaredo, Jairo José, afirma que não consegue vagas nas escolas próximas. “Nós estamos procurando escola, mas não conseguimos vagas para levar as nove crianças que precisam e querem estudar”.

O professor e antropólogo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Aloir Pacini, observa que o ideal seria que os Warao tivessem uma escola indígena para estudar a própria língua e vivenciar a cultura. “É importante que estas crianças e adolescentes estudem, vivenciem a cultura e aprendam a ler e escrever na língua materna, mantendo sua cultura. É fundamental ter este olhar para este grupo indígena”.

No final de julho, o grupo de estudantes Warao do bairro Nova Esperança passou a frequentar a escola municipal da região, ficando ainda sem confirmação de local para as aulas  dos grupos do bairro Alvorada e Jardim Passaredo.

A professora do Departamento de Letras da UFMT, Marinete Souza, realiza um projeto de ensino da língua portuguesa para os indígenas Warao nos espaços onde os grupos vivem. “É necessária a inserção deste grupo nas escolas para alfabetizar e ampliar os conhecimentos com a língua portuguesa, já que vivem num país cuja língua oficial é a portuguesa,  mas o ideal é ter aulas da língua Warao e ter alguém da comunidade para ministrar esse saber”.

Em Cuiabá vivem mais de 300 indígenas Warao, sendo 83 crianças em idade escolar. Entre os desafios deste grupo étnico estão a falta de moradia fixa, dificuldades com a língua portuguesa, falta de oportunidade de emprego, insegurança alimentar e violências contra os estrangeiros como racismo e xenofobia. Este grupo ainda vive na expectativa da concretização da doação de um terreno público para a construção da primeira aldeia indígena urbana de Cuiabá. Mais informações – Marcela Brito 65 99642-4976