Em entrevista para a televisão americana na sexta feira passada, o presidente Lula fez uma das mais importantes comparações necessárias para a paz no leste europeu. Após reafirmar o equívoco da Rússia em invadir a Ucrânia, disse que a guerra tem que parar, uma hora tem que parar, pelos mesmos motivos que os Estados Unidos tiveram que parar a do Vietnã.

Lula desarmou qualquer possível cobrança, de forma mais contundente, ao Brasil pelo envio de munições à Ucrânia. Enfim, o Brasil interage positivamente no cenário internacional.

A par dos estados oníricos que se vivenciou nessa quadra o país, até recentemente, a resposta foi de uma genialidade ímpar.

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Vale lembrar que os gregos chamavam “crisis” ao juízo, e também à decisão, porque quem decide escolhe entre, e separa (Mário Ferreira dos Santos), conhece abismos. E a guerra segrega, faz do abismo, mais abismo.

Reconhece-se que constantemente o homem forma juízos de e sobre algo. Julgar e separar é uma condição humana, que acompanha a existência. Também, que a cada escolha, mais separação, mais abismos, portanto. Contudo, algo os tornam mais rasos, ou menos profundos. E esse “calmante” é o efeito do amor, da paz.

O presidente Lula insere na perspectiva internacional o antídoto que faz areia no tenebroso tilintar das alvoradas artificiais da guerra e os clarões das suas bombas. Propõe a criação de um grupo de países com a precípua missão de negociar a paz em qualquer lugar do mundo onde ela for quebrada. Isso é síntese que impõe à diplomacia a busca de um novo paradigma: a paz como “arma” contra a guerra.

Liderar esse movimento na órbita mundial traz grandeza a um país que é gigante pela própria natureza.

Mas se haveria de perguntar: há tempo para isso? Na lição do já citado Mário Ferreira dos Santos – “E o tempo é enquanto não é; e não é enquanto é” -. O tempo não pode ser medido e nem relativizado. “O homem quando não crê e procura crer, fanatiza-se” (Idem). Então, melhor seguir crendo, mas sem ingenuidade.

Cada vez mais a vida convence a todos em priorizar a existência sem traumas, assim como o mundo das ideias platônico, onde a sensibilidade longe fica da matéria, conformando-se no espírito, na alma.O “Pai nosso” é “nosso Pai”, meu, seu e deles.

Internamente, se aguarda “a vida como ela é”, sem sobressaltos, a não ser aqueles que ditam certas regras, dentre as quais: a separação entre fé e Estado, Forças Armadas profissionais e distantes da política eleitoral e a segurança pública voltada para a cidadania, sem a mania da busca por heroísmos. Heróis são aqueles que pegam até quatro conduções para chegar ao trabalho às seis da manhã, após sofrerem todo tipo de privações diárias, inclusive do básico alimentar.

Assim como os objetos existentes são apenas uma parte dos objetos possíveis, que a bondade quantifique para mais e até substitua a condição humana da “crisis”, de se encontrar constantemente julgando e separando, criando abismos, num processo aparente de infinitude.

Retornar constantemente à realidade da vida, com recortes do que assombra, deixando-os nos vales perdidos da existência, retirando-lhes o juízo que repara a própria condição, para não mais voltar.

 

É por aí…

 

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto)   é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de CuiabáE é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e YouTube).

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