Deixou-nos hoje, 14 de outubro, aos 95 anos, meu sogro, Lázaro Carvalho de Lima.  Pai de Vanda, Yone, Dione e Mauro (já falecido) e esposo de Osmarina, a Dona Nenê. Conheci-o em 1986, quando fui visitá-lo para oficializar o namoro entre mim e Dione. Daí pra cá nos tornamos grandes amigos e vivenciamos os sabores e dissabores desta vida. Seo Lázaro era homem de palavra pouca e única. Não fazia curvas ou rodeios. Humilde e sábio ou talvez seja mais apropriado sábio e por isso humilde.   Mas se fosse resumi-lo em uma palavra: Trabalhador. Obstinadamente, Trabalhador.

Seo Lázaro, mineiro-goiano, mato-grossense por opção, era cobrador de lojas de departamentos (Quando o conheci era da Buri), ainda não existiam os cartões de crédito e as pessoas compravam no “crediário”. Seo Lázaro saia cedo, a pé, com as fichas dos inadimplentes. Nunca “chutou” uma ficha (dizer que cobrou e não ter cobrado), conhecia todas as ruas e bairros de Cuiabá. Era quem mais recebia comissões. Quando a Buri passou a exigir que os cobradores usassem motos, ele disse não usaria e continuou sendo o mais eficiente entre todos.  Trabalhando de sol a sol, criou os filhos. Acreditava piamente que trabalho e economia eram a solução. Tivemos uma única divergência: Quando a Dione não passou no vestibular para engenharia civil na UFMT, ele arrumou um emprego pra ela em uma oficina de motos, ela me ligou e, à noite, fui à casa dele e conversamos. Ele disse que não podia pagar um cursinho e eu, professor do São Gonçalo, pedi uma bolsa de estudos. Resumindo: engenheira civil e de segurança da Gerencial Construtora. A primeira da família a ter um curso superior – como ele se orgulhava disso. Ainda me lembro bem da formatura (ele estava felicíssimo), e que formatura! A festa foi no Tênis Clube, graças ao, então, vereador José Carlos Novelli, hoje presidente do TCE-MT, com direito à banda Terra e tudo mais. Obrigado, Conselheiro Novelli.

Há 20 anos, adquiri um pedacinho de terra à beira do Paciência, Seo Lázaro plantou Gueroba, Ipê, Limoeiro, Mamoeiro, Bananeiras, Jabuticabeiras, Pau-Brasil etc. Ele era um homem com o dedo verde… Eu, jogador de Espanhol; ele, de Truco Brasileiro. Abandonei Truco Espanhol e virei parceiro dele, virávamos a noite no baralho! Outra paixão dele era a pescaria: fomos nas Conchas (Barão de Melgaço), Rio Paraguai (Cáceres) e Rio Miranda (MS), mas gostávamos mesmo era de pescar Lambari aqui na chácara. Tio Jiso, o Jesuíno, irmão caçula, empresário em São Paulo, o levou para uma pescaria no Paraguai, poucas vezes vi Seo Lázaro tão feliz… ambos se amavam muito… Sei, Tio Jiso, como você está triste hoje…

Lembra, Lázaro, do show de Milionário e Zé Rico em Chapada? Lembra, Lázaro, dos natais, a família reunida? Lembra, Lázaro, das histórias que me contava mais de uma vez? (eu as ouvia como se fosse a primeira vez…), lembra, Lázaro, quando o Daniel se formou em medicina e te honrou? Lembra, Lázaro, quando o Maurinho nos deixou? Na vida há muitas partidas…

Hoje, não vou me despedir de ti, pois não estás aí; porém, aqui na nossa Macondo. Passeias entre Guerobas e Limoeiros; nadas nas águas límpidas do Paciência; Conversas com Sabiás e Jaós; flertas com a brisa e sentes o cheiro da chuva que ainda não há… depois de quase quatro décadas, quero te dizer “muito obrigado” por desfrutar de tua sabedoria e de teus silêncios tão reveladores… Sei que pediste para depositar tuas cinzas aqui no nosso recanto e será feita a tua vontade. Lázaro, Evoé!

Sérgio Cintra é professor e está servidor do TCE-MT.

sergiocintraprof@gmail.com