“Clima de velório” virou expressão-clichê no Flamengo de 2023. E o pós-eliminação contra o Olimpia foi exatamente dessa forma, com semblantes fechados, pouca conversa e o agravamento de uma situação que se tornou corriqueira: o distanciamento entre Jorge Sampaoli e jogadores.

Apesar da relação fria com o elenco e do desempenho bem abaixo do esperado, a posição de momento da diretoria é manter Sampaoli. O comando do futebol do Flamengo entende que o momento ruim não é responsabilidade exclusiva do treinador e aponta para a queda de produção e para a postura passiva de jogadores importantes do elenco.

Dentro do elenco, há grande insatisfação com a forma como Sampaoli se relaciona com os atletas. O grupo e alguns dirigentes consideram que o treinador tem dificuldade para gerir crises, tendo como exemplo mais extremo disso o caso do soco do ex-preparador físico Pablo Fernández em Pedro. A neutralidade no episódio em que um atleta foi agredido afastou ainda mais jogadores do comandante.

Por outro lado, há jogadores que gostam dos treinamentos de Jorge Sampaoli. Dentro do comando do futebol, há quem diga que os métodos adotados pelo argentino durante as atividades são os melhores desde a saída de Jorge Jesus, em 2020. Existe, aliás, quem considere o treinamento de Sampaoli até superior ao de Jesus.

Depois da derrota, Sampaoli esteve distante do grupo o tempo todo. Preferiu fechar-se com a comissão técnica. Um dos integrantes dela, o auxiliar Cristian Arán, que o substituiu à beira do campo após a expulsão, sentou-se num sofá ao chegar no hotel, e com olhos vermelhos, mostrou-se muito abatido.

Divergências não são novidade

Num ano em que já houve soco de preparador em jogador e troca de ofensas entre Gabigol e Marcos Braz, Sampaoli também já viveu momentos de tensão no vestiário. Após a vitória por 3 a 2 contra o Bahia, o argentino sofreu grande contestação por parte da diretoria por ter feito cinco substituições de uma vez no intervalo.

Em outros jogos, foi o baixo número de substituições que gerou discordância interna. É comum que Sampaoli termine as partidas sem fazer as cinco alterações. Contra o Olimpia, após o terceiro gol dos paraguaios, os atacantes Pedro e Everton Cebolinha não saíram do banco, mesmo tendo feito somente quatro mudanças. Resultado? Insatisfação acentuada.

Isolamento

 

Habitualmente calado, Jorge Sampaoli viveu novo capítulo de isolamento tão logo que chegou ao Paraguai, na quarta-feira. No bar do hotel da delegação, juntou-se a outras três pessoas, entre eles o supervisor Gabriel Andreatta e um de seus filhos, para assistir aos jogos da noite, entre eles Guaraní x Botafogo, também no Defensores del Chaco.

Diversos integrantes da delegação rubro-negra, entre eles Rodolfo Landim e Marcos Braz, passaram pelo mesmo bar, mas não houve qualquer diálogo com o treinador. Sampaoli não jantou com o restante da delegação e subiu direto para o quarto.

Cada vez mais sozinho, Sampaoli se sustenta pela qualidade de seus treinamentos, pelo desejo de continuidade por parte de figuras importantes da diretoria e de algumas lideranças do elenco. A questão é saber até quando o treinador terá o respaldo interno. O modo “Crise na Gávea” está de volta a todo vapor. (GE)