Tranquilo e confiante como de hábito. André tem apenas 16 minutos em campo com a seleção brasileira principal, mas encara os microfones com a segurança de quem tem todos os predicados para fazer parte do ciclo até 2026 e sabe esperar seu momento. Às vésperas do confronto com a Venezuela, pelas Eliminatórias, não foi diferente, com direito a uma previsão para o futuro breve do Brasil.
Cria de Fernando Diniz no Fluminense, o volante de 22 anos esteve presente nas quatro convocações do Brasil após a Copa do Mundo: duas com o treinador atual e duas com Ramon Menezes. Os poucos minutos em campo não geram ansiedade. Pelo contrário, André é tão tranquilo que se aventura até a fazer uma profecia ousada de que a Seleção dará espetáculo com o treinador.
“Não tem como o Brasil dar errado. Quando todo mundo tiver mais tempo, o trabalho estiver mais longo, todo mundo entrosado, tenho certeza que a torcida vai ver muito show e ficar muito alegre de ver o Brasil jogar”
– O Diniz tem essa característica de muito jogo aproximado, mas uma coisa que ele está batendo muito na tecla é a parte da marcação. É muito importante, o Brasil tem histórico bom do trabalho do Tite, ele está tentando reforçar muito essa parte da marcação para depois implantar o jogo dele. Nosso time tem os melhores jogadores aqui, muitos jogadores de qualidade. Com o estilo dele, de muita aproximação e posse, todo jogador vai ter sua oportunidade de brilhar. Não tem como o Brasil dar errado. Quando todo mundo tiver mais tempo, o trabalho estiver mais longo, todo mundo entrosado, tenho certeza que a torcida vai ver muito show e ficar muito alegre de ver o Brasil jogar.
A firmeza nas palavras condiz com uma das principais características do jogador: a tranquilidade. Fruto de um comportamento de quem saiu muito cedo de casa em busca do sonho que hoje vive com a camisa da Seleção.
– É mais pela minha trajetória. Apesar de a minha mãe falar que eu era muito bravo quando era pequeno, depois que saí de casa para buscar o meu sonho, eu tive que aprender muita coisa. Respeitar o espaço do próximo e obedece as regras é um caminho a ser seguido.
“Passei grande parte da minha trajetória sozinho, refletindo sobre as coisas e é algo da minha natureza. Costumo ser tranquilo. Às vezes, em campo tem algumas brigas, discussões, pela minha posição, mas procuro levar tudo tranquilo.”
Não é exagero dizer que André foi transformado por Fernando Diniz. Foi sob o comando do treinador tricolor que viu seu futebol desabrochar e ser considerado um dos melhores volantes do país.
Questionado sobre as diferenças do Diniz da Seleção e do Tricolor, o pupilo foi só elogios e garantiu que o treinador fica um pouco mais calmo quando veste verde e amarelo.
– A mesma forma que ele tenta ajudar o nosso time lá, ele tem tentado passar aqui. É óbvio que o tipo de tratamento é um pouco diferente aqui por lidar com os melhores jogadores do mundo. Por onde ele passa, acaba pegando jogadores em início de carreira. Então, o tratamento é diferente.
“Sobre ideias, ele tem tentado impor o estilo de jogo dele, mas sem deixar de lado o que a Seleção vinha fazendo bem. É importante paciência dele com todo mundo. Ele às vezes se altera um pouco no jogo, mas está tendo muita paciência e os jogadores também. Isso é de suma importância”
O Brasil de André e Diniz encara a Venezuela, quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), pela terceira rodada das Eliminatórias. Na sexta-feira, a delegação embarca para Montevidéu, onde encara o Uruguai, terça-feira, às 21h, no estádio Centenário.
Com duas vitórias nas duas primeiras rodadas, o Brasil lidera as eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2026 com os mesmos seis pontos da Argentina, mas vantagem no saldo: 5 a 4. A Conmebol oferece seis vagas diretas para o Mundial e o sétimo colocado vai para a repescagem.
Confira a íntegra da entrevista
CONEXÃO DO PONTO DE VISTA HUMANO
– Acho que o tratamento dele com as pessoas, a forma que ele conversa, ele tenta procurar todo mundo para conversar, entender o que o jogador está passando fora de campo, para aí o jogador fazer as coisas bem dentro de campo. Ele costuma falar que o jogador precisa estar feliz, principalmente fora de campo, para quando chegar na hora dos treinos e dos jogos usufruir em campo, para jogar como se fosse pequeno, como se jogasse uma pelada de rua. Essa é a grande diferença dele e também a parte tática, que eu não vou poder falar.
CONCORRÊNCIA
– É muito satisfatório estar aqui sempre disputando com os melhores, ainda mais na seleção brasileira que tem os melhores do mundo. O Casemiro vem sendo nos últimos anos o jogador top-1 da Europa nas melhores competições. Estar aqui aprendendo em todas as vezes que venho aqui é um período de muito aprendizado, procuro aprender com ele os movimentos, a parte da marcação também, é o jogador que mais se parece comigo na posição de primeiro volante. Está sendo um período de muito aprendizado. Não só com ele, mas também o Bruno Guimarães vem fazendo duas temporadas de excelência. É cada vez mais olhar para eles e procurar fazer o mesmo.
MUDANÇA DE POSIÇÃO – COMEÇOU NA PONTA
– É muito difícil falar nessa linha. Agora que estou aqui, depois que mudei de posição consegui chegar na seleção brasileira, mas tem coisas que a gente não consegue explicar, coisas que só o futebol consegue proporcionar, saí da Bahia com o sonho de ser jogador, ser artilheiro, com o passar dos anos fui descendo, meia, segundo volante, primeiro volante, agora às vezes jogando na zaga. É muito diferente, mas é coisa que só com o tempo a gente vai aprendendo. Difícil de explicar, mas sempre fui muito interessado, um jogador de equipe. Na posição que tiver jogar, vou estar disponível.
ASSIMILAR IDEIAS DO DINIZ
– A gente está sempre aprendendo, a gente busca aprender apesar de estar com ele no dia a dia, saber as coisas que ele manda a gente fazer, já está um pouco ali na cabeça. Mas quando chegar aqui, quando alguém tiver interesse, é procurar orientar o jeito de posicionar e de movimentar para encaixar no estilo dele. Ele está tentando deixar todo mundo à vontade, está aplicando as ideias dele aos poucos, deixando os jogadores na zona de conforto, como já fazia com o Tite. Precisa de muito tempo e aqui realmente é muito pouco tempo. Vamos treinar hoje no campo e amanhã já é pré-jogo, é muito rápido. Vale ressaltar a entrega dos jogadores, todo mundo interessado, a paciência do Diniz com todos. Tenho certeza que ao longo dessa preparação vai dar certo.
DINIZ À VONTADE NA SELEÇÃO
– As vezes que vocês veem ele se alterando um pouco na televisão… ele se entrega muito por nós, no dia a dia mais ainda, mais do que nos jogos. A forma de trabalhar dele faz a gente se sentir muito à vontade, já conhecemos no Fluminense, temos uma relação próxima. Aqui ele não vai mudar o jeito de ser, já falou que independente de quem estiver na frente dele vai procurar ajudar ao máximo. Tenho certeza que quando ele pegar mais intimidade vocês vão ver as alterações (risos).
SAÍDA PRÓXIMA DO GOLEIRO
– É jogo a jogo. A Bolívia e o Peru não nos pressionaram tanto, acaba que não tem necessidade de o volante descer muito para jogar. Contra a Venezuela também creio que eles não vão subir para pressionar também. Já contra o Uruguai vai ser mais difícil, com o jogo sendo na casa deles creio que vão procurar pressionar. Nesses dias, Diniz vai implantar a maneira dele de sair jogando. Se os jogadores se sentirem à vontade, vamos descer para jogar com o Ederson, para trazer o time deles e abrir espaço no fundo.
PRESENÇA NA SELEÇÃO
– Todo jogador sonha em chegar na Seleção, disputar a Copa do Mundo, mas o que eu tenho aprendido, especialmente com o Diniz desde que ele chegou ao Fluminense, é que a gente tem que trabalhar ao máximo no dia a dia, sem olhar para o futuro, procurar fazer o melhor sempre para que as coisas possam ir acontecendo. Um ano atrás, dois anos atrás, não imaginava estar aqui, apenas fazia meu trabalho no Fluminense. Aos poucos fui ganhando destaque, é fruto de muito trabalho. Deus me abençoou de me colocar numa equipe que tem muita visibilidade. Depois que o Diniz chegou, nossa equipe passou a jogar melhor, ter um futebol atraente, questões táticas, evoluí muito. Graças a Deus, nesse ano pude estar em todas as convocações. É continuar trabalhando para seguir voltando.
MUDANÇA DE VIDA
– Não faço nada (risos). É uma mudança muito grande, mas procuro me dedicar ao máximo no dia a dia, buscar bastante a evolução, que as coisas começam a acontecer naturalmente. Acho que isso que o Diniz implantou no Fluminense, de trabalhar, trabalhar, trabalhar, faz a gente ficar preparado para todas as coisas. A mesma coisa que nosso time fez no Campeonato Carioca está fazendo na semifinal da Libertadores. Comigo não é diferente, todo jogo estou preparado para fazer o que treino, o que o time pede, e assim será no dia 4 de novembro na final da Libertadores. Bosso time seguirá jogando com o Fábio, correndo risco, jogando para frente. Esse é o segredo, trabalhar bastante e estar preparado para qualquer situação. (GE)