Após demitir o subsecretário de esportes que cobrou de Lionel Messi e da Associação de Futebol da Argentina (AFA) um pedido de desculpas pelo cântico racista dos jogadores da seleção argentina, o presidente do país, Javier Milei, afirmou que o governo não pode “dizer à seleção o que comentar, pensar ou fazer”.
A polêmica começou na celebração do título da Copa América, conquistado domingo. No ônibus, alguns jogadores cantaram uma música xenofóbica e racista contra jogadores da França, transmitida por uma live feita pelo meia Enzo Fernández. A música já tinha sido cantada por torcedores na Copa do Mundo de 2022, no Catar, quando a Argentina venceu a França na decisão, nos pênaltis.
“Eles jogam pela França
mas são de Angola
que bom que eles vão correr
se relacionam com transexuais
a mãe deles é nigeriana
o pai deles cambojano
mas no passaporte: francês“, diz a letra da música.
Messi não aparece nas imagens cantando a música, mas ainda assim o então subsecretário Julio Garro afirmou que Messi, por ser o capitão da seleção, e o presidente da AFA, Claudio Tapia, deviam pedir desculpas oficiais. Logo depois, Garro tentou voltar atrás e negar a cobrança, mas àquela altura ele já estava na mira de Milei, que respostou no Twitter diversas críticas à cobrança do subsecretário.
Também nas redes sociais, a vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, publicou um post exaltando a soberania do país e dizendo que a “música de campo” entoada pelos jogadores diz “verdades” que os europeus “não querem admitir”.
“Nenhum país colonialista vai nos intimidar por uma canção de campo ou por dizermos verdades que não querem admitir. Parem de fingir indignação, hipócritas”, escreveu ela.
Na noite de quarta-feira, o gabinete do presidente Milei anunciou a demissão de Garro:
“A Presidência informa que nenhum governo pode dizer o que comentar, o que pensar ou o que fazer à Seleção Argentina, Campeã Mundial e Bicampeã Americana, ou a qualquer outro cidadão. Por isso, Julio Garro deixa de ser Subsecretário de Esportes da Nação.”
Enzo pede desculpas e recebe apoio da família
Fora da Argentina, porém, a repercussão foi oposta. A Fifa e o Chelsea, clube onde joga Enzo Fernández, abriram investigação sobre o caso. Pivô da polêmica, Enzo pediu desculpas pela música.
Pai do volante argentino, Raúl Fernández afirmou ao site “El Gráfico” que Enzo recebeu apoio familiar após a acusação de racismo, reforçando a ideia de que a polêmica é fruto da visão europeia sobre o caso.
– Sei o que meu filho é, e ele não é isso! É difícil que um europeu entenda nosso folclore de futebol. Ele gravou esse vídeo em um momento inoportuno, nem percebeu o que estavam cantando – afirmou o pai de Enzo Fernández, citando exemplos de provocações de outras seleções contra a Argentina.
– Em 2014, quando a Alemanha nos ganhou (na final da Copa), imitavam o nosso jeito de andar e nos tratavam como ignorantes. Em 2018, a França provocava Messi por sua estatura. Nunca dizemos que nos discriminavam – disse. (GE)