Mato Grosso tem um péssimo indicador na área de saúde. O número de médicos e de enfermeiros no estado está bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de um índice de 14,9 médicos a cada 10 mil habitantes, o mais baixo da região Centro-Oeste. Já a taxa de enfermeiros é de 15,8 a cada 10 mil, a segunda mais baixa da região. O índice recomendado pela OMS é de 50 médicos e 27 enfermeiros para cada 10 mil pessoas.

Além do baixo índice de profissionais, a população sofre com a concentração deles nos grandes centros e falta de profissionais qualificados no interior do estado.

Segundo os dados do IBGE, Mato Grosso tem ocupado o último lugar do Centro-Oeste há pelo menos últimos cinco anos. Em 2021, o índice foi de 15,7 em Goiás; 17,3 em Mato Grosso do Sul; e 28,7, o dobro, no Distrito Federal.

Apesar dessa taxa ter crescido 30% nos últimos cinco anos, o número ainda é insuficiente, principalmente no interior do Estado. O presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Adeildo Lucena, afirma que na Capital esse índice é quase o dobro e que o grande problema enfrentado hoje é justamente a concentração desses profissionais nos grandes centros e a falta de médicos qualificados no interior.

“As condições de trabalho no interior são piores, além da resolutividade dos problemas. O profissional quer resolver os problemas, quer salvar vidas, fazer bons tratamentos, mas não tem estrutura para isso. Então, na maioria dos casos, o profissional só vai para o interior como recém-formado, fica lá até conseguir juntar dinheiro e se especializar e depois vai para os grandes centros”, diz.

Por causa da desvalorização e da falta de estrutura, Adeildo afirma que os médicos, depois que se qualificam, não querem voltar para o interior do estado.

“No interior, o médico não tem estabilidade nenhuma, fica refém da política, da Prefeitura. Uma das soluções seria a criação do plano de carreira para esses profissionais, medidas que pudessem oferecer estabilidade. São formados cerca de 500 médicos por ano em Mato Grosso. Mas não adianta nada esses novos médicos, se os profissionais só se concentram nos grandes centros ou até vão para outro estado em busca de estabilidade e valorização. Todo o resto dos habitantes deixam de ser assistidos, e o interior do estado carece de bons profissionais”, explica.

A situação não é diferente entre os enfermeiros, técnicos e auxiliares de saúde. Apesar de ter crescido 49% nos últimos cinco anos, saltando de 10,6 para 15,8 enfermeiros a cada 10 mil habitantes, o índice ainda é insuficiente.

Lígia Arfeli, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren), afirma que o número pode ser adequado se analisado apenas o número absoluto, mas que o contexto muda quando se entende que o mercado não absorve todos esses profissionais.

“Hoje a realidade é que as instituições de saúde apresentam um número subdirecionado, pois contratam o mínimo necessário para o funcionamento. Além disso, os profissionais estão concentrados na grande Cuiabá. Faltam políticas feitas pelos empregadores para oferecer maior assistência aos funcionários. Através das nossas fiscalizações, vemos que isso acontece com grande frequência: existe o profissional no mercado, mas o mercado não está absorvendo. Então encaramos a falta do profissional na distribuição”, afirma.

Além disso, a presidente fala também que, apesar do aumento de unidades formadoras e, assim, profissionais formados, a qualidade de ensino diminuiu.

“Isso devido a cursos online, redução de estágios, problemas no processo de formação. Então, aumenta número de profissionais, mas isso nem sempre alcança o emprego dessas pessoas”, diz. (Com RD)