Na madrugada do dia 26 de abril de 1986, os engenheiros Valery Khodemchuk e Volodymyr Shashenok realizavam testes de rotina na sala de controle do reator n.º 4 da Usina de Energia Nuclear Vladimir Ilich Lenin, na cidade de Chernobyl, na Ucrânia, então parte URSS.
Khodemchuk foi à sala de máquinas para checar os resultados dos testes, quando o aparelho explodiu, lançando uma colossal bola de fogo de material nuclear no espaço. Shashenok correu para o local para resgatar o colega, mas não conseguiu encontrá-lo. O corpo acabou selado por uma gigantesca estrutura de concreto e aço que envolve o reator até hoje.
Quanto a Shashenok, ele foi resgatado pelos primeiros bombeiros que chegaram ao local. Estava gravemente irradiado e queimado por vapor d’água. “Não era meu marido, era uma bolha inchada”, disse sua esposa, Lyudmila. Ele morreu cinco horas depois do resgate. Um ano depois, seu corpo foi levado para o Cemitério Mitinskoye, em Moscou.
Os bombeiros de Chernobyl
Além de doses letais de radiação, os bombeiros de Chernobyl tiveram que enfrentar as chamas da explosão, que subiram para quase 2 mil graus Celsius. Um esquadrão com 13 deles, comandado pelo tenente Volodymyr Pravyk, chegou ao reator quando o nível de radiação direta era tão alto que poderia matar um ser humano em 48 segundos.
Em desespero, Pravyk subiu ao telhado com cinco comandados — Vladimir Tishura, Nikolai Titenok, Vasily Ignatenko, Nikolai Vashchuck e Viktor Kibenok – para despejar água no reator. Em apenas uma hora, todos passaram mal, começaram a vomitar e tiveram, eles próprios, que ser resgatados. Os seis e outros 23 colegas morreram no desempenho de suas funções.
Sem nenhum equipamento de proteção contra a radiação, mais e mais bombeiros chegaram ao local com equipamentos toscos para apagar as chamas. Segundo o The Guardian, a autópsia mostrou que os olhos castanhos de Pravyk se tornaram azuis devido à contaminação. Todos os bombeiros foram enterrados no Cemitério Mitinskoye e, assim como Shashenok, em caixões de chumbo e selados em concreto.
Mais corpos ligados à tragédia de Chernobyl
Em Mitinsyoke, um cemitério conhecido dos moscovitas por abrigar corpos de figuras de destaque, estão pessoas ligadas indiretamente à tragédia, como o químico Valery Legasov, que se suicidou dois anos depois do acidente. Ele foi o responsável pela aprovação do reator RBMK-1000 da usina, mesmo sabendo se tratar de um equipamento instável e propenso a acidentes.
Embora as autoridades soviéticas tenham reconhecido como vítimas de Chernobyl apenas os dois funcionários e os 29 bombeiros, a população evacuada e os 600 mil trabalhadores que limparam o local foram, e ainda estão, sob risco de desenvolver câncer de tireoide, leucemia, doenças do sangue, doenças cardiovasculares entre outras.