Todas as cidades possuem determinados e tradicionais pontos de encontro e convivência de contumazes boêmios e tradicionais figuras ligadas a vida social, cultural, jurídica e política. Na nossa querida Cidade Verde muitos foram os lugares que no passado representaram o alcandor e remanso dessas figuras saudosas e ilustres. Dentre os quais podemos citar os consagrados e históricos Bar do Bugre, Bar Pinheiro e, também, o Bar Internacional. Atualmente contamos com o agarrativo e sedutor Chopão, restaurante de culinária invejável e singular que passou agora ser então o ponto de predileção das figuras notáveis de Mato Grosso.

Contam que certo dia dois dos freqüentadores e juristas de expressivo lustro desfrutavam do caloroso convívio em animada conversa, como sempre de retórica rebuscada, quando durante aquele bate papo cheio de rica adjetivação e requinte vernacular, um deles percebeu junto à Praça 8 de abril, também conhecida como Praça do Chopão, dois rapazes com atitudes estranhas em torno de um veículo. Diante disto, interrompeu a conversa fazendo ao fiel companheiro de mesa algumas interrogações, perguntou, então, com o sempre formalismo e retórica usual “se por acaso o nobre e distinto amigo e parceiro ainda possuía um veículo automotor de coloração similar ao glorioso pálio nacional”. No que, em resposta, com esclarecimento cheio de detalhes o amigo respondeu afirmativamente, observando ainda em comentário elucidativo que a tonalidade havia sido motivo preponderante por ocasião da aquisição do veículo em virtude do acendrado ufanismo pátrio que possuía, fazendo assim com que dentre tantos outros fosse aquele o escolhido.

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Assim, diante das justificativas esclarecedoras e dando-se por satisfeito, aproveitou para formular uma nova pergunta no tocante ao mesmo veículo: “Preclaro fraterno e inigualável amigo, não querendo abusar da consideração e apreço, nem da liberdade que sabemos nos distinguir, peço vênia para mais uma vez lhe perguntar, o veículo de sua propriedade encontra-se estacionado na proximidade do logradouro público consagrado e de memorável nominação em homenagem a fundação de nossa eterna Capital?”. Novamente, em face de mais aquela pergunta, o amigo respondeu afirmativamente e, em seguida, estendeu em maiores esclarecimentos, dizendo que a praça nominada significativamente a fazer rememorar a data de que tanto nos orgulhamos e que representa uma homenagem perene do Poder Público a fundação de Cuiabá, parecia ser até mesmo um espaço ampliado daquele alcandorado recanto de caloroso convívio. Por isso mesmo, parecia servir como um estacionamento seguro e prático para que os clientes estacionassem seus veículos.

Diante de mais essa resposta, delineada com peculiares esclarecimentos até mesmo quanto a significativa e redentora nominação da praça, reiterou ao amigo mais uma pergunta, desta vez no tocante a placa do referido veículo, caso seria de identificação JGR 5719. Novamente a resposta veio positiva e recheada de entusiásticos detalhes. Explicou, então, que as letras e a numeração eram de grande significação, pois, representavam as iniciais de Juscelino, Getúlio e Rondon, três personalidades que muito admirava, e a numeração 57 referia-se a data de seu casamento com a musa de seus sonhos, bem como, o número 19 a data comemorativa do aniversário desta mesma adorada musa de sua vida.

Face a mais esta resposta emocionada e alcatifada de sutilezas e detalhes interessantes, ao contemplar a praça e não percebendo mais a presença do veículo automotor do ilustre amigo estacionado, formulou com a retórica de praxe derradeira pergunta: “o amigo de comensais e salutares bebericos autorizou que saíssem com o veículo de sua propriedade?”. Desta vez, a resposta foi negativamente e esclarecia ainda que não havia autorizado ninguém a sair com o veículo automotor estacionado a praça que bem representa a lembrança da data do feito heroico dos Bandeirantes, ou seja, da fundação da secular Cuiabá, pois, inclusive, encontrava-se com as chaves do aludido veículo. Atordoado e nervoso face a esta resposta, sem retórica alguma e rebusques vernaculares desesperadamente gritou “ ENTÃO, FURTARAM SEU CARRO!”.

 

*TEOCLES MACIEL é  advogado, escritor, compositor, ex-prefeito de Barão de Melgaço e ex-deputado estadual de Mato Grosso.