Novo técnico do Corinthians, Cuca chegou ao clube sob protestos, foi apresentado nesta sexta-feira e se pronunciou sobre o caso de estupro pelo qual foi condenado na Suíça, em 1987, ao lado de outros três jogadores quando atuava pelo Grêmio.
Em meio a protestos de torcedores do lado de fora do CT Joaquim Grava, Cuca falou sobre o assunto logo na chegada à entrevista coletiva. Antes, recebeu a camisa 10 do Timão das mãos do presidente Duilio Monteiro Alves.
Depois, disse querer ajudar em causas a favor das mulheres. Por duas vezes, consultou um papel para lembrar o nome da campanha “Respeita as minas”.
– Esse é um tema delicado, um tema pessoal meu. Eu faço questão de falar sobre ele, e vou tentar ser o mais aberto possível quanto a isso, quanto ao que me cabe. É um tema que aconteceu há 30 anos, em 1987, eu fazia, não sei ao certo, estava emprestado do Juventude ao Grêmio, fiquei uns 20 dias para tirar o passaporte. Tenho vaga lembrança de tudo o que aconteceu porque foi há muito tempo. Nessa vaga lembrança que tenho, eu tinha 20 e poucos anos na época. Nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina ao quarto, o quarto era o que eu estava junto com outros jogadores. Era um quarto duplo. Essa foi a minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada – iniciou Cuca.
Os protestos começaram nas redes sociais após o anúncio do novo técnico, que substitui Fernando Lázaro. Depois, chegaram aos muros pichados da sede do Parque São Jorge com dizeres como “Fora Cuca” e “Diretoria incompetente”. E terminaram na porta do CT, com mais faixas contra o treinador.
– Se a vítima disse que eu não estava e eu juro por Nossa Senhora, que eu amo, que eu não estava, como é que eu posso ser condenado pela internet? O mundo mudou, eu sei disso, sei que a mulher tem uma autodefesa maior, e eu quero fazer parte disso. Eu sou pai, sou avô, sou marido, sou filho. Quero poder cada vez mais ajudar. Por isso estou aqui, um time que tem 53% de torcida feminina. Um time que tem a causa aí, até escrevi aqui, como é que é? Respeita as minas. Venho aqui e tem um protesto, é lógico que vai ter.
– Dizem que eu devo uma desculpa a sociedade. Por que eu devo uma desculpa? Dois anos e meio depois desse caso eu fui jogar ali do lado, na Espanha, nunca teve consequência nenhuma. A vida mudou, mudou para melhor. Essa causa eu quero abraçar, até para a proteção da minha família. Tudo isso machuca muito, mas do fundo do meu coração, pode ter protesto, pode ter o que for, não é maior do que a vontade que eu tenho de estar aqui – finalizou o técnico.
Cuca apresentado pelo Corinthians — Foto: Marcelo Braga
O presidente Duilio Monteiro Alves sabia da possibilidade de rejeição ao nome de Cuca e manteve o sigilo por essa razão: o clube precisava preparar o terreno para a repercussão que viria pela frente. E ela foi grande, como ficou claro nas manifestações na internet.
A data de estreia do técnico está marcada para este domingo, às 19h, contra o Goiás, em Goiânia.
Muros do Corinthians pichados contra chegada de Cuca — Foto: Reprodução
Veja mais respostas de Cuca sobre o caso:
Protestos impactam no trabalho?
– Espero que não. Joguei na Espanha, joguei na seleção brasileira, joguei em grandes clubes e treinei em grandes clubes. De um momento para cá, até por existirem outros casos, não são casos que você pode fazer comparativos com esse de 1987. Não tem cabimento comparar julgamentos de hoje com os que ocorreram naquela época. Hoje, pode ter protesto e eu, sinceramente, vou passar por cima de tudo. Se não tiver, vai ser mais fácil para que eu fique fortalecido.
– Hoje eu sou Corinthians. Se você me fortalecer, a chance de nosso time ser mais forte é maior. Se tiver protesto vou saber como passar por cima, mas de consciência tranquila. Isso é a maior coisa que um homem pode ter: saúde e paz. Você tendo isso, você dorme tranquilo. Eu durmo tranquilo, graças a Deus.
Conversou com Duilio sobre o caso?
– Sim, falei com o Duilio e ele me falou que teriam protestos. Eu estava predisposto a vir, mesmo por conta disso. Eu não vou ficar em casa me escondendo, eu não fiz nada. Eu sou inocente, estou com a consciência tranquila. Meu erro foi não ter ido ao julgamento, eu fui saber acho que depois de um ano que teve uma pena. Foram 11, 12 ou 13 meses, algo assim. Aconteceu isso e dois anos depois eu estava jogando na Espanha.
– Agora, vocês estão falando que teve condenação e eu fiquei aqui no Brasil. Não é verdade isso, eu tenho o advogado do Grêmio, o Cacalo está lá e pode te falar. Tem 200 mulheres ali? Lá no Galo também tinha e eu não me acovardei. Não tenho orgulho de estar passando por uma situação dessa, não é fácil para mim saber que minhas filhas e minha mãe estão vendo a entrevista.
Cuca apresentado pelo Corinthians — Foto: Marcelo Braga
Lembra detalhes do que aconteceu?
– Não me orgulho de estar falando desse tema, se eu não pudesse estar no quarto, eu não estaria. Mas eu estava lá, pelo menos enquanto as coisas aconteceram, eu não fiz nada, se é que aconteceu. O quarto era um “L”, você não sabe, você não vê, eu não sei. A minha parte é essa. Nós não estamos em um momento que é mais importante a palavra da mulher?
– A palavra da mulher era de que o Cuca não estava lá. Não o Cuca assim, desse jeito que eu estou falando, mas ela disse que eu não estava. Eu estou falando que não estava. Como que eu posso ser condenado? Hoje tem 200 mulheres me condenando pelo quê? É difícil, mas não vou desistir, não vou desistir. Saí do Galo e acho que até aquelas mulheres que não eram a favor mudaram de opinião.
Maior desafio da carreira?
– Cada dia está mais difícil porque eu estou ficando mais velho, mas eu estou energizado, estou com muita força. Vou fazer um bom trabalho aqui, tenho certeza e convicção de que vou fazer um bom trabalho aqui. Sei que o Duilio e o Alessandro estão tomando porrada por terem me trazido, mas eu não sou bandido (risos). Não faço isso, vocês me conhecem.
– Essa minoria que faz isso, sei que faz barulho e vai continuar fazendo. Que nem eu falei pro Duilio hoje: “Presidente, se você estiver arrependido e quer que eu vá embora, eu vou sem problema algum”. O protesto está sendo muito grande, mas eu não vou. Vim aqui para vencer e vou vencer, se Deus quiser.
Maior arrependimento no caso
– Eu tinha 23 anos, eu era quebrado. Não tinha dinheiro nem para fazer um voo daqui para Porto Alegre, quanto mais para ir pra lá (Europa). Eu era um funcionário do Grêmio, jogava no Grêmio. Hoje, se fosse no tempo de hoje, se tivesse acontecido agora, ia me favorecer muito. Você ia ouvir a moça: “Não, ele não estava. Não, ele não estava. Não, ele não estava”. Foram três vezes. Pronto. Eu já estou absolvido. Não existe coisa mais absoluta do que a palavra da vítima. Existe? Não, não existe. (GE)