Fortaleza e São Paulo foram os grandes beneficiados com os resultados da rodada 22 e aumentaram suas chances de lutar pelo título do Brasileirão. Com a vitória em casa sobre o Criciúma, o Fortaleza tomou a vice-liderança do Flamengo e praticamente triplicou suas chances de conquistar o título: potencial foi a 12,15% depois de terminar a rodada passada com 4,25%.
O São Paulo derrotou em casa o Atlético-GO (1 a 0) e fez seu potencial de título alcançar a 7,18%, praticamente dobrando os 3,76% da rodada passada.
As duas equipes foram beneficiadas tanto pela derrota fora de casa do Botafogo contra o Juventude (3 a 2) quanto pelo empate entre Flamengo e Palmeiras (1 a 1).
Após o empate com o Palmeiras, o técnico do Flamengo, Tite, disse ter ficado satisfeito com o desempenho de sua equipe. A afirmação é compreensível e está ligada ao que faz o Flamengo ainda ter chances maiores de conquistar o título de campeão do Brasileirão deste ano.
Tanto Fortaleza quanto Flamengo tiveram o jogo fora de casa contra o Internacional adiado e, por isso, têm uma partida a mais por disputar. O Botafogo está com 43 pontos e 13 vitórias em 22 jogos; o Fortaleza tem 42 pontos, e o Flamengo, 41, os dois com 12 vitórias em 21 jogos.
A análise dos dados da dupla evidencia as diferenças em campo: no ataque, por exemplo, o Flamengo fez 287 finalizações, quinta maior média por partida (13,7) entre os 20 times da Série A , ao mesmo tempo em que conquistou a segunda maior eficiência ofensiva, um gol a cada 8,2 tentativas.
Com o mesmo número de jogos, o Fortaleza tem 256 finalizações no campeonato, 12ª média, com “apenas” a décima eficiência, um gol a cada 10,2 tentativas. Quando aplicadas as características de cada finalização, a essência do xG que norteia estas projeções, as diferenças crescem: por exmeplo, o Flamengo tem 172 finalizações de dentro da área, de onde é menos difícil fazer um gol, e o Fortaleza, 151. O Flamengo marcou 35 gols, e o Fortaleza, 27. As diferenças defensivas vão na mesma linha, mas como conseguiram manter isso nas próximas rodadas é o que fará a diferença.
As chances são determinadas por modelos estatísticos aplicados pelo economista Bruno Imaizumi sobre microdados coletados pela equipe do Espião Estatístico desde 2013. Foram analisadas as características de 108.038 finalizações e resultados de 4.387 jogos de Campeonatos Brasileiros que servem de parâmetro para medir a produtividade atual das equipes no ataque e na defesa a partir da métrica de expectativa de gol (xG), consolidada internacionalmente.
Por exemplo, se uma equipe com desempenhos ofensivos e defensivos apenas medianos será visitante no segundo turno contra adversários que estejam com as melhores performances mandantes, as chances de vitória desse visitante são menores do que de um time eficiente e de alta produtividade ofensiva que tem agendados confrontos contra adversários que, neste momento, estejam com os piores desempenhos caseiros.
Porém, conforme novos jogos são disputados, os potenciais futuros mudam, rodada a rodada. Essas são algumas possibilidades que explicam o fato de as chances não acompanharem exatamente as posições atuais da tabela de classificação: os potenciais futuros são diferentes dos resultados já conhecidos, entre outros motivos, devido à inversão de mandos no returno.
Os dados ajudam a calcular o potencial que cada equipe tem para vencer os jogos restantes, considerando mando de campo e outras características ao fazer 10 mil simulações para cada partida a ser disputada, o que resulta nos percentuais do quadro abaixo. A metodologia empregada está explicada no final do texto.
Chances de permanecer na Série A em 2025
Ao derrotar em casa o líder Botafogo, o Juventude ampliou bastante a probabilidade de seguir na Série A no ano que vem porque não era favorito para ficar com os três pontos da partida. Com esse resultado, o potencial de o Juventude ficar na primeira divisão foi para 71,17% e na semana passada estava em 60,44%.
Por outro lado, a derrota em casa para o Grêmio (3 a 1) foi um duro golpe nas expectativas do Cuiabá, que agora tem 50,07% de chances de permanecer na Série A em 2025. Após a rodada passada, eram 63,39%.
O jogo contra o Grêmio era um confronto direto na luta para ficar na Série A, porque os dois têm o mesmo número de jogos disputados, 20, devido a dois adiamentos. O Cuiabá perdeu os últimos quatro jogos pela Série A, além de outro da Sul-Americana, da qual foi eliminado pelo Palestino, o que parece ter afetado o moral da equipe.
Também foi uma rodada ruim para Vitória, Fluminense e Corinthians, que hoje só têm melhor potencial para seguir na Série A do que o último colocado Atlético-GO. O Corinthians está com 46,65% após conquistar mais um ponto no empate em casa com o Bragantino e na rodada passada tinha 46,62%. Melhor para o Corinthians que os outros times ameaçados não venceram.
Com isso, veja abaixo as chances dos clubes de ficar na Série A.
Libertadores
Enquanto Copa do Brasil, Sul-Americana e Libertadores não estiverem decididas, os quatro primeiros colocados no Brasileirão se classificam para a fase de grupos da Libertadores do ano que vem, enquanto o quinto e o sexto colocados disputam uma fase preliminar.
Caso os campeões das três competições estejam entre os primeiros colocados do Brasileirão, novas vagas classificatórias para a Libertadores serão abertas no nacional. Por enquanto, apresentamos as chances de as equipes terminarem o Brasileirão até a quarta e até a sexta colocações.
Metodologia
Apresentamos as probabilidades estatísticas baseadas nos parâmetros do modelo de “Gols Esperados” ou “Expectativa de Gols” (xG), uma métrica consolidada na análise de dados que tem como referência as finalizações cadastradas pelo Espião Estatístico em 4.387 jogos de Brasileirões desde a edição de 2013.
As variáveis consideradas no modelo são: (1) a distância e o ângulo da finalização em relação ao gol; (2) se a finalização foi feita cara a cara com o goleiro; (3) se foi feita sem a presença do goleiro; (4) a parte do corpo utilizada para concluir; (5) se a finalização foi feita de primeira, ajeitada ou carregada; se o chute foi feito com a perna boa ou ruim do jogador; (6) a origem do lance (pênalti, escanteio, cruzamento, falta direta, roubada de bola, lateral etc); (7) se a assistência foi feita de dentro da área; (8) a posição em que o atleta joga; (9) indicadores de força do chute; (10) o valor de mercado das equipes em cada temporada a partir de dados do site Transfermarkt (como proxy de qualidade do elenco); (11) o tempo de jogo; (12) a idade do jogador; (13) a altura do goleiro em jogadas originadas de bolas aéreas; (14) a diferença no placar no momento de cada finalização.
De cada cem finalizações da meia-lua, por exemplo, apenas sete viram gol. Então, uma finalização da meia-lua tem expectativa de gol (xG) de cerca de 0,07. Cada posição do campo tem uma expectativa diferente de uma finalização virar gol, que cresce se for um contra-ataque por haver menos adversários para evitar a conclusão da jogada. Cada pontuação é somada ao longo da partida para se chegar ao xG total de uma equipe em cada jogo. Essa variação indica as chances de os times vencerem cada adversário e, a partir daí, é calculada a chance de os clubes terminarem o campeonato em cada posição.
O modelo empregado nas análises segue uma distribuição estatística chamada Poisson Bivariada, que calcula as probabilidades de eventos (no caso, os gols de cada equipe) acontecerem dentro de um certo intervalo de tempo (o jogo). Para chegar às previsões sobre as chances de cada time terminar o campeonato em cada posição foi empregado o método de Monte Carlo, que basicamente se baseia em simulações para gerar resultados. Para cada jogo ainda não disputado, realizamos dez mil simulações.
*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Davi Barros, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, João Guerra, Leandro Silva, Roberto Maleson, Roberto Teixeira, Valmir Storti e Zé Victor Meirinho. (GE)