Ser mulher é, ainda, enfrentar preconceitos e limitações. Há muita discussão na inserção da mulher na política de forma igualitária, mas ainda estamos envoltas de fatores que nos limitam, ou seja, temos falado muito sobre o assunto, desejamos fazer parte do processo político, mas ainda estamos na teoria e com meras oportunidades.
A começar pelos números. Segundo dados da Comissão Gestora de Política de Gênero do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 2016 e 2022, o Brasil teve, em média, 52% do eleitorado constituído por mulheres, 33% de candidaturas femininas e apenas 15% de eleitas. Essas informações mostram que as mulheres ainda estão muito longe da tal oportunidade na política.
O primeiro questionamento que faço é sobre a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), que estabelece que cada partido deve preencher um percentual mínimo de 30% de candidaturas femininas entre seus candidatos em eleições proporcionais. A Lei tem um objetivo nobre, que é possibilitar uma participação mais igualitária entre homens e mulheres que concorrem a cargos eletivos, mas só a lei por si, é falácia.
Posso dizer com propriedade isso! Por exemplo, nós estamos exatamente na época em que os partidos começam a recrutar mulheres para cumprir a porcentagem determinada por lei, mas isso não significa dar oportunidade igual a homens e mulheres. É a tal da “candidatura laranja”, na qual os partidos atendem as cotas de gênero, APENAS.
“Partidos começam a recrutar mulheres para cumprir a porcentagem determinada por lei, mas isso não significa dar oportunidade igual a homens e mulheres. É a tal da “candidatura laranja”
Esse tipo de fraude é comum, infelizmente! Basta observar as atitudes do partido e qual o posicionamento das mulheres nesse cenário apenas numérico. Muitas vezes as mulheres têm votação zerada ou inexpressiva, não possui movimentação de recursos na campanha ou mesmo não participa em atos de campanha.
De modo geral, cumpre-se a lei, mas existe uma total impossibilidade de a mulher ter uma efetiva participação, a concorrer mesmo, a pleitear uma vaga, a ser uma concorrente política de fato. O que acontece, de tempos em tempos, é a comunicação de desistência de candidatura feminina em tempo para substituição, seguida de total silêncio do partido. Aqui em Mato Grosso, então, aconteceu essa situação recentemente.
Sinceramente, isso é um absurdo. Você é convidada para fazer parte de um partido apenas para preencher, mostrar a sua cara em propagandas para dizer que está no partido X, mas não ter voz em momento algum. Somos fantoches? Eu participei de um partido e não tive voz, você não faz parte das decisões e não é tratada com respeito. É do dia para a noite que você entra e sai.
É triste! E depois falam que o Brasil precisa ter mais mulheres na política, e eu fico me perguntando: e se as mulheres que entrassem na política fossem, de verdade, tratadas e conduzidas de forma igualitária, e não apenas postas e preencher vaga e depois aceitar um cargo “por fora”, sendo ainda conduzida pelas regras do partido. Eu, até hoje, não conheci nenhuma mulher que teve esse apoio político-financeiro ao disputar uma vaga.
Também pergunto: e as mulheres que entram na política, quais as suas propostas de fato, o que desejam? As mulheres precisam ser o centro da decisão, chamarem as demais para protestarem e não aceitar o formato como está. Quando o partido não tiver recurso para a campanha da mulher, devemos ir a público falar, SIM! Se vai perder prestígio com a denúncia? Não importa, isso não paga as contas, não faz a conduta enquanto pessoa, nem política e nem moral.
Sabe o que falta? Que fossem criadas leis ou mecanismos que garantissem a divisão dos recursos de forma igualitária no partido, tanto homens quanto mulheres, e não como acontece, uns têm preferência. O que pedimos não é que coloquem as mulheres “lá” no poder, mas sim que deem condições para que façamos o nosso trabalho. Aí sim, eu entendo como uma democracia, todo mundo trabalhando com as mesmas condições de trabalho.
Ressalto ainda que as mulheres que fazem por mulheres têm todo o meu respeito e meu voto. Nada de ficar embaixo do guarda-chuva dos caciques do partido, é preciso se impor e buscar o que é realmente essencial para o avanço social e democrático.
Sonia Mazetto é gestora de Potencial Humano, Terapeuta Integrativa, Fonoaudióloga e Palestrante
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