Rogério Ceni falou pela primeira vez como treinador do Bahia na tarde desta segunda-feira. Depois de ser apresentado aos jogadores e comandar treino pela manhã na Cidade Tricolor, ele participou de entrevista coletiva na Arena Fonte Nova, onde o Esquadrão manda suas partidas em Salvador.

O treinador foi apresentado por Carlos Santoro, diretor de futebol do Bahia. O dirigente garantiu que Ceni foi a primeira opção desde a saída de Renato Paiva, que pediu demissão na última quarta-feira.

– Dia muito feliz para a gente porque conseguimos em uma conversa convencer uma pessoa que também queria estar aqui com a gente. A carreira dele por si só fala muito como atleta e treinador. Desde a saída de Renato Paiva foi uma conversa rápida. Definimos o Rogério como primeira opção. O Rogério também escolheu o Bahia como primeira opção. As ideias de futebol, projeto, estavam alinhadas. Felizes de começar uma nova fase com Rogério liderando – garante.

Ceni assinou contrato com o Bahia até o fim de 2025 e, logo no início, garantiu que não fez exigências de última hora para acertar com o clube. O treinador também deixou claro que vai se dedicar apenas ao comando do time e que o elenco está fechado para a temporada.

– Assinei o contrato de sexta para sábado, 1h da manhã. Não posso ter feito exigências nas últimas duas horas, depois de assinar um contrato, 30 e poucas horas antes de chegar aqui. Eu venho para ser o treinador do Bahia, para tentar desenvolver atletas que estão aqui, para tentar fazer o meu melhor com minha comissão técnica. Essa parte administrativa, o grupo que administra o clube por si só já mostra todo o seu profissionalismo e autonomia que tem para jogadores. Claro que haverá consultas sobre determinado jogador no futuro. Para esse ano, elenco já fechado, mercado fechado.

Para esse primeiro momento, Rogério Ceni tem como meta livrar a equipe do rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Contudo, o treinador projeta que, caso o objetivo seja alcançado, o Tricolor vai ter ambições maiores a médico prazo.

– Nunca é mais um clube. Em todos os clubes que passei fiz o melhor. Trato como oportunidade da minha vida. E vou tratar o Bahia como se fosse o São Paulo, que é o lugar onde trabalhei mais de 20 anos na minha carreira. O objetivo principal que se mantenha na Série A. Segundo objetivo é que consiga uma vaga [na Copa Sul-Americana. […] Esses três meses são fundamentais para o futuro do Bahia, para o que quer construir.

“Se o Bahia conseguir suportar a pressão dos últimos três meses desse ano, em dois anos, eu afirmo, pelo profissionalismo que conheço da empresa e pela capacidade de mobilização da torcida, que o Bahia estará entre os dez principais clubes do Brasil”.

Carlos Santoro, diretor do Bahia, fez apresentação de Rogério Ceni — Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação

Carlos Santoro, diretor do Bahia, fez apresentação de Rogério Ceni — Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação

– Já é um dos grandes clubes do Brasil, mas colocado em posição de tabela, com grandes chances de uma pré-Libertadores e Libertadores num breve futuro. O Bahia tem condições de conviver com Libertadores – completa.

Extracampo e análise sobre time

 

Rogério projeta Bahia no top-10 do Brasil — Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação

Rogério projeta Bahia no top-10 do Brasil — Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação

O Tricolor será o quinto clube de Rogério Ceni, que passou por São Paulo, Fortaleza, Flamengo e Cruzeiro. Ao longo da carreira, treinador acumulou títulos importantes como Campeonato Brasileiro, Série B, Copa do Nordeste e Campeonato Cearense, mas também polêmicas.

– Sou um cara extremamente profissional, minha carreira fala por si só. Eu gosto dos que trabalham todos os dias, chegam cedo, se dedicam, querem evoluir. Eu entendo que o Bahia é uma equipe para ter calendário e dois jogos por semana. O que traz descontentamento de um jogador é ele não estar participando diretamente. Então, são 29, 30 jogadores de linha. É difícil manter um grupo em qualquer lugar. Hoje é diferente o futebol da minha época. Não tenho problemas, trato todos muito bem. Exijo muito durante o treinamento. É fazer o melhor por quem me contratou e ter uma boa relação com todos. O Fortaleza é um grande case de sucesso na minha carreira, o Flamengo tive três títulos. E no São Paulo também:

“Ah, discutir…” É natural. Se tiver que discordar, isso é produtivo e faz com que todos cresçam. Não tenho problema. Me dou bem com a grande maioria, principalmente com os que gostam de trabalhar”.

O primeiro compromisso de Rogério Ceni no comando do Bahia será nesta quinta-feira, quando o Tricolor visita o Coritiba pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, às 20h (horário de Brasília). Para esse primeiro compromisso, o treinador não deu detalhes sobre o time que vai ser escolhido, mas deixou claro que o objetivo a curto prazo é “simplificar”.

Veja outros trechos da entrevista coletiva:

Contato com jogadores
– Hoje trabalhei com o grupo, gostei da atitude de todos no campo. Venho aqui para trabalhar na minha função, como treinador, e não fiz nenhuma exigência. Fui bem recebido. Primeiro, estou na Bahia, segundo, estou em Salvador, terceiro, oportunidade de vestir a camisa do Bahia, e quarto, um grupo do tamanho do Grupo City que talvez seja o mais profissional que eu possa escolher para trabalhar. São motivos suficientes para estar aqui.

Como foi negociação
– É um prazer, uma oportunidade especial na minha vida. O Bahia por si só pela sua grandeza, em conjunto com o Grupo City, talvez seja a melhor oportunidade de trabalho no país. Começou quarta-feira à noite [a negociação]. Fui conhecer o Cadu [diretor do Bahia] agora. Eu estava no Moto Grosso, recebi a ligação de madrugada. De sexta para sábado tínhamos tudo certo.

Mensagem de Evaristo de Macedo e contrato longo
– Primeiro, um grande abraço a Evaristo, vi a mensagem nas redes sociais. Fico muito feliz. É um risco, mas quem vive sem riscos não pode ficar num grande clube, com torcida, que coloca 30, 40 mil torcedores a cada jogo. É o pacote que existe na carreira de treinador. Dezesseis jogos dão direção, continuidade de projeto, de continuidade do Bahia com o Grupo City. Ficando na Série A, dar seguimento nesse projeto. O Bahia é um clube que, se conseguir se sustentar esse ano na Série A, tem muita força para chegar entre os dez primeiros clubes do Brasil no próximo ano. Mas temos que simplificar o momento, priorizar o Bahia. O Grupo City vai se beneficiar o longo prazo. Temos que ir atrás do resultado, tempo curto, cada hora é importante para a gente, para preparar esse time, e vamos tentar achar. Com algumas mudanças, pois se continua na mesmisse os resultados em tese tendem a ser os mesmos. Vejo muita coisa boa aqui, legado que foi deixado, time de intensidade alta, jogadores comprometidos, é o mais legal. O que importa agora é que a bola tem que entrar, temos que fazer por onde.

Quando vai ver o Bahia dominante
– Honestamente, prefiro me preocupar com esse ano, o mais importante. É possível, com os atletas que temos, ter um jogo mais dominante, muitas vezes o Bahia teve mais controle de jogo. Dou exemplo de jogos que assisti, Corinthians, Bahia era para ter saído vencedor. Assim como poderia ter saído perdedor contra o São Paulo, onde foi pressionado. Precisamos encontrar uma maneira eficiente que traga resultados. Cinco vitórias em 22 partidas, e em 16 temos que conseguir mais vitórias. Mas tem muitos jogos que o Bahia merecia ganhar e eu nem estar aqui, e o Renato ter ficado, tinha relação muito boa com os atletas.

Primeiras impressões
– Eu vejo jogadores com disposição, vontade de crescer, vencer. Um pouco retraídos devido ao momento, que é compreensível. Não vi nada na internet. Fui dormir ontem 3h30 montando treino. Vejo um elenco comprometido. Tenho certeza que o que posso fazer é dar uma ideia, caminho. Mas quem vai fazer a diferença são eles. Eles têm capacidade para reverter essa situação.

Conversa com Cauly
– Um jogador específico, mérito do scout que o trouxe. Até antes não se falava. Uma pena não poder usufruir dele nesse momento. Vamos encontrar uma maneira, até de forma diferente, para continuar sendo competitivo. Em breve, em três ou quatro jogos vamos poder contar com ele. É um meia talentoso, pode fazer várias funções.

Viagem para Manchester
– Ficamos durante seis meses, entre curso e visitando clubes na Inglaterra, conhecendo metodologias de trabalho. Conheci o Michael Beale, hoje treina o Rangers, na Escócia. Trouxe para o Brasil ele e o Charles [auxiliar de Ceni]. Me ajudaram muito no meu desenvolvimento como treinador, onde pude aprender muito, minha área de construção. Foi super importante ter essa visita na Europa e ficar um bom tempo lá. É diferente, as coisas caminham de uma forma diferente. Até para entender como funciona essa relação do Grupo City com o próprio Bahia, foi para mim muito importante. Para mim foi um desejo. Esperei um projeto que fosse melhor para mim, e escolhi o Bahia porque achava que era o melhor projeto para a minha carreira. Quero entregar ao torcedor do Bahia no mínimo a alegria de estar aqui ano que vem e estar disputando a mesma competição e com resultados bem melhores. A gente vai aprendendo na vida, toda experiência de vida, títulos e derrotas, traz mais conhecimento. Ou então não vale a pena. Sempre temos que melhorar, evoluir a cada dia e que eu possa ser melhor no Bahia do que eu fui trabalhando no São Paulo.

Marcos Felipe, Adriel, Danilo Fernandes e Claus
– Eu só tive um treinamento, um contato mais direto. O Marcos Felipe vinha acompanhando mais os jogos, joguei contra na época dele no Fluminense. Danilo conheço muito de ter enfrentado como goleiro, ótimo profissional, menino nota 10, já está no terço final de sua carreira. Adriel e Claus tive o primeiro contato. Vamos trabalhar, vamos dar continuidade do trabalho. Goleiro tendo melhores notas e sendo destaque tem duas coisas: um pouco preocupante porque a coisa não está muito bem, mas mostra que tem capacidade. Danilo é um cara muito focado, sério, mesmo não jogando, tem a sua importância, seu valor. Veio de lesão. Daqui a pouco vai me perguntar sobre a lateral direita, esquerda.

O que fazer
– Ser um time mais ajustado, compacto, tentar diminuir os contra-ataques. Time de transição que tem jogadores de velocidade e perde a bola de maneira rápida não fica pronto para se defender. Evoluir os trabalhos de defesa todos os dias e torcer para a bola entrar. Futebol não é ciência exata, não se explica, a bola tem que entrar. Temos que fazer de tudo para facilitar, e jogador tem que ter tranquilidade, público apoiar até o final. Vaias são parte do jogo, mas que apoiem até o final porque é esse grupo que pode manter o Bahia na Primeira Divisão.

Relação com imprensa
– Futebol é paixão. Temos que entender isso. Não sei o time que todo mundo torce. Imagino que a grande maioria, torcedor do Bahia. Existe a pergunta sobre o jogo e existe a emoção, avaliação. Vocês vivem da notícia, da polêmica. Alguns mais técnicos, outros mais folclóricos. Temos que ser sinceros. Vou dar uma explicação na vitória ou derrota. Quando achar que errei vou falar. Eu acho que a sinceridade e o respeito são o mais importante. A pergunta é por toda torcida do Bahia.

Presença da imprensa nos treinos
– Não chegamos nesse ponto. O dia que o clube resolver abrir as portas, o começo do treino, para mim sem problema algum.

Variação tática no Bahia
– Primeiro estou com um dia só aqui. A grande maioria dos jogadores eu conheço. Alguns jogadores estão retornando de lesão e eu não vi. Vou tentar montar a minha primeira equipe da maneira que acho que tenhamos trocas, mudanças para o segundo tempo que possam manter um sistema de jogo. Não dá para treinar mais de um sistema de jogo em três dias.

Liderança
– Toda pessoa que tem opinião, que escolhe direção, tem problema. Isso é natural da profissional. Principalmente em uma que demanda paixão. Qualquer escolha que eu faça, alguém de vocês vai ter um time diferente do meu. Eu vou ser conflitante com opinião de vocês. E isso está em um pacote que envolve ser treinador de futebol. Entendo a opinião de vocês, mas estou lá para trabalhar todos os dias. (GE)