A mulher começou de forma acanhada a participar do mercado de trabalho no início da década de 40, quando a Revolução Industrial começou a acontecer no Brasil. Como o salário delas era mais baixo, o setor industrial até começou a priorizar o trabalho feminino, mas sempre em atividades de menor importância, instituindo desde então a desigualdade salarial. Na década de 70 foi realmente quando começamos a ocupar outros espaços fora de casa e a exercer funções mais relevantes. Nessa década, pelo próprio contexto histórico de vários movimentos sociais, a questão das mulheres também esteve presente nesse cenário.
É inegável que houve avanços na participação da mulher nas últimas décadas, mas ainda existem alguns desafios quando o assunto é a mulher no mercado de trabalho. Isso porque existe discriminação e desigualdade salarial para a maioria.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou no censo de 2010 que 49,9% das mulheres estão inseridas no mercado de trabalho. Em 1950 eram 14%. O cenário é diferente, no entanto, se compararmos aos homens, com participação de 67,1%.
Embora haja um grande avanço, ainda persiste a desigualdade salarial e a qualidade de emprego. Embora muitas mulheres no Brasil tenham conquistado melhores posições e estejam sempre em busca de mais qualificação, e apesar de sustentarem suas famílias e seja parte ativa do orçamento familiar, alguns problemas ainda fazem parte da nossa realidade, entre eles:
- Salário – Mesmo sendo proibido por lei pagar diferentes salários para homens e mulheres, isso ainda não é suficiente para acabar com a desigualdade salarial;
- Jornada dupla – Mesmo trabalhando de forma remunerada e contribuindo no orçamento familiar, ainda somos responsáveis pelas atividades domésticas e cuidado dos filhos. De acordo com o IBGE, semanalmente, homens dedicam 10,9 horas às atividades domésticas, enquanto as mulheres dedicam 21,3 horas.
- Cargos de liderança – Antes era comum ver certas profissões exercidas apenas por homens, como o caso de Engenharia e Arquitetura de obras. Mas a maior desigualdade está ligada aos cargos ocupados por homens e mulheres na hierarquia das empresas. Apenas 41,8% dos cargos gerenciais são ocupados por mulheres.
- Assédio sexual – Por fazer parte de uma profissão exercida majoritariamente por homens, para fugir do assédio a mulher engenheira tem que se mostrar mais séria e mais dura.
Diante desse cenário, é impossível fechar os olhos para a importância da participação feminina e não se trata apenas de diminuir a desigualdade, mas também contribuir para a expansão da economia nacional e global. Em reunião do G20, o Brasil adotou como meta reduzir até 2025 a diferença entre homens e mulheres em 25%.
Ainda que leve tempo para superar todos os desafios da desigualdade, nós estamos ganhando espaços através de esforços próprios. Grande parte das conquistas no mercado de trabalho está ligada ao maior nível de qualificação, por isso não podemos deixar de investir na educação. Atualmente 23,5% das mulheres possuem curso superior enquanto 20,7% dos homens possuem curso superior
Curiosidade 1: A primeira mulher brasileira se formou em 1887 em medicina e a faculdade teve que fazer várias adaptações para recebê-la, inclusive com relação à criação de sanitário feminino. Além disso, nas aulas de anatomia ela deveria estar acompanhada por outra mulher casada.
Devemos incentivar para que essa participação seja cada vez maior e melhor através de algumas ações, como: divulgação de exemplos de lideranças; criação e divulgação de canais de apoio específicos ou ouvidorias que coíbam abusos e assédio, promovendo debates sobre o assunto, qualificação, e cobrança de políticas públicas e sociais.
Curiosidade 2: Enedina Alves Marques (1913-1981) entrou para a história como a primeira engenheira brasileira e a primeira mulher negra com a formação em Engenharia Civil. Ela se graduou em 1945 pela Universidade Federal do Paraná. A engenheira custeou seus estudos trabalhando como empregada doméstica e babá. No mercado de trabalho, Enedina era constantemente desrespeitada ou discriminada por ser uma mulher negra em uma posição de destaque. Ela liderou diversos peões, operários, técnicos e engenheiros e ficou conhecida por andar sempre de macacão e com uma arma na cintura. Um dos seus principais feitos foi a construção da Usina Capivari-Cachoeira, maior hidrelétrica subterrânea do sul do país.
No universo das engenharias a predominância é masculina. Em 2019, dos 1,3 milhão de profissionais registrados junto ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) apenas 16% eram mulheres. Em um segmento dominado por homens, a construção civil percebe um movimento positivo de mudanças. As mulheres passaram a representar uma mão de obra mais qualificada devido à persistência nos estudos e às características de organização, atenção aos detalhes e a capacidade de serem multitarefas. O lugar da mulher é onde ela quiser e a engenharia é nosso lugar.
*CÉLIA REGINA MAZZER CUNHA é Engenheira Civil graduada pela UFMT, concluindo especialização em Gestão de Projetos, assessora técnica CREA/MT, empresária, Diretora da ABENC, Conselheira na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Conselheira na Secretaria de Desenvolvimento Urbano.
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