O detento Gilmar Reis da Silva, de 43 anos, conhecido como “Coiote”,”Negão”, ou “Vovózona”, considerado líder do Comando Vermelho da região Sul de Mato Grosso, conseguiu fugir na última sexta-feira (14), durante saída para serviço extramuros. Ele foi recentemente transferido da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, para a Penitenciária Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande, após alegar “saúde debilitada”.

De acordo com o boletim de ocorrência, Gilmar e mais um detento, identificado como Thiago Augusto Falcão Oliveira, de 28 anos, eram conduzidos por policiais penais da penitenciária em Várzea Grande para cumprimento de mais um dia de trabalho em Cuiabá, necessário para remição de pena. A escolta precisou parar em uma autocenter para verificar as condições de uma viatura descaracterizada que havia sido deixada no local para conserto. Durante a parada, os recuperandos fugiram, não mais sendo localizados.

Pedido de transferência

Para ser transferido, a defesa do detento, que é considerado de alta periculosidade, alegou saúde debilitada e superlotação na PCE. O pedido foi feito pelos advogados Luciana Gomes da Silva e Fernando Fernandes Fidelis, que ainda alegaram não existir núcleo de saúde na PCE e que no Complexo Ahmenon possui maior estrutura para um cumprimento de pena digno.

Na decisão que autorizou a transferência, o juiz Leonardo de Campos Costa e Silva Pitaluga alegou “pedido de transferência merece deferimento”. Contudo o Rdnews apurou que a unidade de Várzea Grande, que tem sido palco de ordens do Comando Vermelho em mortes pelo Estado, também está com a capacidade máxima atingida.

Não há informações de como ocorreu a fuga do detento. De acordo decisão, a situação penal de “Coiote” atendia aos requisitos para autorizaação da transferência, tais como “bom comportamento” e “já ter preenchido o requisito objetivo para a progressão ao regime semiaberto em 14.05.2019, além de já ter sido beneficiado anteriormente com a concessão de prisão domiciliar por ausência de tratamento médico regular no interior da PCE”.

Após o pedido, o Ministério Público manifestou pela expedição de ofício à Secretaria Adjunta de Administração Penitenciária (SAAP) para que tomasse as medidas cabíveis acerca do pedido defensivo. O juiz, então, determinou em abril deste ano para que a SAAP informasse se havia possibilidade do presídio em Várzea Grande receber o detento, mas não houve resposta. No dia 10 de maio, nova solicitação foi feita e, mais uma vez, ignorada.

Posteriormente, a SAAP respondeu apontando “incompatibilidade da pena privativa de liberdade” com o perfil da população custodiada na penitenciária de Várza Grande. “Diante do que foi demonstrado, o interesse particular da PPL em pleitear sua transferência para o CRIALD não pode se sobressair ao interesse público. Sendo assim, esta superintendência manifesta pela manutenção do recuperando Gilmar Reis da Silva na PCE”, salientou.

Por meio de nota, a SAAP confirmou a fuga dos dois reeducandos do Complexo Penitenciário Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande, na última sexta. “A SAAP foi informada do ocorrido por volta das 18h e registrou boletim de ocorrência. Um procedimento interno foi instaurado para apurar as circunstâncias da fuga”, diz trecho da nota.

Prisão em festa

“Coiote” foi preso em julho de 2021, dento do QG dele, por policiais da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) de Rondonópolis (a 218 km de Cuiabá), em uma festa de comemoração durante a operação New Life, em alusão às alegações de recomeço de uma nova vida pelo principal alvo da investigação, o Coiote, que informou que “nasceria de novo”, pois teria uma ficha totalmente limpa que possibilitasse circular livremente e, para isso, utilizou documentos falsos, inclusive para abrir uma empresa de transportes.

Com “Coiote”, os investigadores encontraram um documento de identificação com nome de uma pessoa, mas a foto que constava no RG era do homem que se apresentou como proprietário da residência. Em entrevista na DERF, ele argumentou que tirou um novo documento para ficar “limpo” na praça, sem qualquer passagem criminal, viajar e montar uma empresa, sediada em Cuiabá e destinada a transportes rodoviários. A empresa foi aberta por ele com um CPF emitido em nome da mesma pessoa cujos dados constavam no RG.

(Rdnews)