Os investimentos dos clubes da Série A na contratação de atletas atingiram o maior valor da série histórica em 2022. Foram 1,303 bilhão de reais – um aumento de 46% em relação a 2021. É o que aponta o relatório de 2023 produzido pelas consultorias Convocados, Galapagos e OutField. A projeção aponta o Cuiabá com a menor dívida entre os clubes da elite. O Dourado deve R$ 3 milhões, nada comparado aos quase R$ 1,5 bilhões que o Atlético-MG tem que pagar.

O estudo revela ainda um crescimento de 8,9% na dívida líquida das equipes da elite do futebol brasileiro. Atlético-MG, Corinthians e Cruzeiro apresentam os maiores passivos do país. Cuiabá, Goiás e Flamengo tiveram as maiores reduções do que devem de 2021 para 2022.

 — Foto: Infoesporte

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– Minha sensação foi de um ano sem surpresas. Os clubes que estavam bem seguiram bem, e os que estavam em dificuldades não tiveram melhorias relevantes. Mas o futebol retomou o caminho perdido na pandemia, recuperando receitas. Se posso dizer que algo incomoda é o aumento das dívidas. Já passamos da hora de solucionarmos esse problema – alertou Cesar Grafietti, sócio da consultoria Convocados.

Investimentos

Os clubes da Série A de 2022 gastaram um total de R$ 1,758 bilhão no ano passado com contratação de atletas, categorias de base e infraestrutura. Um aumento de 29% em relação aos R$ 1,358 bilhão investidos em 2021.

Quando coloca-se a lupa sobre esses valores é possível perceber que o grande responsável por isso foi a prioridade pela aquisição de novos atletas nos elencos. O montante destinados às categorias de base e infraestrutura permaneceu praticamente o mesmo de 2021. Confira mais no gráfico abaixo:

O aumento dos gastos com o elenco profissional em 2022 foi puxado por dois times cariocas: Botafogo e Flamengo – 64% do valor incremental veio da dupla. Quase todos os clubes aumentaram os investimentos com o time principal no ano passado, com exceção de Atlético-MG, Bragantino, Grêmio e Palmeiras.

É importante ressaltar, porém, que alguns clubes gastaram além do que podiam. A preocupação por uma melhora no desempenho esportivo no ano é um dos motivos para os dirigentes assumirem mais compromissos financeiros do que o recomendável. Veja o panorama abaixo:

Relação entre investimentos e EBTIDA — Foto: Reprodução

Relação entre investimentos e EBTIDA — Foto: Reprodução

Dívidas dos clubes brasileiros

O somatório da dívida dos clubes da elite ultrapassou a casa dos 10 bilhões de reais no último ano. Um aumento de 8,9% em relação aos 9,178 bilhões de 2021. São R$ 3,338 bilhões de passivos onerosos, R$ 3,233 bi de dívidas operacionais e mais R$ 4,147 bilhões em impostos e acordos. Isso tudo descontando os 718 milhões disponíveis em caixa.

O ponto positivo foi um pequeno aumento percentual no alongamento das dívidas. Houve uma redução de dois pontos percentuais das obrigações imediatas, de curto prazo. Confira:

Composição das dívidas — Foto: Reprodução

Composição das dívidas — Foto: Reprodução

A situação dos débitos de cada clube brasileiro varia bastante. A maioria aumentou o passivo de 2021 para 2022. Apenas Avaí, Coritiba, Cuiabá, Flamengo, Goiás e Juventude fugiram da regra e conseguiram diminuir o quanto cada um deve. Por exemplo, As dívidas do Coxa foram reduzidas graças ao processo de Recuperação Judicial ao qual o clube passou.

Na outra ponta, o Atlético-MG segue com a maior dívida do Brasil: R$ 1,498 bilhões de reais – número que cresceu 14% em 2022. Outro clube com passivos na casa do bilhão é o Corinthians, que viu suas obrigações aumentarem 7% de 2021 para 2022.

Maiores dívidas de 2022

Clube2021 (em milhões)2022 (em milhões)VariaçãoVar. %
Atlético MG1315149818314%
Corinthians9631029667%
Cruzeiro7238007711%
Vasco71071551%
São Paulo6326986610%
Botafogo46561414932%
Fluminense50161211022%
Internacional578604275%
Athletico45060115134%
Bragantino33152619559%
Santos448482358%
Palmeiras449462133%
Grêmio2363309440%
Flamengo450327-123-27%
Bahia17627610057%
Coritiba225188-37-16%
América MG1011333232%
Avai9673-23-24%
Fortaleza43601842%
Ceará4956612%
Juventude2924-5-17%
Goiás4424-20-45%
Atlético GO712571%
Cuiabá113-8-73%

Vale destacar que os números acima são feitos com base nos próprios balanços dos clubes, mas analisados com critérios técnicos específicos e diferentes de apresentados por algumas equipes. Um exemplo é a exclusão da posição de disponibilidades (caixa) da soma total das dívidas. São Paulo discorda dos valores apresentados e relata que a dívida caiu de R$ 642,4 milhões para R$ 586,5 milhões em 2022.

Os números das SAFs são a soma entre suas dívidas e as dívidas das associações. Especialista em gestão e finanças do esporte, Cesar Grafietti ponderou os riscos desses grandes passivos:

– Alguns clubes precisam de maior atenção ao endividamento. Há riscos de clubes ficarem insustentáveis por conta da necessidade de honrar dívidas. Infelizmente, os exemplos de Botafogo, Cruzeiro e Vasco parecem pouco. Os clubes viraram SAF, e ainda assim mostram como é complexo recuperar a competitividade perdida. Quem não se atentar a isso e acreditar que haverá uma saída mágica pode ter problemas insolúveis.

O estudo fez ainda uma projeção para avaliar quantos anos cada clube levaria para conseguir acabar com as dívidas, caso as equipes utilizassem 20% das receitas médias anuais do últimos quatro anos (2019 a 2022) para pagá-las.

Atlético-MG (20,9 anos), Cruzeiro (19,9), Botafogo (18,8), Vasco (17,5) e Bragantino (12) são os clubes que levariam mais tempo para concluir a árdua missão de zerar o passivo. Cuiabá (0,2), Atlético-GO (0,8), Goiás (1,2), Flamengo (1,6) e Fortaleza (1,8) seriam os mais rápidos a conseguirem tal feito. Veja a lista completa abaixo:

Para Grafietti, a solução para uma melhor gestão financeira dos clubes passa por uma maior eficiência nos gastos.

– Gastar melhor o pouco que tem. Aumentar as receitas é difícil, então melhorar seu uso é o ideal. E reestruturar as dívidas para que caibam no bolso. Leva tempo, sacrifica a competitividade atual, mas é uma forma de pensar no clube a longo prazo – destacou o sócio da consultoria Convocados.

Receitas

Os clubes da elite do Brasil arrecadaram um total de R$ 6,915 bilhões em 2022. Número ligeiramente inferior aos R$ 6,939 bi de 2021 e 0,7% maior que 2019 (R$ 6,867 bi), quando se vivia um cenário pré-pandemia.

Houve evolução nas receitas recorrentes (aquelas que não dependem de eventos extraordinários como vendas de atletas). Foram R$ 5,757 bilhões em 2022 contra R$ 5,298 bi de 2019. O aumento da participação das receitas recorrentes indica que houve uma menor presença das cifras com negociação de jogadores. De acordo com o relatório, houve um aumento nas receitas com publicidade (de 11% em 2019 para 19% em 2022) e com o torcedor (14% para 15%). Confira:

Detalhamento das receitas dos clubes — Foto: Reprodução

Detalhamento das receitas dos clubes — Foto: Reprodução

Entre os clubes, Flamengo e Corinthians se destacaram com as duas maiores receitas recorrentes da temporada: R$ 1,043 bilhão e R$ 633 milhões, respectivamente. Com bom desempenho na Libertadores e no Brasileirão, o Fortaleza também demonstrou bons números, com aumento de 36% nas cifras (240 milhões de reais).

Ao analisar as receitas totais, o Flamengo segue destoando dos demais clubes. Com R$ 1,170 bilhão arrecadados em 2022, o time carioca teve uma receita de 379 milhões de reais a mais do que o segundo melhor (Palmeiras). Só o Flamengo foi responsável por 16,9% do total acumulado pelos clubes da Série A no ano passado.

Existe uma clara concentração de receitas na elite do Brasil. Flamengo, Palmeiras, Corinthians e São Paulo foram responsáveis por 49% do total arrecadado. Na sequência, um bloco de sete clubes representou 35% das cifras totais: Atlético-MG, Internacional, Bragantino, Fluminense, Santos, Athletico-PR e Fortaleza. Logo, apenas 11 clubes concentram 84% das receitas.

Maiores receitas em 2022

Clube2021 (em milhões)2022 (em milhões)DiferençaVAR (%)
Flamengo11151170565%
Palmeiras963791-173-18%
Corinthians53473720338%
São Paulo49266116934%
Atlético MG535422-113-21%
Internacional404415113%
RB Bragantino3083534515%
Fluminense342339(3)-1%
Santos394329-64-16%
Athletico2803264616%
Grêmio492299-193-39%
Fortaleza1802597944%
Coritiba931647176%
Vasco197153-44-22%
Cruzeiro162150-12-7%
Ceará14815021%
America MG1071494138%
Botafogo1291421310%
Cuiaba741335979%
Bahia212107-105-50%
Goias5310753100%
Atlético GO120100-20-16%
Avaí279265241%
Juventude727645%