Com três anos seguidos na primeira divisão, o Cuiabá fez o que poucos clubes do mesmo porte econômico conseguem: alcançou a elite e nela permaneceu. Apesar das limitações financeiras. E sem cometer nenhuma irresponsabilidade do ponto de vista administrativo e financeiro.

A conclusão se embasa pelos números que o clube descreve em suas demonstrações financeiras e contábeis. O documento mais recente, referente a 2022, mostra que seus dirigentes mantiveram o juízo em relação ao dinheiro, mesmo com o evidente crescimento recente.

Como contexto aos não torcedores do Cuiabá – até porque os torcedores já devem saber de cor e salteado –, trata-se de uma SAF administrada por empresários da família Dresch desde 2009.

Não é um clube-empresa com a característica dos mais recentes do futebol brasileiro, nos quais os novos proprietários chegam com um caminhão de dinheiro para fazer investimentos. A família que toma conta do Cuiabá até empresta dinheiro do bolso, mas são quantias baixas.

Tampouco é um clube de futebol de enorme torcida, que está suscetível à pressão pública na sua tomada de decisões. Todo dirigente está sujeito a críticas, mas neste caso específico cartolas vêm demonstrando que ambições no futebol não estão acima do financeiro.

Talvez sejam essas as características que expliquem o comportamento que está ilustrado por números. Receitas em alta, gastos dentro do possível e dívidas praticamente zeradas; este é o quadro financeiro que o ge detalha a seguir, com base nos documentos contábeis mais recentes.

Panorama

A consolidação na primeira divisão e o juízo financeiro fazem com que o Cuiabá tenha uma das relações mais saudáveis entre faturamento (tudo o que se arrecada no ano) e endividamento (o que havia a pagar no último dia de cada exercício). Ela é positiva, com sobras.

Quase nenhum clube pode ser dar ao luxo de gastar tudo o que arrecada com o presente, ou seja, com salários de jogadores que estão em campo hoje, em vez de dívidas antigas. É o caso desta SAF.

O maior desafio continua a ser a expansão das receitas. Com cerca de R$ 130 milhões por ano, o Cuiabá está em desvantagem mesmo perante adversários diretos na metade inferior da tabela do Campeonato Brasileiro. A margem de erro no uso desse dinheiro é apertada.

A relação entre receitas e dívidas do Cuiabá

Receitas

  • Direitos de transmissão consideram os pagamentos do Brasileirão e as premiações da Copa do Brasil e da Sul-Americana. O fato de ter participado de uma competição internacional demonstra um avanço, mas a eliminação precoce nos dois torneios de mata-mata atrapalha;
  • O departamento comercial é um dos que menos geram dinheiro na elite do futebol brasileiro, por meio de patrocínios e publicidades. Outro ponto negativo: o montante arrecadado em 2022 foi cerca de R$ 3 milhões menor do que o registrado em 2021;
  • Nas receitas diretamente ligadas à torcida, vem a boa notícia. Bilheterias aumentaram em quase R$ 10 milhões entre um ano e outro, graças à reabertura plena dos estádios após a pandemia. Embora o valor seja relativamente baixo, se comparado a adversários, não deixa de ser um incremento nas contas cuiabanas;
  • As demonstrações contábeis do Cuiabá apontam uma quantia alta arrecadada em “outras receitas”, mas não indicam transferências de atletas*. Possivelmente, o valor se trata da venda de direitos de jogadores. Se for o caso, a quantia pode ser considerada alta.

Dinheiro e performance

Apesar de a arrecadação ser relativamente baixa, não há dívidas, então o Cuiabá pode gastar a maior parte de seu dinheiro em folha salarial do futebol sem dor na consciência. Foram R$ 80 milhões no ano passado, item que inclui salários, encargos, direito de imagem e de arena, premiações e deduções de natureza previdenciária.

Com a décima terceira folha da primeira divisão, o clube escapou do rebaixamento. Poderia ter sido melhor, mas não chega a ter sido ruim. Nesta fase de desenvolvimento do negócio, garantir a permanência no primeiro escalão é a parte mais importante.

Para o futuro, existem dois caminhos, não excludentes. O Cuiabá precisará aumentar a sua receita, para que possa gastar mais, sem perder o juízo financeiro que o caracteriza. Enquanto isto não acontece, o clube deverá manter a eficiência em relação ao futebol. Fazer mais com menos é imprescindível para que o projeto siga firme.

CUIABÁ2022
Folha salarialR$ 80 milhões
Ranking da folha13º
Brasileiro16º
Copa do Brasil3ª fase
Libertadores
Sul-AmericanaFase de grupos

Dívidas

Com R$ 2 milhões a pagar no curto prazo (em menos de um ano) e outros R$ 2 milhões no longo (em período superior a um ano), o Cuiabá está em posição rara e bastante confortável. Melhor até do que em 2021.

Por mais que caia para a segunda divisão em algum momento, o impacto no orçamento tende a ser menos dolorido, justamente por estar com as finanças em ordem. A diretoria pode reorganizar os gastos do clube sem ter preocupações exageradas com dívidas feitas na fase de alta.

  • Dívidas bancárias apontam empréstimos bancários e também os feitos pelas pessoas que participam da administração do clube, integrantes da família Dresch;
  • Obrigações trabalhistas são correntes. Eis um exemplo: se os salários de dezembro são pagos só em janeiro, eles aparecem no balanço financeiro, que se encerra em 31 de dezembro, entre os passivos. Mas não são dívidas no sentido popular, de atraso;
  • Nas contingências, estão ações judiciais movidas contra o clube. Segundo a avaliação do departamento jurídico, a probabilidade de perda é alta, então os valores são provisionados entre as dívidas. Porém, o valor é muito baixo para suscitar qualquer preocupação da torcida.

(GE)