Cuiabá e Flamengo têm uma coisa em comum antes da 1ª rodada do Brasileirão 2024. São as duas únicas equipes, entre as 20 participantes, que estreiam na competição sem ter perdido um jogo sequer na temporada. Isso deveria significar uma alta cotação ao Dourado, mas há um detalhe que dificulta esta condição. O nível de enfretamento.
A equipe do Mato Grosso é a mais difícil de analisar em toda prévia de Série A. Isso se deve ao pouco grau de exigência em que é submetida no estadual. O Campeonato Mato-Grossense tem dez clubes, e nenhum dos outros nove está sequer na Série C nacional. A Copa Verde e a Copa do Brasil também não reservaram oponentes acima do corte da Série D.
Ou seja, o Cuiabá passou a encarar oponentes de maior exigência há apenas duas semanas, com o início da Copa Sul-Americana. Não é culpa do clube. Disputa aquilo que o calendário lhe oferece, mas certamente há um problema quando o nível de enfretamento cresce. Ajustar isso é o desafio mais uma vez. E agora com uma particularidade.
O Dourado inicia o Brasileirão sem treinador efetivo. António Oliveira aceitou a proposta para comandar o Corinthians há mais de dois meses, e desde então quem está dirigindo a equipe é o auxiliar fixo do clube, Luiz Fernando Iubel. A diretoria já afirmou que não efetivará o profissional e segue a criteriosa busca.
Iubel já comandou o Cuiabá de forma interina em outros jogos de Brasileirão e possui aceitação do elenco, mas é inegável que o clube sai atrás em relação a outras temporadas na busca pela manutenção na elite nacional. Organizado e competitivo desde 2021 na Série A, o Dourado não esconde que o primeiro objetivo é a permanência mais uma vez.
Até por ter feito parte da comissão técnica de António Oliveira, Luiz Fernando Iubel manteve padrões que a equipe carrega desde o ano passado. A perda de Raniele tem sido reposta com o recuo de Lucas Mineiro para a função de primeiro volante. O elenco tem mais opções em relação aos das últimas temporadas.
Railan – campeão da Série B com o Vitória – e Ramon – ex-Flamengo – chegaram para disputar posição com Matheus Alexandre e Rikelme. Bruno Alves ganhou espaço na zaga. Lucas Fernandes e Max encorparam as alternativas para o setor de criação. André Luís voltou do futebol sul-coreano para ser mais uma opção pelos flancos.
O Cuiabá tem variado entre o 3-4-3 e o 4-3-3 como plataformas táticas. A primeira opção deverá ser mais vista na Série A. Ela contempla a escalação simultânea de Marllon, Alan Empereur e Bruno Alves na zaga, libera os ofensivos Matheus Alexandre e Ramon e minimiza um problema de proteção recorrente na entrada da área.
É bom ressaltar que, desde o ano passado, quando recua o bloco de marcação, o Cuiabá monta uma linha de cinco na defesa. Isso acontece mesmo quando atua num 4-3-3 como ponto de partida. O primeiro volante, nesta realidade, continua tendo a incumbência de se somar a linha defensiva para ocupar a área. Lucas Mineiro faz o que Raniele fazia.
O problema muitas vezes é oferecer mais resistência na frente da área. A equipe levou alguns gols por dar liberdade neste setor. Com três zagueiros natos, Lucas Mineiro pode fazer a proteção à frente da linha defensiva ao lado de Fernando Sobral, que no caso anterior ganhava a companhia de um meia de menor participação defensiva: Lucas Fernandes ou Max.
Algo interessante de se observar é a formatação da linha ofensiva. Iubel tem utilizado Dérik Lacerda, Deyverson e Isidro Pitta na maioria dos jogos. Isso já havia acontecido em 2023, mas tornou-se frequente agora. É um trio de muita imposição física e capacidade de reter a bola de costas para o gol. Ganham muitos duelos aéreos também. O mais baixo é Pitta, com 1,83m.
Essas características têm moldado a forma de atacar. Se o adversário sobe a marcação, ligações diretas são utilizadas para que eles ganhem as disputas e acelerem na sequência. Dérik é muito rápido! Se o oponente marca mais atrás, o trio se aproxima pela faixa central, sempre empurrando a defesa adversária para trás, buscando contatos para receber de costas e se associar na sequência.
A participação dos alas oferecendo apoio em amplitude ao time é fundamental. Podem ser acionados na linha de fundo ou servirem os atacantes com passes rasteiros ainda na intermediária ofensiva. Isso acontece independente do esquema adotado. Se for o 4-3-3, Lucas Mineiro infiltra entre os zagueiros para fazer a saída de três e liberar os laterais diante de defesas mais fechadas.
Outra maneira de o Cuiabá tentar abrir espaços é fixando os pontas bem abertos pelos flancos e trabalhando com inversões rápidas de lado. Alan Empereur e Lucas Fernandes fazem isso bem. Neste caso, os laterais avançam menos.
Ao receberem abertos, os pontas contam com infiltrações dos meias nas lacunas entre zagueiros e laterais rivais. Fernando Sobral e Max realizam esse movimento com agressividade.
Clayson, uma das referências técnicas do time em temporadas recentes, não é mais um titular absoluto e busca recuperar a vaga que tem ficado com Pitta. Denilson, meio-campista técnico, segue afastado por estar acima do peso, de acordo com a versão oficial do clube.
Por mais que tenha padrões bem nítidos para jogar em diferentes situações, a maior qualidade do Cuiabá está no jogo de transições rápidas. Certamente pautará a estratégia de várias partidas provocando erros dos adversários. Seja marcando mais perto do gol rival em jogos dentro de casa. Ou recuando o bloco de marcação em duelos longe da quente Arena Pantanal. (GE)