MARINALDO CUSTÓDIO

Pra clarear. Pra descortinar horizontes e romper, num lampejo, o silêncio na imprensa. Silêncio autoimposto há não sei quanto tempo, desde quando publiquei, no ‘Olhar Direto’, resenha-crônica sobre um livro de poemas curtos de autor local.

Enfim, escrevo de novo. E envio para os sites, os jornais publicarem – o que não é menos importante.

Razões para ficar tanto tempo ‘calado’, claro, não faltam. Crise de estresse em meados de 2023, decorrente de trabalho excessivo a esta altura do campeonato (da vida) desencadeou tudo. Aí, travou, travaram-se os ‘afetos’, como diria Espinosa. O que só comecei a romper, pra valer, a partir de 6 de março deste ano. Então, por cerca de oito meses, me vi jogado numa gangorra entre a coragem mais destemida e um desânimo de dar pena. Aí, leitor, é que são elas! E a pena, tadinha, falha. Emburra, encrava e se recusa a falar com o papel, o computador, o tablet.

Nada escreve, nada produz.

Outra razão, esta, sim, ótima, bem pra lá de boa, a justificar esse tempo de estio: o selecionar, burilar as crônicas tidas como aproveitáveis, e cortar, descartar, atirar ao cesto de papéis as imprestáveis (cada caso é um caso), visando à publicação do meu terceiro livro.

Nesse intervalo, também, por óbvio, escrevi novas crônicas. Poucas, abortadas, sem serventia. Algumas, assim, passáveis. Numa noite de domingo de junho, tornei a encontrar Érika, ex-vizinha e, por vezes, vizinha outra vez, e lhe falei do processo de escrita. E ela, sem pestanejar: “Não vejo a hora de ter na mão este teu novo livro! Mal posso esperar…” – disse. (Ou penso ter ouvido essa melodia dos seus lábios, o que vem a dar quase na mesma).

– Érika, eu retruquei. Esse teu desejo, pelo visto, pra satisfazê-lo, você vai demorar um ermo!… – Pois entregar pronto é uma coisa; ser publicado, outra. Incerto; pode ser ainda em 2024 ou, sei lá, dezembro de 2025!
– Oh, tudo isso?! Nem sei se posso aguentar…

(A menos que eu me disponha a mostrar uma, ou umas, a alguém, assim, num ‘particular’… E isso não farei nem a golpes de machete, nem a insinuação de serpente no olhar ou carícia de mulher tão linda quanto essa, com aquellos ojos verdes).

Entrementes, está quase pronto. Pelo fato de haver um texto-testemunho de amor à esquerda (Minha avó socialista), confabulei com o camarada Brás Rubson e logo escolhi o prefaciador: Kleber Lima – até prova em contrário, convite aceito de pronto, e com entusiasmo segundo o próprio.

Meu formato ideal, para este, é o de 19 crônicas e “um poema perdido” – hoje recuperado, senão…
Dinheiro não me trará, por certo, mas com o ato de escrever e publicar me divirto pacas, tento curar as feridas e secar as mágoas. “Me acho”.

Se a este escrito chamo “A terceira navalhada” é porque Belchior – a meu ver, o mais citável dos compositores brasileiros –, cravou: “Palavras são navalhas”.

E, pra concluir, cito, ainda uma vez, o bardo saído de Sobral: “Eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês”.
Embora minha escrita seja, quase sempre, propensa à sensibilidade feito um beijo que apenas tateia a penugem de braço de namorada, sem alcançar em cheio a epiderme, também sonho em atingir alvos, corações e mentes (muito mais os femininos, é claro).

Atormentá-los um pouco, se possível.

Escrevo pra clarear. E comover.

Escrevo para causar.

(*) MARINALDO CUSTÓDIO é escritor. Publicou: “Viagens inventadas: crônicas e quase contos”, em 2010, e “Vestida de preto & outras crônicas”, em 2018 (Cuiabá, ed. Entrelinhas).

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