Cuiabá, capital do Mato Grosso, completa 304 anos neste sábado(8).Fundada em 8 de abril de 1719, ainda durante o ciclo do ouro no Brasil, a capital é um dos acessos atrativos como o Pantanal, oferecendo um variado cardápio de opções aos visitantes, além de possuir uma rica cultura.  

Em homenagem ao aniversário da capital, o historiador Suelme Fernandes, explicou sobre o famoso linguajar cuiabano e suas influências.

Esclarecendo o ‘pertencimento cuibano’, que é a crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos, como membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores e aspirações. Ao explicar que há três expressões popularmente conhecidas na cidade, o cuiabano de ‘tchapa e cruz’, ‘pau rodado’ e ‘pau fincado’ .

Cuiabano de tchapa e cruz é uma identidade de pertencimento, refere a crianças que nasceram na capital. Já o pau rodado são pessoas que vêm à Cuiabá mas não ficam na cidade por muito tempo. E o pau fincado são pessoas que vieram de outras cidades para recomeçar suas vidas aqui, ou seja, estão na capital há muito tempo.   

“Diz de ‘tchapa e cruz’ porque era onde nasciam as crianças. Na Santa Casa da Misericórdia tinha um berçário e as freiras colocavam uma chapa que tinha uma cruz para identificação das crianças nascidas em Cuiabá. Já na década de 80, com a chegada dos imigrantes, começaram a diferenciar as crianças nascidas fora da cidade, que eram chamadas de pau rodado. A expressão é devido ao fato dos caules que caem no rio Cuiabá. Eles vão girando e parando nas curvas dos rios. Já o pau fincado é a pessoa que chegou de outra cidade, mas que ficou e criou ‘raizes na cuiabania’”, explica.   

Suelme ainda apontou que há várias teorias sobre o dialeto cuiabano, mas que, primordialmente, ele surgiu das confluências culturais derivadas da língua espanhola, portuguesa, africana e indígena. Essa pluralidade cultural acabou por dar origem, por exemplo, ao famoso ritmo do rasqueado cuiabano.   

“Precisamos levar em consideração que estamos dentro da região do Pantanal e que o cuiabano é, sim, pantaneiro. Além de estarmos na fronteira internacional com o Paraguai – antes da divisão -, e ainda com a Bolívia. O rasqueado é produto deste encontro. Quando a gente fala de uma relação internacional de Cuiabá, nós precisamos resgatar essa centralidade e essa nossa relação internacional com povos andinos e com os países latino-americanos”, pontuou o historiador.  

DICIONÁRIO CUIABANO

Ah! Uuum – Expressão que indica indignação, concordância ou não. É aplicada dependendo da situação E a entonação da voz muda.
Ex: ‘Ah! Uuum. Pára cô isso.”

Agora quãndo!? – Interjeição de duvida.
Ex: ‘Maria teve três namorado… hummm.. agora quando!?”

Agora o quequeesse! – Espanto
Ex: ‘Agora o quequeesse, mas que cabelo mais tchum tchum…”

Aguacêro – Bastante chuva, poças de água.
Ex: ‘Não deu pra ir lá, tava o maior aguacero na estrada.”

Arroz-de-festa – Denominação de quem não perde nenhuma festa . Está sempre em festa. Ex: ‘Ele vai em casamento, batizado, 1a comunhão, crisma, formatura,.. . é um arroz de festa.”

Atarracado (a) – Abraçado, juntos.
Ex: ‘Os dois tão atarracado ali no escuro.”

Até na orêia – Repleto, cheio, demais.
Ex: ‘Zé Bico comeu tanto peixe, que tá até na orêia.”

Bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais – Fim da festa.
Ex: ‘Acabou o baile… bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais.”

Bocó de fivela – Pessoa boba, burra, ignorante.
Ex: ‘Por mais que ocê explica, ela não entende, é uma bocó de fivela.”

Bonito prô cê – Expressão que indica quando a atitude tomada, não foi boa.
Ex: ‘Chegô em casa bêbado, bonito prô cê.”

Catcho – Namoro, paquera, amante.
Ex: ‘Aquele cara tá de catcho cô Maria.”

Cânháem – Latido de cachorro. Expressão usada para discordar.
Ex: ‘Você namora Maria Taquara? Canháem.”

Cêpo – Bom, ótimo, grande, admirável.
Ex: ‘O atlético Mato-Grossense era um cêpo de time.’

Chialá – Espia lá – Olhe lá.
Ex.: Maria, tchialá Mané, cêpo de burro veio fazeno quiném criancinha!

Coloiado (a) – Junto, próximo em grupo.
Ex: ‘Saldanha Derzi tá coloiado cô Garcia Neto.”

Cordero (a) – Denominação de quem gosta de dar corda nas pessoas.
Ex: ‘Não vai no papo dele, ele é cordero.”

Corre Duro – Andar mais rapido
Ex: ‘Vamos chegar atrasado vamos, corre duro.”

Cotxá – Relação sexual.
Ex: ‘Os dos devem ta cotxando, ta demorano demas.”

Tchá por Deus – Expressão de espanto, admiração, dúvida.
Ex: Chá por Deus, esse ônibus tá muito cheio. ‘

De jápa – Grátis, o que vem a mais.
Ex: Quando se compra uma dúzia de bananas, e recebe treze unidades. ‘Esse adicional é a de jápa.’

Digoreste – Ótimo, bom, exímio.
Ex: ‘O guri é digoreste pá pega manga.’

Ê aaah! – Indagação.
Ex: ‘Oia o tamanho do short? Ê aaah!’

Espia lá – Olha lá, veja.
Ex: ‘Espia lá, uma batida de carro.”

Futxicaiada – Muito fuxico. Excesso Excesso de mixirico.
Ex: ‘O ambiente ali não tá bom, é só futxicaiada. ”

Festá – Festar, participar de festa.
Ex: ‘Maria foi festá.”

Foló – Folgado, largo.
Ex: ‘Maciel usa calça foló.”

Garrô – Pegou, começou, realizou.
Ex: ‘Ele garrô cedo no trabaio.”

Grocotchó – Pessoa mole, doente, desanimado.
Ex: ‘Tchico tá grocotchó.”

Jururú – Triste, quieto.
Ex: Padre Luiz Ghisoni tá jururú na porta da igreja de Várzea Grande.’

Leva-e-tráz – fofoqueiro.
Ex: ‘Kitú é um grande leva-e-tráz.”

Londjura – Distância. Longe, muito distante.
Ex: ‘Nessa lonjura não dá pá ir a pé.”

Malemá – Popular de ‘mal e mal’. Mais ou menos.
Ex: ‘E aí cumpadre como vai? Vou indo malemá tenteano.”

Mea orêa – Minha orelha. Expressão usada para indicar quem está sem lado, sem falar o nome da pessoa.
Ex: ‘Mea orêa aqui, tá a fim do cê.’

Micaje – Ato de fazer imitação de alguém, fazer caretas.
Ex: ‘Ela faz micaje de todo mundo que passa por aqui.”

Moage – Frescura. Enrolação.
Ex: ‘Você não quer ir com a gente? Larga de moage!”

Na txintxa – Levar uma ação com seriedade. Sob controle.
Ex: ‘Professora leva a turma na txintxa.”

Não tá nem aí pá paçoca – Não liga para nada. Não quer saber das conseqüências.
Ex: Tchá Bina, não ta nem aí pá paçoca. ‘

Nariz furado – Veio na vontade, veio na certeza.
Ex: ‘Chegou de nariz furado, certo que iria ganhar na conversa.’

Negatófi – Negativo. Não, nunca.
Ex: ‘Negatófi, hodje não tem televisão.’

O quá – Duvidar, não acreditar.
Ex: ‘Ele vem aqui? O quá!’

Pá terra – cair.
Ex: “Ele vinha correndo, e pá terra”! ‘

Podre de chique – Bonito, elegante, bem vestido.
Ex: ‘Jejé tá podre de chique.”

Pongó – Bobo, tolo, idiota.
Ex: ‘Gente Pongó não serve.’

Por essa luz que me alomea – ‘Por essa luz que me ilumina’ Pra dizer que está falando sério, que não está mentindo.
Ex: ‘Por essa luz que me lomea, ele tá falando a verdade.’

Quinco – Denominação carinhosa de Joaquim.
Ex: ‘Quinco Lobo era vereador em Cuiabá.’

Que, que esse? – O que é isso.
Ex: ‘Que, que esse? Como você apareceu aqui?’

Quá! – Expressão de espanto, indignação.
Ex: ‘Quá! Pode esquecer ele não volta mais.”

Quebra-torto – Comer no desjejum comida reforçada como carne com arroz farofa, etc…
Ex: ‘No sítio de manhã, sem quebra-torto é impossível.’

Rufar – Bater.
Ex: ‘Se aparecer aqui , o povo rufa ele.’

Refestelá – Sorrir, rir.
Ex: ‘Nico Padero é bom pra refestelá.’

Ribuça – Cobrir o corpo com lençol ou cobertor.
Ex:’Tá esfriando, rebuça menino.’

Rebuça e Chuça – Baile.
Ex: ‘Na guarita vai tê hoje uma chuça e rebuça.’

Rino no tchá cara – Rindo na presença de alguém.
Ex: ‘Ocê fala, ele fica rino no tchá cara.’ (rindo na sua cara)

Sucedeu – Aconteceu.
Ex: ‘Quando sucedeu isso?’

Tá de tchico – Está menstruada.
Ex: ‘Hoje ela não pode tá de tchico.”

Tchá mãe – Expressão características para xingar alguém.
Ex: ‘Tchá mãe, rapaz, vá tomá na tampa.’

Tóma corno(a) – Expressão usada quando alguma coisa não acontece de forma correta.
Ex: ‘Toma, corno. Marimbondo pegô na cara dele.”

Verte água – Urinar (educadamente) .
Ex: ‘Vidona foi verte água.’