As históricas “Academias” do Palmeiras fizeram frente ao mítico Santos da Era Pelé. Agora, Ademir da Guia disse que o Palmeiras tem uma nova “Academia”, uma equipe multicampeã capaz de ser competitiva contra qualquer adversário, e sua presidente comprou um avião para poupar fisicamente os atletas do clube, enquanto o Santos lida com falta de dinheiro, dívidas, descrédito de desejados reforços, invasão de centro de treinamento e pressões internas e externas para que a diretoria contrate a qualquer custo, o que explica perfeitamente porque o Santos se enfiou no buraco em que está, pela pressão por gastar sem poder em vez de apoiar um plano objetivo. Enquanto o Palmeiras se organiza para ser um clube, o Santos tenta pelo menos continuar a ser um time de primeira divisão.

A equipe santista pode ter a seu favor um natural relaxamento dos jogadores palmeirenses, já que a intensidade da comemoração imediatamente após a vitória sobre o Flamengo, na conquista da Supercopa do Brasil, evidenciou quanta energia foi colocada em campo no sábado passado. Só que o Palmeiras já mostrou outras vezes ter cabeça fria e coração quente para lidar com as bonanças.

A diferença técnica entre os elencos é abissal, muito maior do que um avião particular. O futebol é cheio de surpresas, mas o Santos não vence o Palmeiras há dez jogos, o maior jejum dos clássicos estaduais entre os gigantes que estão na Série A. Neste Paulistão, o Palmeiras sofreu 71 finalizações e levou apenas um gol, em jogada rasteira. Sem contar um de pênalti, o Santos só fez gols (três) a partir de jogadas aéreas. A vitória do Santos seria uma surpresa maior que o Morumbi, palco do jogo. Mas é futebol.

O Espião Estatístico apresenta as chances de vitória de cada equipe na rodada do Paulistão. Ao final do texto, apresentamos a metodologia.

São Bento x Mirassol

 

 — Foto: Espião Estatístico

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Ofensivamente, são duas equipes com eficiências próximas: o São Bento tem um gol a cada 12,5 finalizações, e o Mirassol, um gol a cada 13,2 tentativas, 11ª e 8ª marcas, respectivamente. Mas o Mirassol tem conseguido finalizar muito mais (79 contra 50, uma diferença de 58%). O Mirassol é o segundo ataque mais produtivo, e São Bento, o segundo menos ofensivo, o que se reflete nos gols: o Mirassol tem seis, e o São Bento quatro. Mas, evidentemente, futebol não é só ataque. A principal diferença está na resistência defensiva: o ofensivo Mirassol sofreu um gol a cada 7,9 conclusões contrárias, quarto pior desempenho, e o São Bento, está com a quinta defesa mais resistente a pressões, com um gol sofrido a cada 16 conclusões contrárias. O São Bento sofreu quatro gols, um de pênalti, e o Mirassol, sete, um de pênalti. Ainda assim, há forte potencial para gol do São Bento a partir de jogada aérea porque sem contar os pênaltis, o São Bento fez três de seus quatro gols em cruzamentos, e o Mirassol sofreu em cruzamentos cinco dos seis gols.

Ferroviária x São Bernardo

 

 — Foto: Espião Estatístico

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O potencial da Ferroviária está ligado a ter o terceiro ataque mais eficaz da competição, um gol a cada 8,3 finalizações, e o São Bernardo, a segunda defesa menos resistente a pressões, com um gol sofrido a cada 7,0 conclusões, apesar de ser o segundo time que menos permite arremates aos adversários (42). Por outro lado, a Ferroviária precisará de muita determinação para proteger seu espaço aéreo, sua maior vulnerabilidade defensiva: dos oito gols sofridos, levou cinco a partir de jogadas aéreas, principalmente cruzamentos (três). O potencial do São Bernardo passa por ter feito dois de seus seis gols usando bolas altas, não chegando a ser um especialista, mas já mostrou saber se aproveitar de fragilidades aéreas como a da Ferroviária.

Guarani x Bragantino

 — Foto: Espião Estatístico

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A defesa do Bragantino precisará ficar alerta com os penais porque já sofreu dois gols assim em cinco rodadas, e o Guarani já marcou um gol dessa forma. Mas não fica só nisso: sem contar os pênaltis, o Guarani marcou quatro gols no Paulistão, três deles resultados de jogadas aéreas. Dos três gols sofridos pelo Bragantino, em dois a bola viajou pelo alto Bragantino vem sofrendo menos finalizações (52 a 61), mas a resistência é semelhante: o Bragantino sofreu um gol a cada 10,4 conclusões contrárias, e o Guarani, 10,.2, ambos com potencial para sofrer um gol por jogo. No ataque, o Guarani vem sendo mais eficaz, com um gol a cada 11,4 tentativas, sétima do estadual, e média de um gol por jogo, enquanto o Bragantino vem precisando em média de 18,8 finalizações para marcar, mas tem média de 15 finalizações por jogo. O Guarani finaliza bem menos, mas é mais eficaz.

Palmeiras x Santos

 

 — Foto: Espião Estatístico

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É de se esperar que o Palmeiras leve a campo seu histórico time multicampeão, que dispensa apresentações e é favorito contra a maioria absoluta dos adversários, enquanto o Santos sofre com um dilema: atualmente, uma equipe para ser competitiva em uma primeira divisão precisa ter no mínimo um sistema defensivo muito coeso. Com jogadores leves, o Santos luta por isso, e se tornou até aqui a quinta equipe que menos sofre finalizações. Se torcedor se importasse com trabalho defensivo, talvez tivesse mais paciência, embora o Santos esteja com uma resistência apenas mediana, com um gol sofrido a cada 11,2 conclusões contrárias, embora dois dos cinco gols sofridos tenham origem em pênaltis. No entanto, o necessário vigor defensivo está sendo buscado ao custo de virar o terceiro ataque menos produtivo do Paulistão, com 52 finalizações. Já o Palmeiras tem o terceiro ataque mais ofensivo (77 finalizações, 48% mais produtivo), mesmo poupando titulares absolutos em alguns jogos do estadual. A eficiência das duas equipes é semelhante: o Palmeiras fez um gol a cada 12,8 finalizações, e o Santos, a cada 13 tentativas. Também por não usar o time principal, o Palmeiras sofreu 71 finalizações, terceira pior marca. Se o trabalho defensivo do Santos conseguir fazer frente ao potencial palmeirense, pode se aproveitar dos espaços que a defesa palmeirense deu até a rodada passada.

Ituano x Água Santa

 

 — Foto: Espião Estatístico

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Duas equipes ineficientes no ataque contra duas defesas fechadas, entre as que menos permitem finalizações aos adversários. Deve ser isso que você verá em campo. O Água Santa sofreu apenas 56 finalizações, e o Ituano, 59, sexta e sétima marcas defensivas entre 16 participantes, “parte de cima da tabela” (de finalizações sofridas). O Ituano está com o segundo ataque mais ineficiente, um gol a cada 26,5 tentativas e média de 10,6 conclusões por jogo, outra equipe que se fecha na defesa, mas não consegue criar. O ataque do Água Santa é o quarto menos eficiente, com um gol a cada 17 tentativas e média de 13,6 chances por partida. A maior probabilidade de vitória do Ituano se deve ao fato de a resistência defensiva o Água Santa ser a segunda pior do campeonato: apesar de sofrer apenas 11,2 finalizações por jogo, leva um gol a cada 7,0 conclusões contrárias, já tendo levado oito gols e nenhum de pênalti, seis deles em trocas de passes rasteiros. O Ituano só fez dois gols, mas baixa resistência até aqui do Água Santa é uma esperança para o time de Itu, que tem a oitava resistência, com um gol sofrido a cada 11,8, média de um por jogo.

Santo André x São Paulo

 

 — Foto: Espião Estatístico

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Incômodo de lembrar, mas faz parte: o são-paulino viu algo bem parecido na rodada passada. O São Paulo é o time que mais finalizou (97 vezes, praticamente o dobro (87%) do Santo André, 52) e o que menos sofreu finalizações no Paulistão (37 contra 65 sofridas pelo Santo André, 43% menos). Só que o Santo André tem a quarta maior resistência defensiva do campeonato, com um gol sofrido a cada 16,3 conclusões contrárias, enquanto o São Paulo tem a quinta menor resistência, um gol sofrido a cada 9,3. Adivinha qual dos dois vem sendo mais eficaz no ataque? O Santo André tem o quinto ataque mais eficiente, com um gol a cada 8,7 tentativas, e o São Paulo, o quinto menos eficiente, um gol a cada 13,9 conclusões. Contra o Corinthians, o São Paulo tentou, tentou e não conseguiu, mas contra o Santo André tem potencial para fazer gol a partir de jogada aérea, já que sem contar um gol de pênalti, o São Paulo fez seis gols e em três deles a bola viajou pelo alto, e o Santo André levou dessa forma dois dos quatro gols que sofreu. Do lado do Santo André é de se esperar por jogadas rasteiras, já que sem contar dois gols de pênalti, fez três de seus quatro gols em trocas de passes, exatamente a mesma marca dos gols sofridos pelo São Paulo.

Corinthians x Botafogo-SP

 

 — Foto: Espião Estatístico

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Um jogo de eficiências, potencialmente, um confronto para testar os nervos dos torcedores. O Corinthians está com o segundo ataque mais eficaz do Paulistão, com um gol a cada 8,0 tentativas, e o Botafogo-SP com o quarto mais eficaz, um gol a cada 8,6 chances. Ambos estarão enfrentando defesas resistentes, mas a do Corinthians tem apresentado até aqui o dobro da competência, com um gol sofrido a cada 27,3 conclusões contrárias, segundo melhor desempenho, enquanto o Botafogo de Ribeirão Preto levou um gol a cada 13,4 ameaças, sexta melhor marca. Para deixar tudo mais tenso, a defesa corintiana é a segunda que mais permitiu finalizações aos adversários (82), e o Botafogo-SP, a quinta que mais fez isso (67). Contra ataques tão eficazes, a resistência defensiva das duas equipes estará à prova se permitirem tamanha produtividade mais uma vez. Mas contra o São Paulo, a estratégia corintiana deu o resultado desejado! O Tricolor agora é outro, e o Corinthians joga em casa. Há potencial para gol do Corinthians a partir de jogada aérea porque apesar de ter feito assim três de sete gols, foi em bolas altas que o Botafogo sofreu três dos quatro gols, sem contar um de pênalti.

Portuguesa x Inter de Limeira

 

 — Foto: Espião Estatístico

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Não falta emoção nos jogos da Portuguesa, com o ataque mais eficaz do campeonato, um gol a cada 7,3 tentativas, e a defesa menos resistente a pressões, um gol sofrido a cada 6,7 conclusões contrárias. Em média, a Portuguesa sofre 12 finalizações por partida e faz 8,8, o que em um dia ruim deixa as coisas difíceis, com potencial para levar dois gols e fazer um. Para piorar, a Inter de Limeira está com a terceira defesa mais resistente da competição, com um gol sofrido a cada 17,8 conclusões contrárias. Só que o ataque vem encontrando dificuldades, muitas, o mais ineficiente do campeonato, com dois gols marcados, sendo um de pênalti, um feito a cada 31 tentativas. Um jogo que foge muito pouco da aleatoriedade.

Metodologia

O modelo empregado nas análises segue uma distribuição estatística chamada Poisson Bivariada, que calcula as probabilidades de eventos (no caso, os gols de cada equipe) acontecerem dentro de um certo intervalo de tempo (o jogo), combinado com o método de Monte Carlo, que basicamente se baseia em simulações massivas para gerar resultados. O estudo foi desenvolvido a partir de dados de diversas fontes, como CBF, Globo e Footstats.

Vale ressaltar que campeonatos de pontos corridos, como o Brasileirão, são mais fáceis de prever porque a influência do acaso tende a ser diluída entre as 38 rodadas, diferente de apenas 12 rodadas da primeira fase do Paulistão. Para os primeiros jogos do ano, a tarefa é mais difícil, já que o acaso tem peso maior e não sabemos exatamente como virão os times após mudanças de elenco (e para alguns treinadores) e sem ritmo de jogo.

*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, João Guerra, Leandro Silva, Roberto Maleson, Valmir Storti e Vitória Lemos. (GE)