“Hoje eu desenho o cheiro das árvores.”

(Manoel de Barros)

Faz 53 anos que o senador democrata estadunidense Gaylord Nelson (1916-2005), em 1970, organizou um protesto ambiental nas cidades de Whashington, Nova York e Portland, com auxílio até de políticos conservadores, universidades e 20 milhões de pessoas, para alertar e conscientizar sobre as questões ambientais; como consequência dessa manifestação foi criado o órgão responsável pelas questões ambientais denominado Environmental ProtectionAgency . somente em 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) determina que o dia 22 de abril seria o Dia Internacional da Mãe Terra. Mais de meio século depois das manifestações nos Estados Unidos, a Mãe Terra agoniza por causa de três cenários distópicos: 1. Mudanças climáticas; 2. Perda de biodiversidade; 3. Poluição.

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Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças climáticas (IPCC-ONU), de março deste ano, é urgente a necessidade de se conter o aquecimento global; ou se reduz à metade as emissões de gases responsáveis pelo Efeito Estufa ou os desastres socioambientais serão inevitáveis. Para se ter uma ideia, só a conhecidíssima JBS (proprietária das marcas Seara, Swift e Friboi) é quem mais contribui negativamente na emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global; aliás, só a produção anual de frango e de suíno dessa empresa é responsável pela emissão de gases equivalente às emissões de 14 milhões de carros. É sabido que o aquecimento global antropogênico pós 2ª Revolução Industrial é o responsável por alterações no clima como as das precipitações pluviométricas e do derretimento das calotas polares.

Biodiversidade é a variedade de seres vivos do planeta e as funções que eles desempenham na natureza. Alia-se ao aquecimento global a destruição sistemática da biodiversidade e os efeitos são catastróficos. A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos afirma que um quarto de plantas e animais do planeta correm risco de extinção e a espécie humana, em sua maioria, parece não se importar com isso. Estudos indicam que a Terra, em 500 milhões de anos, já passou por cinco megaextinções e, atualmente, está em curso a sexta – a diferença é que esta é a única causada pela ação humana.As principais causas da perda de biodiversidade são a destruição de habitat, a introdução de espécies exóticas e uso exagerado de recursos naturais. Em “A sexta extinção: Uma história não natural”, livro de Elizabeth Kolbert, vencedor do Prêmio Pulitzer de Não Ficção em 2015,pode-se entender os porquês – se nada for feito e rapidamente – de nos transformarmos em “ervas daninhas”.

Quem nunca presenciou um idiota jogando uma latinha ou uma bituca de cigarro em uma rodovia? Quem nunca viu um noticiário sobre derramamento de petróleo no mar? Assistimos a ações poluidoras constantemente e – por mais inacreditável que pareça – não nos indignamos: poluir é normal (sic). Entende-se por poluição ambiental é qualquer tipo de ação ou obra humana que provoque danos ao meio ambiente. Há um provérbio indígena que vaticina: “Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.”Grosso modo, pode-se dividir a ação poluidora humana em antes e depois da 2ª Revolução Industrial; todavia, o desenvolvimento do capitalismo moderno e a intensificação do consumismo, somados à explosão demográfica, elevaram a poluição a níveis inimagináveis, inclusive, ameaçando a sobrevivência das espécies do planeta. Gorbachev, no século passado, afirmou: “O maior desafio tanto no nosso século quanto nos próximos é salvar o planeta da destruição. Isso vai exigir uma mudança nos próprios fundamentos da civilização moderna – o relacionamento dos seres humanos com a natureza.”

Ainda há tempo salvarmos a Mãe Terra, basta que entendamos duas coisas: uma, somos um único organismo vivo e interdependente, como foi dito por um astronauta, no Documentário “Planeta sob pressão”:“Quando olhei para baixo, vi um rio extenso serpenteando ao longo de quilômetros, passando de um país para outro sem parar. E vi como um oceano toca as praias de vários países. Duas palavras saltavam em minha cabeça enquanto eu olhava para tudo isso: unidade e interdependência. Somos um mundo único.”; outra, temos que mudar o modelo socioeconômico vigente e Mahatma Gandhi, de forma simples, ensinou: “Sempre houve o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas. Nunca haverá o suficiente para a cobiça humana”. Se enxergarmos o mundo sob a óptica do provérbio chinês “Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje.”, mudaremos a maneira como nos relacionamos com a Mãe Terra.

 

*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Foi Diretor Executivo da Funec. 

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