Não existem respostas exatas para perguntas sobre a invenção do violoncelo, mas evidências observadas ao longo da história apontam para as suas primeiras aparições. De acordo com a professora do Departamento de Música da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Ângela Maria Ferrari, o que se pode dizer é que registros encontrados em pinturas do século 16 retratam instrumentos de formatos semelhantes aos que são conhecidos hoje como os pertencentes à família do violino, entre eles o violoncelo, também chamado de “cello”.

A evidência mais antiga está nas pinturas de Gaudenzio Ferrari, pintor e escultor italiano. No afresco “O Concerto dos Anjos” (1534-1536), são retratados anjos que cantam enquanto outros tocam instrumentos de cordas, entre eles um violino, uma viola, e um violoncelo — com apenas três cordas. Por volta de 1665, o violoncelo é citado em sonatas italianas como um diminutivo para o violine, “grande viola”, ou instrumento baixo da família do violino. 

O violoncelo com mais similaridades ao encontrado atualmente teve suas características estabelecidas pela família Stradivari, artesãos de instrumentos de cordas, em 1680. A partir disso, entre os séculos 17 e 18, o instrumento se tornou ainda mais popular ao ser utilizado por grandes compositores como Johann Sebastian Bach, em Seis Suítes para Violoncelo Solo, e Ludwig Van Beethoven, na Sinfonia nº 5.

“Tanto a viola de arco quanto o violoncelo surgem a partir da necessidade de suprir a sonoridade dos graves da família dos violinos”, afirma a professora Ângela. Hoje, o violoncelo tem quatro cordas afinadas nos intervalos de quinta: Dó – Sol – Ré – Lá – do grave para o agudo. Um intervalo é a distância entre duas notas, por exemplo, entre o intervalo de Ré e Lá existem cinco notas: Ré, Mi, Fá, Sol, Lá. E, ainda, o conjunto de notas atingidas (tessitura) pelo cello é amplo, a extensão das notas vai do Do1 ao Mi5. As partituras do violoncelo podem ser escritas em três diferentes claves, as notas mais graves são escritas na clave de Fá e as mais agudas, utilizadas pela viola e violino respectivamente, são escritas na clave de Dó na quarta linha, região média ou “tenor”, e na clave de Sol na segunda linha. Isso porque, quando os violoncelistas precisam tocar notas mais agudas, é necessário mudar para a clave de um instrumento mais agudo.

O violoncelo cobre uma grande extensão da voz humana e pode ser ouvido tanto na voz do baixo, a mais grave das vozes masculinas, quanto na voz do soprano, a mais aguda das femininas. Em uma peça musical, sua sonoridade é capaz de evocar diferentes emoções. Além disso, a professora chama a atenção para os timbres, comumente chamados de “qualidade do som”, ou seja, frequências que compõem a onda sonora emitida pelo instrumento. Uma mesma altura de nota pode ter timbres diferentes em instrumentos diferentes. “O timbre do violoncelo, para mim, é muito aveludado, melodioso e cheio”, complementa a docente. 

A amplitude da tessitura e a singularidade do timbre do violoncelo são muito exploradas por compositores ao longo da história da música. Além de ser usado em orquestras e em músicas eruditas, o cello aparece também no repertório de grupos de música popular contemporânea dos mais variados gêneros — Apocalyptica, Yo-Yo Ma, 2Cellos, Rasputina são alguns dos nomes de artistas populares. 

No bacharelado em Violoncelo da UFSM, os alunos também praticam e estudam a inserção do violoncelo na música contemporânea. Para a professora Ângela, o uso do cello em outras mídias, assim como na trilha sonora de filmes e novelas, contribui para a sua popularização, uma vez que atinge um público além de músicos e apreciadores da música clássica.

Expediente

Reportagem: Jéssica Medeiros, acadêmica de Jornalismo e estagiária;

Design gráfico: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.