João Gabriel Antoniacomi
as últimas semanas, acompanhamos muitas informações vindas da COP 28, evento anual realizado pela ONU, que reúne representantes políticos de todo o mundo e membros da sociedade civil, com o objetivo de celebrar acordos e fomentar iniciativas visando diminuir o impacto das mudanças climáticas. Esse evento, em uma primeira análise, passa muito longe do dia a dia das cidades, do que eu e você podemos fazer, pois envolve uma trama complexa de interesses, geopolítica, acordos extensamente discutidos e dinâmica de desenvolvimento global.
Somos apenas espectadores daquilo que foi discutido em Dubai neste ano, e que será discutido no Azerbaijão no próximo. Assim, a COP atende a uma agenda urgente para o futuro das cidades no médio e longo prazo, mas, em verdade, está muito próxima do nosso cotidiano quando pensamos nos reflexos do aquecimento global, sentido na pele através das ondas de calor extremo que estamos a enfrentar e que perdurarão no próximo ano, que dirá em Mato Grosso, onde os efeitos do El Niño são intensos
“Essa tecnologia está a nosso serviço de forma praticamente gratuita, mas exige uma contrapartida: manutenção e escolha acertada de seu local de implantação. Estou falando de árvores e, mais especificamente, do tema arborização urbana”
E aqui fica a pergunta: Como adaptar uma cidade onde já se registram picos de temperatura acima de 40ºC em períodos considerados “normais”, sem depender exclusivamente dos acordos internacionais?
Longe da dinâmica dos acordos internacionais que nós, meros mortais, não participamos, reside uma solução barata, segura e eficiente contra o aumento de temperatura. Essa solução cria uma espécie de ar-condicionado natural, tirando carbono e regulando a temperatura ao redor, melhorando o microclima, gerando sombreamento e um alento à presença agressiva do sol.
Essa tecnologia está a nosso serviço de forma praticamente gratuita, mas exige uma contrapartida: manutenção e escolha acertada de seu local de implantação. Estou falando de árvores e, mais especificamente, do tema arborização urbana como solução para mitigação do aumento da temperatura.
Nos últimos anos, Cuiabá tornou-se uma cidade desértica. Boa parte das árvores existentes nas calçadas e canteiros foram cortadas para as famosas ‘obras da Copa’, substituídas por palmeiras e similares. Ou sucumbiram à enganosa praticidade de cortá-las para resolver da forma mais fácil inconvenientes com a rede de energia e até mesmo com a sujeira causada pelas folhas.
Tivemos árvores eliminadas para dar visibilidade a fachadas e, paralelamente, o passivo daquelas que nunca foram plantadas, apesar da legislação municipal prever seu plantio a cada 5 metros nas calçadas (você sabia disso?). Parece que Cuiabá, uma das cidades que mais necessitam criar estratégias para lidar com o calor, aguarda um milagre que saia de uma instância superior – seja ela divina ou dos homens que assinam os grandes acordos internacionais – para poder ser minimamente habitável nos próximos anos.
Cuiabá não é uma entidade ou uma bandeira que possui vida própria. Ela é feita por nós, que vivemos a cidade. Não precisamos exclusivamente de acordos globais, leis e ações de políticos para nos ajudar nessa missão de amenizar o clima. Não sei se o leitor tem ou terá um filho, nem se já escreveu ou escreverá um livro. Mas com certeza é urgente plantar uma árvore. Uma não, quantas forem possíveis!
João Gabriel Antoniacomi é arquiteto, gestor de desenvolvimento imobiliário da MRV e atuou como conselheiro do município de Cuiabá e do IAB-MT
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