JÔNATAS PULQUÉRIO
Uma recente mudança de rumos adotada pelo produtor familiar José Vieira, do Mato Grosso, é uma entre tantas outras que ocorrem no Brasil. Por falta de informação sobre o tema, ele nunca havia implementado práticas ambientais em seu cultivo. Até que viu em uma publicação que isso poderia trazer diversas facilidades e ganhos, e ainda ajudaria a preservar sua propriedade.
De forma prática, as atitudes verdes têm chamado a atenção dos operadores financeiros, que podem aplicar os conceitos de seguro rural e práticas sustentáveis no mercado de investimentos de várias maneiras. A criação de fundos de investimento voltados para o agronegócio, a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), operações estruturadas de crédito e a gestão de passivos financeiros são algumas das principais áreas onde esses conceitos podem ser integrados para promover a sustentabilidade e a mitigação de riscos.
Os fundos de investimento dedicados ao setor agrícola podem incorporar critérios de sustentabilidade e gestão de risco em suas estratégias. Ao investir em empresas agrícolas que adotam práticas sustentáveis e possuem seguros rurais adequados, os fundos podem oferecer retornos mais estáveis e resilientes a seus investidores.
Esses fundos podem também ser estruturados para oferecer incentivos a empresas que implementam práticas agrícolas sustentáveis, como o uso de tecnologias de agricultura de precisão, rotação de culturas, conservação de solo e água, e outras práticas que contribuem para a mitigação de riscos climáticos e ambientais.
Já os CRAs são instrumentos financeiros que permitem aos investidores financiar atividades agrícolas em troca de recebíveis futuros. Ao originar CRAs, os operadores financeiros podem incluir cláusulas que incentivem a adoção de seguros rurais e práticas sustentáveis pelos produtores.
Na prática, os CRAs Verdes podem, por exemplo, oferecer melhores condições de financiamento para produtores que possuam seguros rurais e que adotem práticas agrícolas sustentáveis, reduzindo assim o risco de inadimplência e aumentando a segurança do investimento.
As operações estruturadas de crédito, por sua vez, podem ser desenhadas para incluir componentes de mitigação de risco, como a exigência de seguros rurais e a implementação de práticas sustentáveis como condições para a concessão de crédito.
Essas operações podem também incluir a criação de mecanismos de monitoramento e auditoria para assegurar que os produtores estão cumprindo com os requisitos estabelecidos, garantindo assim que os riscos associados às operações são efetivamente mitigados.
A sustentabilidade também pega bem para as instituições financeiras, uma vez que, na gestão de passivos financeiros, elas podem utilizar seguros rurais e práticas sustentáveis como critérios para a seleção de ativos agrícolas em suas carteiras. Ao priorizar ativos de empresas que adotam essas práticas, as instituições podem reduzir o risco global da carteira e melhorar a sua resiliência a choques climáticos e ambientais.
Além disso, a integração de seguros rurais e práticas sustentáveis na gestão de passivos pode contribuir para a reputação da instituição como um investidor responsável, atraindo assim mais investidores preocupados com a sustentabilidade.
No frigir dos ovos, ao incorporar esses elementos em suas estratégias, os operadores não apenas mitigam riscos, mas também contribuem para o desenvolvimento de um setor agrícola mais robusto e sustentável, beneficiando toda a cadeia produtiva e garantindo a segurança alimentar para as futuras gerações.
(*) JÔNATAS PULQUÉRIO é Diretor de Gestão de Risco Agropecuário do Ministério da Agricultura e Pecuária.
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