A vida como ela é frequentemente difere da vida como deve ser. Esta dicotomia tem sido tema central de debates filosóficos e sociológicos ao longo dos séculos, envolvendo pensadores desde Platão até contemporâneos como Zygmunt Bauman. Refletir sobre essa diferença leva a questionar a natureza da realidade, os ideais humanos e a busca pela justiça e pelo bem-estar.
Para compreender a vida como ela é, deve-se primeiro olhar para as percepções realistas do mundo. Filósofos como Thomas Hobbes descreveram a natureza humana e a vida em estado de natureza de forma pessimista. Em sua obra “Leviatã”, Hobbes argumenta que, sem um poder central para manter a ordem, a vida seria “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”. Esta visão sublinha a importância das instituições sociais para evitar o caos e a violência.
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-Amar, de menos a mais
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-Rir e chorar
-Somos e sermos…
-Violência circular
-Dever para com o povo
-A verdade que basta
Max Weber, sociólogo alemão, revisitou a racionalização e a burocratização da sociedade moderna. Em suas análises, Weber observou que a vida no mundo moderno é caracterizada pela “jaula de ferro” da racionalidade instrumental, onde os processos burocráticos e a eficiência superam os valores humanos e emocionais. A vida como ela é, segundo Weber, está muitas vezes presa em um sistema que prioriza a ordem e o controle, frequentemente às custas da liberdade individual e da criatividade.
Em contrapartida, a vida como deve ser é frequentemente idealizada por filósofos que aspiram a um mundo melhor, mais justo e harmonioso. Platão, em sua obra “A República”, propôs uma sociedade ideal governada por filósofos-reis, onde a justiça prevalece e cada indivíduo desempenha seu papel para o bem comum. Esta visão utópica contrasta fortemente com as realidades da injustiça e da desigualdade presentes na vida cotidiana.
Jean-Jacques Rousseau, em “O Contrato Social”, sugere que a vida como deve ser é aquela onde os seres humanos vivem em harmonia com a natureza e entre si, guiados pela vontade geral que busca o bem coletivo. Para Rousseau, a civilização corrompe o homem, e uma sociedade justa deve ser construída com base na igualdade e na liberdade.
A disparidade entre a vida real e a ideal levanta questões fundamentais sobre a natureza humana e a possibilidade de progresso. Karl Marx, por exemplo, argumentou que a vida como ela é marcada pela exploração e alienação sob o capitalismo, deveria ser transformada através da revolução proletária para alcançar uma sociedade sem classes, onde todos possam viver de acordo com suas necessidades e capacidades.
Zygmunt Bauman, em sua análise da modernidade líquida, sugere que a busca por uma vida como deve ser é continuamente frustrada pelas rápidas mudanças e pela incerteza do mundo contemporâneo. Bauman destaca que a vida na modernidade líquida é caracterizada por uma constante sensação de instabilidade, onde os indivíduos lutam para encontrar segurança e significado em um mundo em fluxo constante.
A tensão entre o que é e o que deve ser é uma força motriz para o desenvolvimento humano. A filosofia e a sociologia oferecem ferramentas para analisar esta tensão e buscar maneiras de reduzir o fosso entre a realidade e o ideal. Hannah Arendt, em “A Condição Humana”, explora como a ação e o discurso público são essenciais para criar um espaço onde os ideais podem ser discutidos e perseguidos, mesmo que nunca sejam totalmente alcançados.
Michel Foucault, com suas análises do poder e do discurso, sugere que a transformação da vida como ela é em direção à vida como deve ser passa pela resistência às estruturas de poder e pela criação de novos modos de pensar e agir. Foucault lembra que a mudança é possível, mas exige conscientização crítica das forças que moldam a vida.
A vida como ela é, repleta de desafios e imperfeições, e a vida como deve ser, um ideal aspiracional, continuam a coexistir em um delicado equilíbrio. O desafio reside em reconhecer as limitações do presente enquanto trabalhamos incansavelmente para aproximar a realidade dos ideais coletivos.
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).
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