Declarado ‘persona non grata’ pelo governo de Israel após fazer uma analogia entre as ações de Israel na Faixa de Gaza e o Holocausto nazista, as falas do presidente Lula feitas em uma viagem oficial à Etiópia podem causar sérios problemas nas relações comerciais entre o Brasil e o país do Oriente Médio.

Comparar a morte de palestinos em Gaza à matança de judeus na Segunda Guerra Mundial foi considerada uma declaração “vergonhosa e grave” pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que afirmou que Lula “cruzou uma linha vermelha”.

A cooperação técnica e científica entre Brasil e Israel teve início ainda na década de 1960, quando Israel começou a auxiliar o desenvolvimento da agricultura brasileira no semi-árido, especialmente no Nordeste, através de técnicas de irrigação. Em 1975, foi estabelecido o Acordo de Cooperação Comercial e Técnica, que impulsionou o comércio bilateral entre os dois países. Em 2007, o Acordo de Livre Comércio (ALC) entre Brasil e Mercosul entrou em vigor, expandindo ainda mais o intercâmbio comercial entre Brasil e Israel.

Mas diante da atual relação comercial dos países em meio aos acontecimentos, por que o agronegócio brasileiro deve se preocupar?…

O presidente disse que a resposta de Israel ao ataque do Hamas em 2023 só se parece com o que fez Hitler quando “decidiu matar os judeus”.

Além disso, atualmente Israel é o 6º principal fornecedor de fertilizantes do Brasil, com um total de 1,2 milhão de toneladas e 4% de participação no total importado nos nove primeiros meses do ano, de 28,7 milhões de toneladas.

Como um importante país produtor de fosfatados e potássicos, no acumulado do ano até setembro, Israel foi o segundo principal fornecedor de Super Simples para o Brasil, com 367 mil toneladas (19% de participação), terceiro maior fornecedor de Super Triplo, com 119 mil toneladas (11%), além de ser o quarto maior originador de KCl para o Brasil, com 746 mil toneladas, o equivalente a 8% de participação.

Ciência e Tecnologia

Outro fator que preocupa os analistas é o fato de que Israel é conhecido por ser um país referência em tecnologia e inovação digital. O mesmo possui um ecossistema de startups altamente desenvolvido e é um dos principais centros de biotecnologia do mundo, com muitas empresas de capital de risco e investidores interessados em apoiar ideias de países da América Latina.

Em um cenário de desacordos políticos e econômicos, o Brasil seria lesado, uma vez que perderia investimentos vindos de Israel, perdendo oportunidades de inovação e desenvolvimento tecnológico, afetando nossa competitividade global.

Até o momento, Israel não emitiu qualquer comunicado sobre possíveis rompimentos nas relações comerciais com o Brasil. No entanto, a situação é de risco, uma vez que Lula foi declarado oficialmente como ‘persona non grata’ até que retire o que disse em seu discurso na Etiópia. Nos resta aguardar o que farão os embaixadores, líderes e demais representantes do Estado para evitar perdas significativas na economia brasileira.

(Fábio Palaveri)