“Os não indígenas não estão tendo noção do que estão destruindo, por isso, nós, como povos indígenas, dentro de território, dentro da floresta, sabemos o que pode acontecer se continuar destruindo”, afirmou o cacique kaiapó Raoni Metuktire, que visitou nesta sexta-feira (27) a exposição Mekukradjá Obikàrà: Com os Pés em Dois Mundos. A mostra está sendo instalada no mezanino do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, região metropolitana do Rio.
Para Raoni, a demarcação das terras dos povos originários, além de preservar a natureza, é importante para manter as próprias culturas.
“Nossos territórios são demarcados para poder manter tudo que tem dentro e preservar a natureza. Dentro de um território, temos floresta, animais, rios e temos nossas próprias culturas e tradições. Por isso, pensamos e pretendemos que continuemos com a nossa vida como povos nativos dentro de floresta. Por isso, defendemos nossa terra, a floresta. Por que defendemos o meio ambiente? Estamos vendo o aquecimento global, está cada vez mais quente na Terra, está cada vez mais secando rios, isso é muito preocupante para nós”, afirmou.
Raoni considera as demarcações fundamentais também para as futuras gerações. “As nossas terras demarcadas são para outras gerações. Eles têm que ter o território para continuarem com a vida, a cultura e os costumes deles. Precisamos de território para ter animais, precisamos dos rios, da floresta, das aves para continuar com nossa vida dentro da floresta.”
A mostra, que será aberta neste sábado (28) e vai até 26 de novembro, apresenta adornos usados nas festas e rituais, fotos, vídeos, depoimentos e um acervo produzido pela nova geração por meio do coletivo Beture, que é um movimento de cineastas e comunicadores indígenas Mẽbêngôkre-Kayapó.
Segundo o líder indígena, a mostra, que deixa evidente a ancestralidade de seu povo, é também uma forma de manter a memória dos kaiapó. “Sim, tem que ser mostrada a nossa cultura, mostrada também para os não indígenas, que são vocês, para que vejam a nossa cultura viva, tenham respeito por nós, pelos povos indígenas, a nossa terra. E essas fotos mostram [que é] para os jovens continuarem com a cultura deles, origem ancestral, por isso, é importante mostrar a nossa cultura para podermos mostrar para todos não indígenas e jovens indígenas para continuarem com a cultura deles”, afirmou.
Raoni ficou satisfeito com o que viu. “Como a nossa cultura ainda é forte e ainda vive entre nós, estou vendo aqui essas fotos e muitas de recordações. Foram tiradas há muito tempo e hoje, nesse momento, está tendo a mostra dessas fotos. Vi que é muito importante mostrar a nossa cultura, nossa arte e nossa tradição, para motivar nossos jovens a continuarem com a cultura deles. Por isso, estou vendo e gostando muito desse trabalho que está sendo feito”, pontuou.
O cacique kaiapó comentou ainda a importância da exposição em meio a tanta discussão no país sobre o marco temporal das terras indígenas. “Quando fazemos isso, e vocês fazem junto, mostramos a nossa vida para que eles possam nos respeitar, respeitar, para não acontecer nada de ameaça contra nós”, concluiu.
Patrocínio
A exposição Mekukradjá Obikàrà: Com os Pés em Dois Mundos, é realizada pela Petrobras, por meio do projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental, que tem a gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade. De acordo com os organizadores, a Conservação Internacional Brasil e as organizações representativas parceiras do projeto, os institutos Kabu e Raoni e a Associação Floresta Protegida apoiam a iniciativa.
A gerente de Planejamento de Responsabilidade Social e Direitos Humanos da Petrobras, Sue Wolter, disse que é longa a história de investimentos socioambientais da companhia, dentro do compromisso do desenvolvimento social do país e da transformação das pessoas.
Sue revelou que o Tradição e Futuro da Amazônia é um projeto de seleção pública na linha de florestas, que é uma das quatro realizadas pela Petrobras. As outras são oceano, desenvolvimento econômico sustentável e educação. O outro compromisso da empresa é com projetos ligados ao respeito aos e direitos humanos e à promoção dos direitos humanos, acrescentou.
“Tem uma linha transversal em todos os projetos, que são de povos tradicionais, povos indígenas e pescadores e populações menorizadas: LGBT, pessoas com deficiência, população negra. Para a gente, é muito importante um olhar para esses saberes. Uma das ações do projeto é resgatar e divulgar os saberes tradicionais. É o que a gente está fazendo aqui. Hoje é o ápice dessa ação dentro do projeto”, disse Sue Wolter em entrevista à Agência Brasil.
Ela explicou que o projeto Tradição e Futuro na Amazônia é desenvolvido em cinco terras indígenas com trabalhos de educação ambiental, agrofloresta para geração de renda, estoque de carbono na região, saberes tradicionais e resgate materializado na juventude, que faz a conversa com o tradicional e os meios de comunicação e com os meios audiovisuais, preservando e divulgando todo esse conhecimento. Esse projeto é de sucesso e vai ser renovado. “Ele vai continuar por mais quatro anos, porque a gente tem todo um olhar muito especial para as populações tradicionais.”
Programação
A programação de inauguração da exposição, com entrada franca, começa às 10h com a abertura do museu e entrada simbólica dos indígenas na mostra.
Às 10h30, começa a feira de artesanato, inclusive com pintura corporal, e realiza-se a plenária dos povos tradicionais em defesa de seus territórios e maretórios com participação de representantes dos povos indígenas, quilombolas e caiçaras do Pará, de Mato Grosso e do Rio de Janeiro. Na parte da tarde, às 17h, haverá apresentação de canto e dança, chamada de Metoro, que são as festas. Às 17h30, haverá apresentação do cacique Raoni e de outros líderes kaiapó sobre a história deste povo.
Entre as 18h e as 20h, está previsto um mapping (projeção) da arte kaiapó na fachada do prédio. A agenda termina com uma apresentação musical do Rapper Matsi. (Agência Brasil)