O surto da ‘superbactéria’ Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC), no Hospital Estadual Santa Casa, em Cuiabá, ocorreu após uma bebê infectada dar entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, segundo uma médica que atuou na unidade ouvida pela reportagem. Durante a internação dela, outros oito bebês foram infectados, resultando em quatro mortes entre os dias 16 e 21 de fevereiro. Já a bebê que teria transmitido a bactéria morreu dias depois devido a outras complicações de saúde.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT) afirma, no entanto, que cinco bebês chegaram na Santa Casa já infectados pela ‘superbactéria’ e morreram por já estarem em estado avançado de infecção. Além disso, nega que outras oito crianças contraíram a bactéria dentro do hospital.

“Para receber os pacientes, o Hospital Estadual realizou exame protocolar de cultura de vigilância para determinação do tipo de leito, isolamento de contato e proteção. O exame identificou a existência da infecção. A infecção não foi o motivo da internação. A infecção pela bactéria só foi identificada no momento em que os pacientes deram entrada no hospital”, disse a médica.

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O estado afirma que as infecções deveriam ter sido identificadas e tratadas antes, quando os pacientes ainda eram assistidos por outras unidades de saúde e que a ação rápida, nestes casos, pode evitar o agravamento do caso e um surto.

De acordo com a médica ouvida pela reportagem, a primeira bebê infectada estava internada em um hospital participar da capital, que também atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e foi levada à Santa Casa para tentar um tratamento mais específico.

“O hospital foi em busca de medicamentos para tratar do surto. Os bebês foram tratados com o antibiótico que foi comprado. Cinco foram curados, inclusive o bebê que trouxe a bactéria, mas quatro morreram em menos de uma semana. A bebê que trouxe a bactéria morreu na semana passada por outra doença”, explicou.

Segundo a SES-MT, as equipes da Vigilância do estado e do município, do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foram notificadas para auxiliar no processo de contenção da infecção. As duas instituições ainda não se manifestaram sobre o caso.

‘Superbactéria’

A KPC faz parte de um grupo de bactérias “multirresistentes” – conhecidas popularmente como “superbactérias”. Esse tipo de bactéria é imune à maior parte dos antibióticos comuns, e precisam ser enfrentadas com remédios muito mais fortes. Em 2017, ela foi colocada na categoria “crítica”, a mais preocupante, em uma lista da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ao longo do tempo, classes de bactérias comuns – Klebsiella e Escherichia, por exemplo – “aprenderam” a produzir enzimas que inativam a ação dos medicamentos convencionais. Com isso, o tratamento se tornou mais caro e difícil, exigindo o uso de antibióticos de maior impacto.

Além das enzimas, as superbactérias podem se desenvolver a partir da transmissão de plasmídeos, que são fragmentos de material genético (DNA) passados de um micro-organismo a outro. Esse “conhecimento compartilhado” é absorvido pelas diferentes classes de bactérias, espalhando a característica de maior resistência entre diferentes grupos.

Infecções causadas por ela são mais comuns em hospitais. Nas unidades de saúde, a propagação acontece principalmente no contato com fluidos do paciente infectado, como por meio de sondas e cateteres.