O Alzheimer é a doença neurodegenerativa mais conhecida que existe. Apesar disso, ela continua a desafiar a medicina e a afetar milhões de pessoas em todo o mundo. Com sua progressão lenta e insidiosa, esta condição não apenas rouba a memória das vítimas, mas também compromete suas habilidades cognitivas, afetando suas vidas e as daqueles que os cercam.
Atualmente, o Alzheimer não possui cura e uma das principais razões para isso são as muitas incertezas sobre como a doença se inicia. Exceto pelo fator genético — que pode contribuir com até 5% dos casos —, ainda não se sabe o que causa o surgimento e o desenvolvimento do Alzheimer.
Parados no tempo
Durante anos, pesquisadores têm se dedicado a encontrar diferentes abordagens para o tratamento do Alzheimer. De modo geral, a maioria delas se concentraram em tentar evitar a formação prejudicial de aglomerados de uma proteína chamada beta-amiloide. Isso fez com que as placas de beta-amiloide tenham sido consideradas por muito tempo a causa primordial da doença.
Infelizmente, essa insistência fez com que diversos estudos não chegassem a um resultado satisfatório na busca de uma cura — além de negligenciar alternativas mais promissoras. Hoje, grupos de cientistas ao redor do mundo procuram olhar para outras possibilidades, na tentativa de recuperar um pouco desse “tempo perdido”.
No Instituto Cerebral Krembil, integrante da Rede de Saúde da Universidade de Toronto, pesquisadores têm elaborado uma nova teoria sobre a doença de Alzheimer. Hoje, eles não a consideram mais como exclusivamente uma doença cerebral. Em vez disso, a equipe encara a doença predominantemente como um transtorno do sistema imunológico dentro do cérebro.
Uma doença autoimune?
O sistema imunológico é uma rede complexa de células e moléculas distribuídas por todo o corpo, trabalhando em conjunto para proteger contra invasores estrangeiros e promover a reparação de tecidos danificados. Em resposta a danos cerebrais ou à presença de bactérias, a beta-amiloide é ativada como parte de uma resposta imune abrangente.
No entanto, sua estrutura molecular compartilha semelhanças notáveis com as membranas bacterianas, levando-a a atacar erroneamente as próprias células cerebrais que deveria proteger. Esse erro de identificação desencadeia um processo de degeneração progressiva das células cerebrais, culminando em demência, característica da doença de Alzheimer.
Embora ainda não conclusivo, a compreensão do Alzheimer a partir de estudos distintos pode nos colocar mais próximos de uma cura para a doença. Eles oferecem novas visões sobre as possíveis causas e, consequentemente, sugerem a necessidade de um redirecionamento nos esforços terapêuticos, buscando tratamentos que modifiquem a resposta imunológica cerebral de forma mais direcionada e eficaz.