Gibran Lachowski/Comunicação 15 – Assessoria do 15º Intereclesial
Crédito/foto: Renan Dantas
Indígenas de diversas etnias realizaram a celebração de abertura das atividades de sexta-feira pela manhã (21) do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que ocorre em Rondonópolis/MT e reúne cerca de 1,5 mil representantes de todo o Brasil para refletir sobre a realidade social e eclesial do país e da América Latina. O encontro se estende até o sábado (22) e trata do tema “CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas”.
Cerca de 30 indígenas presentes no palco do Centro de Eventos Santa Terezinha, no bairro Jardim Belo Horizonte, intercalaram momentos místicos e de protesto. Lideranças das etnias Guarani Kaiowá (MS), Xerente (TO), Tupiniquim (ES), Tembé (PA), Xavante, Bororo, Chiquitano e Rikbaktsa (MT) registraram depoimentos, fizeram danças rituais, entoaram cantos sagrados, de luta, festivos e em respeito às forças da floresta.
Distribuídos entre homens, mulheres, adolescentes e crianças, eles também expuseram uma faixa em protesto ao Projeto de Lei (PL) do “Marco temporal”, que estabelece que uma terra pode ser demarcada apenas se já estivesse ocupada por indígenas no período de promulgação da Constituição Federal, em 1988. O Marco temporal foi aprovado na Câmara dos Deputados Federais, espera votação no Senado e sua constitucionalidade está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
As lideranças indígenas presentes no encontro em Rondonópolis ressaltaram a importância de suas múltiplas culturas, destacaram a resistência dos povos diante do agronegócio, desmatamento e latifúndio e pediram ajuda à Igreja, às Comunidades Eclesiais de Base, aos movimentos sociais e populares.
“Nós viemos aqui pra buscar mudanças pra nós, pra que mais gente entenda a nossa dificuldade, pra olharem mais pro nosso lado. Nossa vida está muito sofrida na parte da economia”, disse a bororo Gilmira Manoreru, de 31 anos, que mora na Terra Indígena Tereza Cristina, no município de Santo Antônio de Leverger (MT).
Gilmira veio para o Intereclesial com esposo e filhos e manifestou seu temor caso a tese do Marco temporal seja mantida pelo STF. “Isso aí acaba com a nossa cultura, nossa dignidade, mata os peixes, acaba com a nossa sobrevivência e prejudica o futuro das crianças”, afirmou.
Num dos momentos da cerimônia indígena os participantes foram estimulados a repetir em voz alta palavras de ordem contra o Marco temporal, ao que responderam prontamente. A celebração durou cerca de 40 minutos e foi aplaudida em várias situações pelo público, composto de representantes de comunidades de todo o país, religiosas e religiosos, bispos, membros de organismos ligados à Igreja Católica, a outras denominações cristãs e expressões espirituais, integrantes de movimentos sociais e populares.
Representante jovem dos Guarani Kaiowá, Quênio Yvyraija, disse que sua presença no encontro tinha o objetivo de fortalecer o contato com os movimentos sociais e os vários organismos da sociedade. “Precisamos fazer isso para lutar por melhoria na nossa vida e conseguir visibilidade”.
Quênio tem 15 anos e mora na Terra Indígena Panambizinho, situada no município de Dourados (MS). Ele explicou que “Yvyraija” significa “aprendiz de um rezador” e expôs que sua participação em encontros como o das CEBs fortalece sua ação individual e coletiva. “Eu me orgulho de poder ensinar e aprender com as pessoas”, comentou.
Programação
A programação do 15º Intereclesial continua nesta tarde de sexta (21) com trabalhos em grupo em várias comunidades de Rondonópolis. O objetivo é definir propostas de compromissos a serem assumidos pelas CEBs do Brasil com vistas a uma Igreja participativa que busque uma sociedade mais justa e fraterna. O conjunto total das proposições será socializado amanhã entre os participantes, que definirão as principais ações.
Na noite de hoje (sexta, 21) ocorre a Romaria dos Mártires da Caminhada, com procissão pelas ruas de Rondonópolis em homenagem a pessoas que foram mortas por defenderem causas sociais e por isto permanecem vivas na memória da luta popular.