CAIUBI KUHN

No processo de ensino e aprendizagem, atividades fora das salas de aulas desempenham um papel importante para facilitar a compreensão de estudantes em relação aos diversos campos de conhecimento.

Visitas a museus, participação em simpósios e feiras, e o contato com praças e outros espaços públicos se tornam instrumentos fundamentais para a educação.

Em 2022, a Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) estabeleceu um protocolo rigoroso para atividades fora das salas de aulas, conhecidas como aulas de campo.

Essa medida foi motivada pela morte de um estudante durante uma excursão. No entanto, as regras atuais tornam a participação dos estudantes em atividades, mesmo em locais com alto nível de segurança, muito difícil, afastando-os de experiências importantes para sua formação.

Conforme o protocolo de aula de campo criado, “entende-se por Aula de campo as atividades desenvolvidas em ambientes considerados não escolares, que contribuem potencialmente na aprendizagem escolar, podendo ser realizada em espaços não formais, fora dos muros da escola, onde os impactos ambientais, a diversidade dos seres vivos, a história do Brasil, história local, entre outros assuntos relevantes para a formação cidadã, saem dos livros didáticos e ganham cor, forma e dimensão, pois além da aprendizagem dos conteúdos na prática, a saída a campo possibilita a formação de indivíduos mais críticos e conscientes”

A segurança dos alunos e professores precisa ser sempre uma prioridade dos gestores, e a criação do protocolo foi uma ação relevante nesse sentido. No entanto, é necessário fazer uma distinção clara do risco oferecido em cada atividade.

Por exemplo, é comum a realização de eventos científicos, visitas a museus, audiências públicas, feiras científicas, entre outras atividades, em locais com níveis de segurança idênticos aos oferecidos nas unidades escolares. Portanto, não faz sentido aplicar regras complexas e burocráticas a essas situações.

Audiências públicas, por exemplo, são frequentemente marcadas em curto período de tempo, assim como programações culturais ou eventos em espaços museológicos, cuja divulgação muitas vezes ocorre próximo à data de realização. O atual protocolo torna quase impossível para os professores viabilizarem a participação dos alunos.

Vale lembrar que os docentes das escolas públicas já possuem uma jornada que demanda muito tempo, e os longos protocolos exigidos para atividades de aula de campo acabam por requerer que os professores os realizem o planejamento fora das horas de trabalho pelas quais são remunerados.

Qual seria, então, a saída para essa situação?

Seria importante a SEDUC revisar seu protocolo de aula de campo, criando fluxos diferentes para atividades, levando em consideração o risco da atividade e a idade dos estudantes. Para atividades realizadas em locais com alto grau de segurança, uma opção seria permitir que os alunos participem apenas com a autorização dos pais e a ciência da direção da escola. Em locais onde possa existir algum risco, seria adequado aplicar um protocolo mais complexo.

Outra ação crucial seria a SEDUC fomentar, por meio de editais de patrocínio ou parcerias, o desenvolvimento de atividades de extensão em parceria com as universidades nas escolas estaduais, levando exposições, eventos e mostras científicas para dentro do ambiente escolar.

Mundialmente, as atividades extracurriculares e o contato com a ciência e objetos científicos são valorizados.

É comum ver excursões de escolas particulares para diversos locais, como museus, parques e até cachoeiras. Com o protocolo atual, os estudantes das escolas públicas do estado dificilmente terão as mesmas oportunidades, ficando mais uma vez para trás na corrida da educação. É necessário que esse cenário seja alterado urgentemente.

A formação extracurricular é fundamental para educação da juventude de Mato Grosso.

Caiubi Kuhn é professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo.

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