A FGV Social, centro de estudos sociais da Fundação Getúlio Vargas, publicou recentemente a pesquisa “Mapa da Riqueza no Brasil”. O estudo mapeou o fluxo de renda e estoque de ativos (patrimônio) dos brasileiros de maior renda em todos os estados brasileiros e nos municípios com mais de 50 mil habitantes. Utilizou os dados das declarações do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF), conjugado com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua anual – PNADC (IBGE, 2022). A metodologia aplicada capturou a renda e patrimônio líquido declarados, gerados pela Receita Federal do Brasil, relativos ao ano de 2020.
A utilização da base de dados das declarações anuais do imposto de renda, permite capturar a renda formal dos brasileiros de maior renda com mais detalhamento e consistência que as tradicionais pesquisas domiciliares comumente utilizadas nos estudos da pobreza e desigualdade. Todavia, é necessário ressaltar que uma camada muito pequena da população faz declaração anual do imposto de renda. Segundo a própria pesquisa, em 24 das 27 unidades federativas, mais de 80% da população não fez a declaração anual de renda. Porque possuem renda mensal abaixo de R$ 2.000,00 e são isentos, ou até mesmo por omissão. Em Mato Grosso, apenas 16,21% da população fizeram a declaração anual do imposto de renda.
A pesquisa classificou e montou um ranking dos estados com maior renda média por habitante e em quais cidades vivem os brasileiros mais ricos. Brasília ficou em primeiro lugar como a unidade da federação com maior riqueza por habitante, seguida por São Paulo e Rio de Janeiro.As três cidades acima de 50 mil habitantes com maior renda são Nova Lima (MG), Santana do Parnaíba (SP) e São Caetano do Sul (SP). Maranhão aparece como o estado com a menor renda média do país. O estudo mostra uma visão panorâmica da extrema desigualdade social do Brasil, vista pela ótica da acumulação de riqueza. Exceto Brasília, as melhores posições no ranking dos estados mais ricos são ocupadas pelos estados do sul-sudeste (SP, RJ, SC, RS, PR, ES).
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Mato Grosso ocupa a 8a. posição no ranking dos estados mais ricos. Posição melhor que a ocupada pelo estado no ranking do PIB brasileiro (12a.), confirmando que a economia do estado conjuga o binômio crescimento acelerado econcentração de renda. Isso fica muito nítido no levantamento das dez cidades com maior renda do estado (Top 10 de 141):1. Primavera do Leste, 2. Sapezal, 3. Sorriso, 4. Cuiabá, 5. Lucas do Rio Verde, 6. Querência, 7. Campo Novo dos Parecis, 8. Campos de Júlio, 9. Campo Verde e 10. Sinop. Com exceção de Cuiabá, todas as demais têm sua estrutura econômica baseada na agropecuária. No outro extremo, as cinco cidades com menor renda por habitante são Barão de Melgaço, Rondolândia, Cotriguaçu, Nossa Senhora do Livramento e Colniza.
O estudo demonstra que durante o ápice da pandemia, mesmo com políticas de proteção social e transferência de renda, como o Auxílio Emergencial, não houve redução na desigualdade em Mato Grosso. Mostra também que a fotografia da realidade social exige considerar a distribuição espacial da riqueza e da pobreza na formulação, planejamento e execução de programas de proteção social, atração de investimentos e capacitação do capital humano.
A concepção, planejamento e execução de políticas públicas de curto, médio e longo prazo precisam, necessariamente, levar em consideraçãoque o estado possui ilhas de prosperidade e bolsões depobreza. Ilhas e bolsões que estão geograficamente espalhados em todas as regiões doestado. Caso tais fatores econômicos e sociais sejam desconsiderados, corremos o risco de perenizaçãodo atual e injusto mapa social do estado. Assim, Mato Grosso não conseguirá promover o tão esperado salto qualitativo para o desenvolvimento inclusivo. Esse movimento socioeconômico foi de relevante importância para os estados do sul-sudeste alcançarem a mais elevada posição no ranking das regiões mais ricas e desenvolvidas do país. Um grande desafio para todos nós mato-grossenses.
*VIVALDO LOPES DIAS é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP
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