DOM MÁRIO ANTÔNIO
O dia 2 de novembro é dedicado à comemoração de todos os fiéis defuntos, aqueles que morreram na graça e na amizade de Deus, mas que ainda não estão plenamente purificados para entrar na glória celeste. A Igreja Católica nos ensina que essas almas se encontram no estado de purgatório, onde sofrem as penas temporais pelos seus pecados e são purificadas pelo fogo do amor divino.
A origem da comemoração desse dia está no século II, quando os cristãos visitavam os túmulos dos mártires para rezar por eles e pelos demais falecidos. No século VI, o Papa São Gregório Magno instituiu uma missa em honra de todos os mortos no dia seguinte à festa de Todos os Santos. A partir do século X, a data de 2 de novembro se consolidou como o Dia de Finados.
Nesse dia, os fiéis são convidados a visitar os cemitérios, onde estão sepultados os seus entes queridos, e a rezar por eles, oferecendo sufrágios, como missas, indulgências, esmolas e obras de caridade. Isso é uma expressão de amor e ato de solidariedade com aqueles que nos precederam na fé e que esperam a nossa intercessão para alcançarem a plena comunhão com Deus.
Além disso, o Dia de Finados é uma ocasião para renovar a esperança na ressurreição dos mortos e na vida eterna, que são verdades fundamentais da fé cristã.
A liturgia de hoje reflete essa dupla dimensão de memória e esperança. A primeira leitura, tirada do livro da Sabedoria, afirma que “as almas dos justos estão nas mãos de Deus (…) porque Deus os pôs à prova e os achou dignos de si. Como ouro no crisol, ele os provou; como holocausto de oferta, ele os aceitou” (Sb 3,1.5-6). O salmo responsorial, o salmo 22, expressa a confiança no Senhor que é o pastor que conduz as suas ovelhas pelos caminhos da justiça e da vida (Sl 22(23),1-6).
A segunda leitura, tirada da carta aos Romanos, ressalta a filiação divina dos cristãos, que são chamados a participar da glória de Cristo, se sofrem com ele: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (…) E se somos filhos, somos também herdeiros – herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo —; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele” (Rm 8,14-17).
O Evangelho, segundo São João, apresenta o episódio da ressurreição de Lázaro, amigo de Jesus, que estava morto havia quatro dias. Jesus se dirige ao túmulo e ordena: “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43). E o morto saiu vivo, para espanto de todos. Jesus aproveita a ocasião para proclamar: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (Jo 11,25-26).
Essas palavras de Jesus são um convite à fé e à esperança em sua vitória sobre a morte e em sua promessa de vida eterna para os que nele creem. O Dia de Finados, portanto, não é um dia de tristeza e desespero, mas de saudade e confiança, de oração e consolação, de comunhão e solidariedade, de gratidão e louvor. É um dia para recordar os nossos irmãos e irmãs que partiram desta vida e para renovar a nossa esperança na ressurreição e na vida eterna, que nos são oferecidas por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
Dom Mário Antônio da Silva é arcebispo metropolitano de Cuiabá
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