DEUSDÉDIT DE ALMEIDA
Com frequência ouvimos a expressão: “o tempo voa”. É uma expressão que evidencia a rapidez da transitoriedade ou provisoriedade da vida. Realmente, a nossa existência está vinculada à temporalidade.
Por isso, somos minuciosos e meticulosos na marca do tempo. Marcamos com cuidado as datas relevantes da vida: nascimento, formaturas, viagens, perdas de entes queridos, festas e outros momentos marcantes.
Considerando a velocidade do tempo, precisamos de aproveitar cada momento, cada dia e cada ano, para o nosso aperfeiçoamento, nosso crescimento e nossa transformação.
Pois, somos seres inacabados, em constante transformação e mudanças. O grande filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso já dizia: “o homem é um vir a ser. É um projeto inacabado”. Foi ele o autor de outro axioma filosófico: “ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as aguas já serão outras”.
Reforçando a ideia de Heráclito, proferiu o grande poeta Luiz Vaz de Camões, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona, em seu poema “a mudança”: “mudam-se o tempo, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo mundo é composto de mudança, buscando sempre novas qualidades.”
O verso lírico de Camões se refere às várias transformações verificadas em si mesmo e no mundo. Assim, o ano novo tem efeito de nos fazer retornar a nós mesmos, unindo o passado a um futuro viável e promissor.
Fazemos votos, mentalizamos desejos e renovamos as esperanças em mundo melhor para todos. Sem dúvida, a esperança deve ser a grande mística da nossa existência e do nosso agir neste mundo: “de esperança, em esperança, sempre na esperança”. No fim do ano precisamos fazer um balança da vida: o que vai bem e o que não vai bem na vida.
O que não vai bem, precisamos renunciar. Vale lembrar sempre que somos, também, frutos do passado, entrelaçado de erros e acertos, de heroísmos e covardias. Mas é um passado que nos pertence. Entretanto, não mudamos o passado. O passado é parâmetro para construirmos um futuro melhor. O passado nos ensina aa aprender o que houve de belo e de grande em nossas ações e a compreender, com inteligência e grandeza, as falhas e erros. Mergulhamos no passado para sermos iluminados por suas luzes e precavidos dos seus defeitos. Aquilo que fizemos de bom no ano que passou, devemos repeti-lo e melhorá-lo no ano que se inicia.
Errar é humano. É pelo erro que enxergamos a possibilidade de novos acertos. Entretanto, precisamos da humildade para reconhece-lo, inteligência para aprender com os erros e sabedoria para corrigi-los.
O que faz a diferença no tempo, são as ações boas que praticamos. É precisamente por isso que precisamos preencher este novo ano com mais obras de amor, de misericórdia, de justiça, de bondade, de acolhimento fraterno, de solidariedade e carinho com as pessoas.
Não importa o tamanha das nossas ações. Pois, “nada é pequeno, onde o amor é grande” (S. Terezinha). Há um provérbio Africano que diz: “Pessoas simples e pequenas, vivendo em lugares simples, fazendo coisas simples e pequenas, realizam coisas extraordinárias que renovam e transformam o mundo”. Sim, somos a uma gota d’água num mundo em chamas! Portanto, entremos no ano novo comprometidos com a construção da cultura da paz e do amor fraterno.
O ano de 2023 foi extremamente sangrenta opor conta das guerras: no leste Europeu e no Oriente Médio. As guerras têm consequências nefastas para a humanidade. Além da destruição de vidas humanas aumenta a corrida armamentista. As fazem crescer as indústrias de armas, as quais são industrias de mortes. Quem fabrica armas, constrói mais guerras.
Ora, guerra chama guerra. Ódio chama ódio. Violência chama violência. A espiral da violência só termina com remédio do perdão e da reconciliação. Sabemos que a paz é um valor universal e que deve ser arduamente conquistada. Pois, não há nenhum ser humano neste mundo que não se sente bem quando ao seu redor reina a paz.
Paz no coração, paz na família, paz com os amigos, paz nos ambientes de trabalho e repartições públicas, paz na comunidade e paz com a vizinhança. A campanha da fraternidade de 2024 reforçará a temática da paz com tema: “FRATERNDADE E AMIZADE SOCIAL” e o lema “vos sois todos irmãos e irmãs” (cfr. Mt 23,8).
Enfim, cantemos o “Te deum” de ação de graças dos corações exultantes por mais uma ano que termina e mais um ano que se inicia. Indiscutivelmente, já é uma grande graça de Deus estarmos vivos! Finalizo com a bênção Araônica (sacerdote Arão), formulada no livro bíblico dos Números: “O Senhor te abençoe e te guarde;
O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda a graça; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz” (Núm. 6, 24-26:). Um feliz e abençoado ano novo para todos e todas!
Deusdédit de Almeida é padre diocesano na Catedral de Cuiabá
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